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Após reestruturação e reduzida a um terço do que foi, Vulcabrás tenta se refazer

Depois de cortar total de funcionários de 45 mil para 15 mil, fechar a maior parte das fábricas e ver a receita cair de R$ 3,7 bi para R$ 1,3 bi, empresa volta ao lucro, após 5 anos de prejuízos; fabricante de calçados se prepara para ‘reestreia’ na Bolsa

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Por Luciana Dyniewicz
Atualização:

De uma empresa com faturamento de R$ 3,5 bilhões (em valores atualizados pela inflação), 29 fábricas e 45 mil empregados para uma de R$ 1,3 bilhão de receita total, três fábricas e 15 mil funcionários. Essa foi a transformação pela qual passou, entre 2010 e 2016, a Vulcabrás, companhia que já ostentou o título de maior fabricante de calçados do País e hoje tem apenas 4% do mercado.

Após um processo pesado de reestruturação, que durou quase três anos, a companhia voltou a dar sinais positivos para o mercado. Bem menor, após cinco anos de prejuízo, a empresa conseguiu registrar lucro em 2016, e, em 2017, deverá repetir o desempenho. No primeiro semestre, a companhia, dona de marcas como Azaleia e Olympikus, teve lucro de R$ 51,6 milhões, ante R$ 200 mil no mesmo período de 2016.

No primeiro semestre, a Vulcabrás, dona de marcas como Azaleia e Olympikus, teve lucro de R$ 51,6 milhões. Foto: Estadão

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A transformação da Vulcabrás poderá alcançar seu auge no mês que vem, com a “reestreia” da companhia na Bolsa. Hoje, com apenas uma parcela muito pequena (1,79%) de suas ações negociadas na B3, os papéis praticamente não têm liquidez. Por isso, a emissão das ações, agendada para outubro, é vista como uma reestreia. A Vulcabrás também trabalha para, até lá, migrar para o Novo Mercado, segmento de mais alta governança corporativa da Bolsa, em uma estratégia para atrair investidores.

Com a operação na B3 (a Bolsa paulista), os acionistas da Vulcabrás pretendem levantar recursos para pagar dívidas e investir no parque fabril, além de recuperar parte do capital que injetaram na companhia no período de crise – segundo fontes próximas a operação, o fundador Pedro Grendene colocou cerca de R$ 450 milhões nos últimos anos. Procurada, a Vulcabrás não comentou as informações, argumentando que está em período de silêncio.

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Recursos. Os aportes da família Grendene foram uma das poucas opções de recursos disponíveis durante o período de reestruturação da empresa. Entre 2011 e 2015, diante do elevado grau de endividamento e do baixo fluxo de caixa, o crédito bancário encareceu para a companhia. Houve ainda a tentativa fracassada de venda de uma participação para o fundo Pátria Investimentos até que a Vulcabrás decidisse contratar a consultoria Galeazzi, especializada em reestruturação de empresas e famosa por realizar cortes drásticos de custos.

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Com a Galeazzi diante das operações, começaram as demissões e o fechamento de fábricas. Em dezembro de 2012, às vésperas do Natal, deu-se um dos momentos mais difíceis da história da empresa: 12 unidades fabris na Bahia tiveram suas atividades encerradas e cerca de 3 mil funcionários dispensados. As fábricas eram todas pequenas, produziam modelos de calçados não lucrativos e tinham baixo nível de produtividade. A opção foi manter as unidades grandes, concentrando as linhas de produção.

O corte radical de custos na empresa, no entanto, não foi a única justificativa para a melhora no desempenho da empresa. A crise econômica, que obrigou boa parte dos consumidores brasileiros a migrar nas suas compras para produtos mais baratos e nacionais, acabou ajudando na recuperação da companhia.

Apenas no ano passado, a importação de calçados em todo o País recuou 28,5%. No acumulado de 2017 até agosto, a retração é de 0,3%. Os tênis Olympikus, principal produto da Vulcabrás, têm preços inferiores aos importados, apesar do apelo de design e tecnologia, o que acabou favorecendo a marca.

A importação de calçados a preços competitivos, registradas no período anterior à recessão brasileira, havia sido justamente um dos fatores que haviam levado a Vulcabrás à crise.

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Posicionamento. O especialista em varejo Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail, conta que todas as nacionais, como Rainha e Topper, sofreram com a concorrência com as estrangeiras. “As brasileiras não têm condições de competir direto com o importado no segmento esportivo. Elas precisam investir em um nicho ou criar a percepção de valor ao cliente, mostrar que seus produtos têm uma qualidade ou um design superior considerando o posicionamento de preço”, diz.

Para Edson D’Aguano, também especialista em varejo, a empresa melhorou o design do Olympikus. Os sapatos Azaleia, porém, ainda não se destacam tanto entre os concorrentes, avalia.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, diz que o setor ainda se encontra em uma fase difícil e que apenas as marcas mais consolidadas, que investem em design, tem conseguindo sobreviver. “A Vulcabrás é uma das que têm tido um crescimento interessante”, acrescenta.

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