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Alta da taxa Selic em janeiro foi acertada com Dilma

Volatilidade no mercado financeiro e fragilidade dos países europeus associadas à alta de preços domésticos sobrepuseram controle da inflação à vontade política de baixar juros

Por Beatriz Abreu
Atualização:

BRASÍLIA - O controle da inflação se sobrepôs à vontade política de iniciar o mandato da presidente Dilma Rousseff com uma redução da taxa de juros. A alta volatilidade no mercado financeiro mundial e a fragilidade das contas de países europeus, associada à alta de preços domésticos e das commodities, levaram o Banco Central a confirmar as previsões do mercado de uma alta de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic, fixada na quarta-feira pelo Copom em 11,25 % ao ano. Essa alta da Selic já está considerada desde o fim do ano, antes mesmo da saída de Henrique Meirelles do comando do Banco Central. O terreno foi preparado apesar da tentativa de setores da área econômica de interferir na trajetória da taxa de juros. O aumento da Selic nesta primeira reunião do ano está "acertado e pacificado" com Dilma há muito tempo, disse uma fonte à Agência Estado. A presidente Dilma Rousseff compreendeu e ficou convencida de que este é o momento para conter a inflação. O mercado financeiro sinaliza para a alta dos preços este ano. Na pesquisa Focus, divulgada esta semana pelo Banco Central, a projeção põe o IPCA de 2011 em 5,42%. Segundo técnicos, o índice estaria embicando para a casa dos 6% porque não há indicação de uma reversão da tendência. Só uma alta da Selic poderá conter esse quadro inflacionário. Essa preocupação foi levada à Dilma Rousseff, que pediu para que Fazenda e Banco Central não retomem hábitos passados exibindo divergências em público. Dilma, como Lula, foi convencida de que o governo não pode negligenciar com a inflação. Ela tem ao seu lado, o ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, que viveu na pele a pressão por um pouquinho mais de inflação e a força do Banco Central na contramão. Palocci é considerado um anteparo às investidas em defesa de uma inflação fora do centro da meta. Por tudo isso, uma melhor coordenação de ações entre Banco Central e Ministério da Fazenda será melhor percebida no governo Dilma. Pelo menos essa é a expectativa de economistas da própria equipe econômica. A necessidade de um discurso coerente e agregador faz parte da estratégia de conter as expectativas de inflação. Guido Mantega incorporou o personagem e passou a defender a contenção de gastos. Ainda não se sabe o tamanho do contingenciamento de despesas que, segundo fontes, pode chegar a R$ 40 bilhões. O que está pesando sobre todos os ministérios é a determinação de Dilma de um "esforço sem trégua" para controlar as despesas. A intensificação do ajuste fiscal será um dos fatores para calibrar a alta da Selic este ano. Quanto maior o ajuste, menor a necessidade de alta dos juros.

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