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Blablacar: 'O custo de manter um carro vai ser cada vez mais alto'

Para Nicolas Brusson, presidente e fundador do aplicativo de caronas, as pessoas vão depender cada vez mais de serviços de compartilhamento de veículos por causa dos custos maiores

Por Filipe Serrano
Atualização:

A pressão dos governos para neutralizar as emissões de gás carbônico e o maior investimento das montadoras em novas tecnologias devem fazer o custo de comprar e manter um veículo se tornar cada vez mais alto. Essa é a avaliação do executivo francês Nicolas Brusson, presidente e um dos fundadores da startup Blablacar, dona de um aplicativo de caronas que é uma espécie de Uber das viagens de longa distância. A empresa fundada em 2006 é a startup mais valiosa da França, e acaba de atingir a marca de 100 milhões de usuários no mundo, sendo 10 milhões no Brasil

Brusson acredita que a transição energética deve tornar mais caro para o consumidor manter um carro próprio, algo que já está sendo visto hoje em razão do aumento do preço dos combustíveis. Por isso, as pessoas podem depender cada vez mais de serviços de compartilhamento, como o da Blablacar, para se locomover dentro das cidades ou entre elas. "Por causa da pressão ambiental, vai se tornar muito caro ter um carro e dirigir um carro. O custo de propriedade vai subir. Já vemos isso acontecendo hoje", disse Brusson, em entrevista ao Estadão

Nicolas Brusson, presidente e um dos fundadores da startup Blablacar. Foto: Divulgação/Blablacar

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Por causa dessas mudanças, a Blablacar está investindo para se tornar uma empresa que fornece inteligência de dados sobre os pontos de partida e de destino de passageiros, as rotas que eles tomam e também os preços que são cobrados nas viagens. Seria uma maneira de se manter competitiva num mercado em que os carros devem se tornar cada vez mais conectados, incorporando tecnologias de direção autônoma. 

"No fim do dia, ainda será preciso conectar passageiros e motoristas, otimizando como vai ser o embarque e o desembarque, para que os carros sejam compartilhados entre os usuários. É esse sistema que estamos construindo hoje", afirma o executivo. "Temos muitas informações sobre os usuários do serviço de caronas. E também temos muita inteligência sobre para onde as pessoas viajam e os preços dessas rotas."

Estratégia

Enquanto a visão do executivo não se concretiza, a empresa vem investindo para expandir o seu serviço de compra de passagens de ônibus, que já opera em alguns países e foi inaugurado há um ano no Brasil. O objetivo é que os usuários da Blablacar, que já buscam caronas no aplicativo, tenham a opção de comprar uma passagem de ônibus, se preferirem viajar dessa forma. 

No Brasil, a startup opera hoje com 106 viações de ônibus e tem a meta de chegar a 150 até o fim do ano. Ao todo, segundo a empresa, mais de 130 mil passagens foram vendidas desde o lançamento do serviço, em outubro do ano passado. A expectativa é que as vendas de passagens movimentem entre R$ 6 milhões e R$ 8 milhões em vendas por mês até o fim do ano. 

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Brusson afirma que hoje 70% das receitas da empresa têm origem em países fora da Europa Ocidental, como o Brasil, o México e a Rússia, e que a estratégia tem sido expandir o serviço de ônibus nesses mercados como uma forma de diversificar as receitas.

"O grande foco para nós em 2022 é acelerar o mercado de agregação de ônibus fora da Europa. Essencialmente o que queremos é que as pessoas pensem na Blablacar sempre que forem viajar usando o transporte rodoviário. Queremos ter o serviço mais conveniente para comprar uma passagem ou dividir uma carona", diz o presidente da Blablacar. 

Segundo ele, as vendas de passagens ainda representam uma pequena fatia do faturamento, mas a tendência é que ela cresça e se torne tão ou mais importante do que a participação das caronas. 

Origem

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Fundada em 2006, na França, a Blablacar começou oferecendo um serviço de caronas de longa distância. Na época, como não existiam smartphones nem aplicativos de transporte como o Uber, todo o serviço operava por um site acessado pelo computador. A ideia era permitir que motoristas oferecessem assentos em seus carros para fazer viagens entre duas cidades, dividindo os custos com os passageiros. A Blablacar fica com uma parte do valor. 

O executivo lembra que na época nenhum investidor acreditava no sucesso do modelo de negócio, e que os primeiros anos foram muito difíceis. "Quando começamos 15 anos atrás, ouvíamos que ninguém jamais usaria o serviço e não era um produto que as pessoas buscavam. Hoje temos 100 milhões de usuários. Não é de todo ruim ter conseguido atrair tantas pessoas em tantos países. É um sinal de que o serviço é bastante universal. Para nós, e para o time, é uma sensação de conquista e orgulho", afirma.

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