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Após aumento atípico das vendas, BAT Brasil, novo nome da Souza Cruz, prevê estabilidade em 2021

Resultado de 2020 foi favorecido pela redução da concorrência com cigarro contrabandeado, por causa das medidas de isolamento social e dos efeitos do câmbio

Por Bruno Villas Boas
Atualização:

RIO - A BAT Brasil, novo nome da fabricante Souza Cruz, prevê estabilidade nas vendas de cigarro no País neste ano, após o atípico crescimento de 10% registrado em 2020, quando as medidas de isolamento social e o câmbio reduziram a concorrência com o produto contrabandeado, que não paga impostos e costuma ser vendido por preços mais baixos.

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Presidente da BAT Brasil, o chileno Jorge Irribarra diz que a alta das vendas em 2020 foi a primeira em uma década, atingindo 40 bilhões de unidades de cigarros. O avanço foi resultado do fechamento da fronteira do Brasil com o Paraguai, porta de entrada do produto ilegal, além da paralisação de fábricas de cigarro no país vizinho e da valorização do dólar, que deixou o rival contrabandeado mais caro.

"Não houve alta do consumo, isso está bem claro. O que houve foi a retração do produto ilegal, que não paga impostos e é vendido mais barato. Mas a entrada no País está crescendo de novo, à medida que as restrições de circulação são relaxadas e existe certa normalização. O que ainda nos ajuda é o dólar, que continua alto, deixando o ilegal mais caro em reais", afirma Irribara, para quem esse quadro deve permitir estabilidade nas vendas neste ano.

Jorge Irribarra, presidente da BAT Brasil, antiga Souza Cruz Foto: BAT BRASILl/ DIVULGAÇÃO

Pesquisa do Ibope Inteligência/Ipec mostra que o produto contrabandeado respondia por 57% de todos os cigarros consumidos no País em 2019. Segundo a BAT Brasil, a participação teria recuado para 46% no auge das medidas de isolamento, em meados de 2020, mas voltou a crescer nos meses seguintes. Dados do Ibope indicam que o produto ilegal fechou o ano representando 49% dos cigarros consumidos.

O mercado formal de tabaco passou a perder espaço para o informal sobretudo a partir de 2012, quando o Brasil adotou uma política de preços mínimos para o produto: de R$ 3, com aumento de R$ 0,50 a cada ano. O produto legal representava, naquele ano, 80% do mercado. O movimento recente mostra que seria possível, sim, combater o cigarro comercializado ilegalmente, afirma Irribarra.

Além das vendas, a pandemia mudou a rotina na fábrica da BAT em Uberlândia (MG). A unidade foi acionada para abastecer os mercados da empresa na Argentina e Canadá, além de alguns países da América Central. Como o grupo teve fábricas paralisadas em alguns países, a unidade brasileira foi acionada para contribuir para a cadeia de abastecimento global.

"É comum que, em um grupo global, não exista fábrica em cada país. Temos no Brasil capacidade de exportação dentro da matriz da BAT no mundo", diz Irribarra, que comanda a companhia a partir do home office em Santiago do Chile, a cerca de 3.700 quilômetros da sede no Rio de Janeiro.

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Sobre a troca da marca centenária, anunciada no ano passado, Irribarra diz que a transformação reflete a diretriz global da British American Tabacco (BAT), grupo britânico que comprou a empresa do fundador português Albino Souza Cruz em 1914. A logomarca também foi trocada - além do nome, perdeu a tradicional folha de tabaco. O grupo adotou o slogan "A Better Tomorrow" - "Amanhã melhor", em português.

Venda ilegal de cigarros por ambulantes em São Paulo Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 15/10/2018

A mudança faz parte de reconhecer de onde a indústria vem, diz. "Nossa história está vinculada à venda de tabaco no mundo. E, agora, nosso foco está na redução do dano, que é uma tendência no mundo."

A operação brasileira concluiu internamente a transição da marca - novo site e a troca dos e-mails de milhares de funcionários. Iniciou agora a comunicação aos varejistas, como lojas de conveniência, supermercados e bancas de jornal. São mais de 200 mil pontos de vendas espalhados pelo País.

A empresa segue interessada na liberação da importação e venda dos cigarros eletrônicos no Brasil, que são proibidos desde 2009. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avalia atualmente se os dispositivos são seguros e ajudam a reduzir danos à saúde causados pelo cigarro. A decisão sobre o tema, porém, vem sendo adiada.

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