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ANÁLISE-Reserva gigante da Petrobras enfrenta desafio de custo

Por ANDREI KHALI
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Grandes desafios relacionados a custos e a questões técnicas aguardam a Petrobras no caminho para o desenvolvimento da jazida gigante de petróeo e gás de Tupi anunciada na quinta-feira, disseram geólogos e especialistas do setor nesta sexta. Eles afirmam que, antes de produzir abaixo de uma camada de sal a 6 mil metros de profundidade, a Petrobras ainda teria que coletar grandes quantidades de dados sobre o fluxo do reservatório e então provavelmente enfrentaria o triplo dos custos para um poço na comparação com perfurações em campos normais e acima do sal. O campo de Tupi, na bacia de Santos, tem reservas recuperáveis estimadas em 5 bilhões a 8 bilhões de barris, sendo 85 por cento de petróleo leve. Essa foi a maior descoberta no Brasil, que pode aumentar em 50 por cento as reservas do país. "A questão do fluxo do reservatório é importante e ainda é uma incerteza. Se o reservatório for apertado, seria necessário mais poços, poços bem caros", disse Ruaraidh Montgomery, da consultoria Wood Mackenzie, em Edimburgo. Analistas destacaram que apesar de com os preços atuais do petróleo nenhum nível de gasto parecer alto demais, uma possível queda dos preços colocaria mais pressão sobre a Petrobras para desenvolver um projeto complicado como Tupi no futuro. O professor Giuseppe Baccocoli, geólogo e entusiasta da exploração pré-sal (ultraprofunda) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirmou que o custo do projeto poderia ser multiplicado por mais de 10 em comparação com outros empreendimentos da Petrobras. "Se um poço na bacia de Campos pode custar 10 milhões de dólares, em Tupi seriam 120 milhões", disse ele. O poço teria que perfurar 2 mil metros de sedimentos e 2 mil metros de sal. "Nessa profundidade, o sal se torna uma massa plástica que se move tentando fechar o poço. Tentamos antes e sempre tivemos esse problema", disse ele. Montgomery calculou o custo de um poço pré-sal em 100 milhões a 150 milhões de dólares cada, afirmando que um poço convencional em águas profundas custaria 40 milhões a 50 milhões de dólares. Tanto Montgomery quanto Baccocoli afirmaram que o problema do sal exigiria tubos de aço de alta resistência para aguentar a pressão e a força, o que também eleva os custos. Além disso, o sal tende a distorcer a imagem sísmica. "O projeto de Tupi exige alta tecnologia, é muito complicado e caro... levou dois anos apenas para estudar como perfurar o poço exploratório", disse Baccocoli. A camada pré-sal do Brasil tem características diferentes das formações pré-sal no Golfo do México, onde as empresas perfuram essas camadas há anos. Lá, a região pré-sal é na maior parte alóctone, ou transferida de seu local de deposição, enquanto que no Brasil faz parte da formação original, disse Baccocoli. "Esse tipo de matéria mineral é nova. Existem alguns campos similares na península arábica, mas são campos bem menores. Precisamos de muito conhecimento primeiro sobre essa questão, conhecimento que ninguém no mundo tem", disse o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella. "Os custos de desenvolvimento são muito altos e faremos de tudo para reduzir os custos. Mas não vemos obstáculos insuperáveis para recuperar esse petróleo", afirmou ele em teleconferência. O custo do projeto está estimado até agora em 4 bilhões de dólares. A Petrobras quer instalar um projeto-piloto em Tupi em 2010 ou 2011, que gradualmente chegaria a uma capacidade de produção de 100 mil barris por dia. Se o piloto tiver sucesso, várias plataformas serão instaladas no campo. Analistas estimam que seriam necessárias de 4 a 10 plataformas. "É um piloto muito grande, mas é um reservatório enorme. Eles também podem levantar algum dinheiro para gerar renda para esse projeto", disse Montgomery, afirmando que a Petrobras tem bastante experiência para executar um projeto desafiador como esse. "A empresa é bastante experiente, do ponto de vista de estrutura não é nada novo. Trata-se dos poços e conclusões e sobre como fazer o reservatório fluir", disse ele. Ainda, Tupi é um desafio e uma tarefa a longo prazo porque a Petrobras não tem infra-estrutura na área. Ela planeja iniciar em breve o desenvolvimento de outros dois campos pré-sal, Caxaréu e Pirambu, na bacia de Campos. "Lá também existe o desafio pré-sal, mas a maior diferença é a infra-estrutura existente. E será útil usar como teste para Tupi", afirmou Montgomery. (Reportagem adicional de Denise Luna) REUTERS CM MTX

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