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Alta de 2,5 pontos nos juros fará BC um dos mais conservadores do mundo, diz estrategista

Para Tony Volpon, da Nomura Securities, política monetária relativamente gradual deve ser a mais adequada ao País

Por Patricia Lara , Olívia Horta Bulla e da Agência Estado
Atualização:

O estrategista da Nomura Securities para renda fixa e câmbio na América Latina, Tony Volpon, observou que uma política monetária relativamente gradual deve ser a mais adequada para ser adotada no País. No entanto, ele observou que um aperto da magnitude de 2,25/2,50 pontos porcentuais da Selic, com altas de 0,50 ponto em cada reunião do Copom ao longo do ano, colocará o BC como um dos mais conservadores (hawkish) do mundo inteiro. "Portanto, considerar que 0,50 pp não é algo um tanto agressivo é um ponto muito fora da curva em relação ao que está acontecendo com o resto do mundo", ressaltou o estrategista em entrevista ao AE Broadcast Ao Vivo, concedida por telefone de um hotel em Los Angeles.

 

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Volpon não acredita que o Banco Central abandonou a busca do centro da meta de inflação em 2010. "Não acho que o BC abandonou a meta, mas ele, corretamente, sabe que não pode mudar o passado. Tivemos uma inflação alta por vários fatores sazonais e alguns choques exógenos de oferta, mas não faz nenhum sentido deflacionar a economia para se atingir o centro da meta deste ano", destacou. "O choque de juros seria muito violento. O BC olha para frente", destacou.

 

O estrategista da Nomura comentou que o nosso sistema de metas de inflação brasileiro trabalha com o calendário ano, o que difere da postura adotada por outros Bancos Centrais que aplicam a política de meta de inflação com um horizonte de dois anos. Por isso, o estrategista da Nomura concorda com a postura do BC de olhar 2011. "Por isso, o BC está correto em ter uma visão de mais longo prazo."

 

Em relação às mudanças na diretoria do Banco Central, Volpon acredita que o debate sobre o perfil menos conservador que teria tomado o alto escalão é fútil. "Temos um BC bastante técnico, competente, que reconhece que estamos vivendo em um momento diferente da economia brasileira. O BC tomará a decisão correta técnica. No julgamento deles, Meirelles não vê a necessidade de fazer algo agressivo. E acredito que tem boa chance de eles estarem certos. E é bem provável que quem esteja exagerando é o mercado", alertou. A curva a termo de juros embute uma alta ao redor de 3 pontos porcentuais para a taxa básica.

 

Volpon discordou de que, recentemente, teriam surgido sinais de interesse menor por ativos do Brasil, diante da ausência de investidores estrangeiros no leilão da hidrelétrica de Belo Monte e da colocação de um montante menor do que o previsto de Global bônus com vencimento em 2021. "São questões pontuais. Em relação ao Tesouro, acho que ele tinha uma visão de preço justo para o papel e a demanda não estava aí por alguma razão. Mas tudo o que temos de perspectiva dos nossos clientes da Nomura tanto no Japão como aqui nos EUA, onde estou tendo diversas reuniões com investidores, a demanda por ativos brasileiros deve continuar bastante positiva".

 

Sobre o déficit em conta corrente, Volpon acredita que esse é o resultado de um processo de importação muito forte para atender à demanda. Dados divulgados ontem mostraram uma piora nas contas externas brasileiras. O balanço de pagamentos do Brasil com o exterior apresentou um déficit na conta de transações correntes de US$ 5,067 bilhões, em março. O resultado negativo é bastante superior ao déficit de US$ 1,559 bilhão registrado em março do ano passado.

 

"Mas devemos ver um processo de ajuste de 2010 para 2011, onde, o crescimento da economia vai se desacelerar para mais perto de seu potencial e isso naturalmente vai fechar o déficit em conta corrente. Não vejo isso com grande alarde", comentou. "Num primeiro momento, o déficit abre, mas o financiamento para o Brasil é amplo, estamos sentados em reservas internacionais bastante significativas e o mercado de câmbio é livre e flutua, ajudando nesse processo de ajuste."

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