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Jovem desenvolve projeto contra a violência obstétrica

Lettycia Vidal criou a plataforma Gestar motivada pelo sofrimento de sua mãe no parto de seu irmão mais novo

Por Shagaly Ferreira
Atualização:

Em 2008, a publicitária Lettycia Vidal, então com 13 anos, aguardava a chegada do irmão mais novo. Mas a alegria deu lugar à indignação quando, após o nascimento, ela percebeu que a mãe, Fabiane, tinha sofrido atendimento violento no parto. Um procedimento equivocado ocasionou o corte de um órgão da paciente, que foi para casa com uma sonda. Lettycia ainda não sabia que havia presenciado um caso de violência obstétrica – abuso sofrido durante a gestação ou o parto.

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“Tinha 13 anos, ainda não sabia o que poderia questionar naquele ambiente. Lembro do medo de que minha mãe nunca mais saísse dali. Não passava pela minha cabeça que existia risco no parto”, diz ela, que hoje tem 26 anos. Ao saber de casos semelhantes na família, chegou a ter medo de ser mãe. “Até eu entender que existia outro caminho, achei que viveria tudo o que a minha família viveu.”

A situação despertou Lettycia para o tema. Na graduação em Publicidade, ela se concentrou nos estudos sobre atendimento humanizado (com respeito e empatia) às gestantes. E, durante um curso no México, no último ano da faculdade, a convivência com as estudantes da turma reforçou essa ideia. “O que era natural para a gente não era para elas. Entendi que naturalizamos muito a violência como ‘ossos do ofício’ de parir.”

Ao retornar ao Brasil, ela se tornou doula (assistente de parto) e idealizou, em seu trabalho de conclusão de curso, um sistema de conexão entre mulheres e profissionais para atendimento às gestantes. Nascia, em 2017, a ideia da Gestar, plataforma que levou três anos para sair do papel e teve apoio dos programas de aceleração Shell Iniciativa Jovem e B2Mamy

Lettycia reuniu mais de 200 profissionais de saúde em sua plataforma Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Mas o primeiro investimento na Gestar, de R$ 40 mil, veio da família de Lettycia e de seu próprio bolso. Negociar em um mercado predominantemente ocupado por homens tornava difícil a aposta em um negócio focado na gestação. “Eles não entendiam”, diz a empreendedora, que em 2021 foi contemplada com recursos do programa Google For Startups, o que impulsionou a plataforma.

Além de Lettycia, a Gestar tem duas sócias, Giovana Milani e Karla Fonseca, e uma equipe com sete pessoas. A plataforma reúne mais de 200 profissionais de saúde, bem-estar e cuidados materno-infantil – todas mulheres, que atendem gestantes, mães com crianças até a primeira infância e mulheres que tentam engravidar. 

Mais de cinco mil famílias já foram impactadas pela Gestar, segundo a startup. Cada consulta, entre as 20 especialidades disponíveis, tem preços a partir de R$ 80. A startup também mantém um blog sobre maternidade e cursos e grupos de apoio no WhatsApp

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Agora, segundo Lettycia, o próximo passo são os serviços para instituições de saúde. “Estamos em negociação para um projeto B2B (de empresa para empresa) focado em hospitais e maternidades. A ideia é levar suporte para que consigam se adequar a um atendimento mais respeitoso.” 

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