PUBLICIDADE

Agricultor orgânico já processa a produção

Geléias, vinagre, molhos, frutas desidratadas e laticínios estão disponíveis para mercado interno e exportação

Por Niza Souza
Atualização:

Há dez anos, o fruticultor paranaense Mauro Passos percebeu que precisava agregar valor à sua produção de caqui orgânico. Começou a fazer uma classificação mais rígida das frutas, para comercialização in natura. Passou a oferecer produtos com mais qualidade, principalmente no visual. Com uma seleção mais rígida, aumentou, porém, a quantidade de frutos descartados. "Chegava a ter 40% de refugo", conta. Decidiu, então, dar mais um passo na cadeia produtiva, passando não só a produzir, como a processar o caqui.   Contando apenas com mão-de-obra familiar, o primeiro produto que saiu da cozinha montada para o processamento foi o caqui desidratado. "Mas percebemos que a cozinha ficaria ociosa e aumentamos a variedade de produtos."   Além dos 4 hectares de caqui, a família passou a cultivar meio hectare de uva e meio hectare de amora no sítio, em Campina Grande do Sul (PR).   Com isso, a linha de produtos, que ganhou a marca Quina Amarela, foi incrementada com geléias, hoje o principal produto da marca, e novos sabores. "Agora estamos finalizando o processo de industrialização do vinagre de caqui", revelou Passos, durante a Biofach América Latina, que terminou na quinta-feira, em São Paulo (SP).   Os produtos orgânicos industrializados dominaram a Biofach. E chama atenção o grande números de produtores, inclusive familiares, como Passos, que processam a produção como alternativa para melhorar a renda. "O Brasil é conhecido internacionalmente como produtor de produtos primários. Temos de mudar isso. Valorizar nossa produção", defende o gestor do projeto Organics Brasil, Ming Liu.   Para o agrônomo José Pedro Santiago, do Instituto Biodinâmico (IBD), certificadora nacional de orgânicos, a verticalização - ou seja, a produção e o processamento da matéria-prima na propriedade rural - da produção orgânica é uma tendência. "Isso é bom e necessário. Além de agregar valor, o agricultor amplia mercados." Outra vantagem é que o produtor pode programar as vendas.   Passos sabe bem disso. "Colhemos as frutas, que passam por um tratamento sanitário e depois as congelamos, para ter matéria-prima o ano inteiro para produzir as geléias." E, nos últimos quatro anos, a proporção de vendas se inverteu. Hoje, 30% da produção do caqui é vendida fresca e o restante vira geléia. "A rentabilidade do processado é melhor. Para cada R$ 1 investido, ganhamos R$ 3 com a venda in natura e em torno de R$ 4 com as geléias."   Concorrência   A agrônoma Araci Kamiyama, da Associação de Agricultura Orgânica (AAO), diz que, ao contrário dos produtos convencionais, os orgânicos já começam a agregar valor no campo. "Mas é claro que compensa processar, principalmente pelo ganho de tempo de prateleira." Segundo ela, há uma tendência não só dos agricultores, mas também de grandes grupos, de entrar no ramo dos orgânicos. "O lado bom é que o consumidor terá mais opções no mercado. O lado ruim é que, talvez, a competitividade do pequeno produtor fique prejudicada."   Por isso, ela alerta que é preciso tomar alguns cuidados antes de começar a processar. "O produtor precisa ver se há mercado. E, se precisar comprar matéria-prima, procurar antes os fornecedores." Vale lembrar que, para ser considerado orgânico, a legislação exige que 95% dos ingredientes que compõem o produto sejam orgânicos e certificados.   É para não depender de fornecedores que o agricultor Fulgêncio Torres, de Porto Morretes (PR), quando decidiu produzir cachaça orgânica, há quatro anos, optou por ter sua própria plantação de cana-de-açúcar. "É uma forma de garantir o padrão de qualidade da bebida", justifica. Apesar das dificuldades na produção, Torres diz que compensa investir no produto orgânico. "É um mercado que está crescendo e estou apostando no setor."   INFORMAÇÕES: AAO, tel. (0--11) 3875-2625

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.