Você ainda não deve ter ouvido falar na Alibaba. Prepare-se para conhecer essa gigante da internet - e rápido. A empresa gerencia o maior shopping online do mundo e planeja superar as vendas globais no varejo. No ano passado, em apenas um dia na China, vendeu US$ 5,8 bilhões em produtos.
A partir de hoje, durante duas semanas, Alibaba promoverá suas ações a investidores nos Estados Unidos, Londres, Hong Kong e Cingapura. No fim do mês, a empresa pretende abrir seu capital na Bolsa de Nova York com o que seria a maior oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) da história.
Alibaba cresceu rapidamente ao construir uma mistura de Amazon e eBay para o comércio eletrônico de produtos chineses, no próprio país e fora dele. A plataforma online já possui mais compradores ativos que as duas empresas americanas combinadas.
No futuro, com o crescimento dos mercados consumidores asiáticos, analistas preveem que os sites da Alibaba vão oferecer também produtos ocidentais aos chineses e a outros compradores do continente.
A IPO que está por vir “é um alerta para o mundo de hoje”, afirma Park Seung Ho, professor da China Europe International Business School, em Xangai. O deslocamento do poder de compra para o Leste “é inevitável (...), e estou certo de que Alibaba aproveitará essa oportunidade”.
Os números da gigante chinesa são impressionantes. Especialistas avaliam a empresa em U$ 170 bilhões - acima do Facebook, da IBM e da Oracle. No ano passado, a plataforma vendeu cerca de US$ 250 bilhões em produtos, e bateu um recorde mundial: arrecadou US$ 5 bilhões em apenas um dia. Também nesse período, os bens de consumo vendidos pela Alibaba representaram 60% das entregas realizadas pelos correios chineses.
A empresa é interessante não apenas pelo tamanho, mas também por seu estilo, desenhado vigorosamente por Jack Ma, seu carismático fundador e presidente.
Ex-professor, conhecido na China como “Crazy Jack” (Jack, o louco), Ma instiga a imaginação chinesa: por um lado, empreende façanhas como vestir uma peruca loira e jaqueta de couro, maquiar-se com sombra e batom e cantar para um estádio cheio de funcionários da empresa. Por outro, encarna a figura do grande empresário de sucesso. O fato de desbancar a gigante americana eBay no mercado chinês também ajuda.
“Ele é o que há de mais próximo a um Steve Jobs chinês”, declara Warren McFarlan, professor da Escola de Administração de Harvard que estuda a Alibaba desde o início, em 1999. “Ma é uma figura genuína que inspira confiança, um ícone que alegra qualquer ambiente onde pisa.”
Steve Jobs chinês. Ma fundou a Alibaba em seu apartamento em Hangzhou, uma cidade no leste da China. A empresa nasceu como uma plataforma business-to-business (B2B na sigla em inglês, que designa o comércio de “empresa para empresa”), e rapidamente se tornou a maior empresa do tipo.
A Alibaba se transformou em um item indispensável na vida dos consumidores chineses com o lançamento da Tao Bao - cujo significado é “caça ao tesouro” em chinês -, uma plataforma pela qual pequenos fabricantes e varejistas podem vender diretamente para consumidores individuais.
Ma permite que os comerciantes acessem o site gratuitamente, enquanto o eBay cobra uma taxa.
Hoje, a Tao Bao controla 80% das vendas por comércio eletrônico na China, e sua arrecadação provem da venda de publicidade e da cobrança de taxas dos vendedores para deixar seus bens mais visíveis no sistema de busca da plataforma.
O sucesso comercial não se restringe à Alibaba e à Tao Bao: as numerosas pequenas empresas familiares que vendem seus produtos na plataforma também se beneficiaram dele, observa Porter Erisman, um americano que trabalhou para a Alibaba durante oito anos e fez um filme sobre a empresa, intitulado Crocodile in the Yangtze (Crocodilo no rio Yangtze).
“Tao Bao concentrou a energia empreendedora de um país inteiro”, afirma Erisman. “Essa plataforma tornou possível a construção de novos negócios e o desenvolvimento do comércio por meio da infraestrutura que faltava”, acrescenta ele.
Alibaba expandiu seus negócios desde então. Seu site T-Mall concentra bens de gigantes da moda como Burberry e Zara. A partir de seu sistema de pagamento, Alipay, a empresa está construindo seu braço financeiro, que oferecerá crédito a consumidores e pequenos comerciantes - serviço não realizados pelos bancos chineses.
Ameaça a empresas americanas?. A Alibaba comprou recentemente uma parte das ações do site de vendas americano 11Main. A operação pode ser um precedente da atuação da gigante chinesa no comércio varejista online dos Estados unidos, e alguns analistas de mercado acreditam que a Amazon e o eBay podem estar na mira.
Essas empresas, contudo, estão muito bem estabelecidas em seus países e “ainda há uma grande desconfiança dos americanos em relação às empresas chinesas, especialmente online”, pondera o professor Park.
Para McFarlan, a IPO da Alibaba “é uma jogada puramente chinesa. Eles não precisam se deslocar para o mercado online dos Estados Unidos porque ainda há muito potencial a ser explorado dentro do próprio país”. A gravidade joga no sentido contrário: “eles querem abocanhar empresas americanas animadas com a possibilidade de vender para os chineses pelo Tao Bao e T-Mall”, completa McFarlan.
Novos investimentos. A abertura do capital da Alibaba poderia movimentar mais que os US$ 16 bilhões arrecadados pelo Facebook em 2012, preveem analistas. O prospecto de sua IPO diz apenas que o dinheiro da venda das ações será aplicado em “objetivos gerais da empresa”, mas poderá repor o capital da empresa após dois anos de aquisições e investimentos.
Desde o início de 2013, Alibaba gastou quase US$ 10 bilhões em investimentos em produtoras de filme, mapeamento de serviços e nos maiores clubes de futebol da China, entre outros itens.
A empresa enxerga a internet móvel como o próximo boom da indústria chinesa, com 750 milhões de usuários esperados para 2017 - e pretende ganhar supremacia também nesse campo.
Novas frentes de negócios podem gerar novas oportunidades, mas a diversificação e a expansão rápida trazem também o “desafio de gerenciar bem uma empresa dessa dimensão. Alibaba não pode apenas crescer, precisa tornar-se mais robusta”, pondera Park.
Ma pretende que seu negócio permaneça ativo por 102 anos. “Alibaba é uma boa empresa”, afirma o professor Park. “Contudo, sustentará seu sucesso e crescimento no longo prazo? Há muitas questões ainda sem resposta.” Tradução de Livia Almendary