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Bio ou agroterrorismo é uma ameaça real?

Nessa questão de bio ou agroterrorismo não há necessidade de pânico da sociedade, mas de prevenção e de programas de inteligência associados a ações rápidas dos governantes. O Brasil, que está cada vez mais disputando espaços no mercado internacional, está se preparando para eventos desse tipo?

Por Agencia Estado
Atualização:

Podemos afirmar que tanto o bio como o agroterrorismo apresentam perigos e ameaças reais desencadeadas por diferentes motivos, situações ou pessoas. O bioterrorismo ou o uso intencional de agentes biológicos usados para promover instabilidades econômica, social e ambiental representa uma ameaça para qualquer sociedade. Armas biológicas de guerra, como os microrganismos ou o uso de outros produtos como venenos, entre outros, têm sido utilizadas desde os primórdios da civilização em situações de conflitos ou de conquistas entre povos.O agroterrorismo é uma das ações do bioterrorismo e está diretamente relacionado ao uso deliberado de agentes biológicos contra lavouras, animais domésticos e de criação, alimentos semi e processados. Entendem-se como agentes biológicos os organismos como insetos, bactérias, vírus, nematóides, fungos e outras pragas que podem ser utilizados com o objetivo de causar perdas e danos. Ele pode ocorrer para causar instabilidade em áreas produtoras agropecuárias ou por causa da ameaça que representa determinado produto agrícola no mercado internacional, levando algum país a perder seu papel de exportador.O surgimento em um local de um organismo indesejado, tendo sido intencional ou não a sua introdução, é extremamente problemático. Os impactos econômicos, ambientais e sociais oriundos desses fatores podem levar à instabilidade de uma nação ameaçando tanto a sua segurança como a sua soberania.A introdução, em 1840, do fungo Phytophtora infestans, que ataca a batata, assolou a Irlanda. Esse país, mais de cento e cinqüenta anos após a ocorrência do problema, ainda se recente da migração em massa de sua população para os Estados Unidos da América e outras regiões no mundo. Posteriormente, por questões sentimentais, a batata consumida pelos irlandeses foi introduzida contaminada no país migrante, também afetando grandes comunidades que viviam desse produto. Na Inglaterra, o surgimento da aftosa em 2001 levou a prejuízos superiores a US$ 12 bilhões e à morte de 6 milhões de animais para erradicar a doença. Em 2002, no sul da Califórnia, com a introdução da doença de Newcastle, três milhões de aves foram exterminadas. No Brasil, alguns exemplos podem ser citados de introdução intencional ou não de organismos, os quais, contudo, causaram grande impacto na agricultura, entre eles a ferrugem da soja, Phakopsora pachyrhizi e o bicudo do algodoeiro, Anthonomus grandis. O aumento da velocidade dos meios de transporte, da comercialização de produtos e de turismo pode facilitar a chegada de organismos em qualquer área ou local atravessando fronteiras de forma rápida e eficiente. Muitos organismos apresentam uma evolução lenta de crescimento e podem passar despercebidos por horas ou dias. É importante lembrar que os organismos que atacam plantas e animais não atuam sobre os seres humanos podendo, portanto, ser facilmente transportados junto ao corpo, em maletas ou malas.A segurança de áreas importantes de produção agrícola deve ser levada em consideração em qualquer país que depende do agronegócio. No Brasil, devem ser considerados produtos de risco a soja, as frutas, a carne e seus derivados e todos os outros itens que compõem a pauta de exportação agrícola do mercado brasileiro.Nessa questão de bio ou agroterrorismo não há necessidade de pânico da sociedade, mas de prevenção e de programas de inteligência associados a ações rápidas dos governantes. O Brasil, que está cada vez mais disputando espaços no mercado internacional, está se preparando para eventos desse tipo? por Maria Regina Vilarinho de Oliveira* * bióloga, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

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