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Bernanke diz que Grécia ameaça sistema financeiro global

Em coletiva, presidente do BC americano disse ainda que uma eventual alta do juro pode ocorrer daqui a duas ou três reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto

Por Gustavo Nicoletta (Broadcast), Renato Martins e da Agência Estado
Atualização:

O presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, afirmou durante uma entrevista coletiva, nesta quarta-feira, 22, que a exposição direta dos EUA a um possível default da Grécia é "pequena", mas que o risco de contágio é significativo, caso a moratória seja declarada.

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"Se houvesse um fracasso em resolver aquela situação, ele traria ameaças para o sistema financeiro europeu, o sistema financeiro global e a unidade política europeia. Acho que os europeus entendem a importância incrível de resolver a situação grega", afirmou Bernanke durante a entrevista coletiva posterior à reunião do Comitê de Mercado Aberto do Fed. Ele acrescentou que os reguladores do sistema bancário dos EUA estão monitorando de perto a evolução da situação na Grécia.

A economia dos EUA está se recuperando num ritmo mais lento do que o previsto, segundo o presidente do Fed, mas os fatores responsáveis por essa morosidade provavelmente são temporários. "O poder de compra dos consumidores em particular foi afetado pelos preços mais altos dos alimentos e da energia e as consequências do trágico terremoto e tsunami no Japão foram associados à problemas nas redes de fornecimento mundiais", disse. Ele acrescentou que, apesar disso, os preços da gasolina estão caindo e os efeitos do desastre japonês estão se dissipando.

No entanto, Bernanke disse que cortes grandes e imediatos no Orçamento do governo dos EUA provavelmente prejudicariam a criação de empregos no país. "A maneira mais eficiente e efetiva de lidar com nossos problemas fiscais - e eu acredito que isso é extremamente importante - é adotar uma perspectiva de prazo mais longo, e não focalizar os cortes pesadamente no curto prazo", afirmou Bernanke na entrevista coletiva posterior à reunião do Comitê de Mercado Aberto do Fed.

Para Bernanke, um plano com credibilidade para reduzir déficits orçamentários futuros evitaria que os juros subissem e faria crescer a confiança. "Se focalizarmos inteiramente o curto prazo, eu não acho que essa seja a maneira correta de proceder", afirmou o presidente do Fed. Ele também disse que a economia já está vendo "freios fiscais" com os cortes de despesas adotados pelos governos estaduais e municipais e com a retirada dos programas federais de estímulo.

Segundo Bernanke, o Fed possui várias ferramentas à disposição para estimular a economia, mas que elas ainda não foram testadas. "Temos um número de formas para agir, mas nenhuma delas é livre de riscos ou custos", afirmou Bernanke. Ele disse que o Fed poderia comprar mais ativos, reduzir a taxa de juros paga aos bancos pelas reservas, apresentar um cronograma para a redução do balanço ou determinar qual será o "período prolongado" durante o qual a taxa referencial de juros permanecerá baixa. "Estaríamos preparados para adotar medidas adicionais se as condições justificassem", acrescentou. Bernanke afirmou que há "muita incerteza" em relação ao crescimento da economia dos EUA. "Um pouco de tempo para vermos o que vai acontecer seria útil na formulação das políticas monetárias", avaliou.

De acordo com ele, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) está a pelo menos duas ou três reuniões de adotar qualquer medida relacionada a um aperto monetário. "Dependendo de como a economia evolui, e a inflação e o desemprego, pode levar consideravelmente mais", disse a autoridade, acrescentando que o Fed não quer ficar preso a um cronograma fixo.

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Mercado de Treasuries 

O presidente do Fed afirmou que o banco central norte-americano não sabe quando deixará de reinvestir no mercado de Treasuries os rendimentos obtidos com os títulos que possui em seu balanço.

Quando questionado sobre o motivo de o Fed não ter divulgado um cronograma para o fim desses reinvestimentos, Bernanke disse: "isso é algo que temos na mesa, algo sobre o qual pensamos", e que a decisão de manter os rendimentos obtidos com títulos no balanço do banco central sinalizaria o primeiro passo de um afastamento das políticas monetárias acomodatícias.

(Texto atualizado às 16h54)

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