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Mercado vê risco de reestruturação de dívida da Usiminas e bônus despencam

Títulos de dívida da companhia mineira chegaram a ser negociados a 27% do valor de face na terça-feira; investidores já consideram a possibilidade de um pedido de recuperação judicial, uma vez que os controladores não planejam injetar capital na empresa

Foto do author Cynthia Decloedt
Foto do author Fernanda Guimarães
Por Cynthia Decloedt (Broadcast) e Fernanda Guimarães
Atualização:

Os títulos de dívida (bônus) da Usiminas negociados no exterior caíram para 27% do valor de face na terça-feira (não houve transação com o papel nesta quarta-feira, 10), o que representa uma queda de quase a metade do preço praticado há 15 dias. Embora o volume de papéis da Usiminas disponíveis no mercado e a liquidez sejam pequenos, o nível dos preços desses títulos sinaliza uma reestruturação ou calote da dívida da empresa. No dia 25 de janeiro, os papéis da Usiminas operavam em torno de 52% do valor de face. Dos US$ 400 milhões de bônus originalmente emitidos, circulam apenas US$ 180 milhões, já que em outubro de 2013 a Usiminas recomprou parte da emissão.

Um eventual pedido de recuperação judicial pela Usiminas vem, cada vez mais, sendo tratado como possibilidade, já que os controladores da siderúrgica mineira – a ítalo-argentina Ternium e a japonesa Nippon Steel – descartam injetar capital na companhia, conforme noticiou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, no fim de janeiro. Os dois maiores acionistas do grupo estão em meio à uma disputa societária que dura mais de um ano.

Usiminas já parou fornos e começou a desligar coquerias na unidade em Cubatão, baixada Santista Foto: Divulgação

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A companhia, ao mesmo tempo, enfrenta dificuldades para gerar caixa e tem poucos ativos disponíveis para vender. Os planos de desinvestimentos ocorrem desde o ano passado, mas sem sucesso. Ainda por conta da baixa demanda, a siderúrgica desativou um de seus altos-fornos em Ipatinga e outros dois na unidade de Cubatão (ex-Cosipa).

Uma análise do demonstrativo financeiro da Usiminas mostra que a siderúrgica tinha em caixa, ao fim de setembro, R$ 2,4 bilhões, o que poderia dar fôlego para a empresa atravessar esse período. O problema é que ela não tem acesso a grande parte desses recursos, já que R$ 1,3 bilhão estava na Mineração Usiminas (Musa). A sócia da Musa, a japonesa Sumitomo, seria contra a liberação do caixa ao controlador, apurou o Broadcast.

A situação econômica da siderúrgica mineira vem piorando a cada dia, segundo fontes. Esse quadro ficará ainda mais evidente na quinta-feira que vem, quando a companhia divulgará seus dados referentes ao quarto trimestre do ano. A expectativa é de que apresente um prejuízo marcado pelo ajuste contábil (“impairment”) da unidade de mineração, com os preços do minério de ferro, atualmente em torno de US$ 40 a tonelada. No terceiro trimestre, a Usiminas anunciou seu quinto prejuízo consecutivo, de R$ 1,042 bilhão, e um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado negativo em R$ 65 milhões.

Da dívida bruta, que era de R$ 8,1 bilhões ao fim de setembro, cerca de R$ 1,7 bilhão (ou 20%) vence neste ano. Desde o ano passado, no entanto, a siderúrgica vem conversando com seus credores bancários para alongar a dívida. Esse passivo está concentrado nas mãos dos três principais bancos do País (Itaú, Bradesco e Banco do Brasil), além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Japan Bank for International Cooperation (JBIC).

Também no fim do terceiro trimestre, a alavancagem da companhia estava em quase sete vezes, com uma observação em relação aos “covenants” (metas de endividamento que a companhia tem de cumprir).

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Uma fonte próxima da empresa disse que a siderúrgica tem conseguido renegociar suas dívidas com os credores bancários, mas que ainda encontra dificuldades em conseguir dinheiro novo para financiar a operação no dia a dia. A Usiminas não comentou o assunto.

Sem caixa. Sem conseguir gerar caixa, a Usiminas já colocou na pauta de reunião do seu conselho de administração a necessidade de uma injeção de capital no curto prazo, segundo fontes próximas à companhia. Sem perspectiva de entrada de novo dinheiro, um pedido de recuperação judicial já vem sendo tratado nos bastidores como uma última possibilidade. “Todos sabemos que uma recuperação judicial é o último recurso. Acredito que a Usiminas e seus controladores têm condições de negociar soluções para passar por este período difícil”, disse uma fonte em entrevista ao Broadcast no dia 27 de janeiro.

Uma segunda fonte disse à época, por outro lado, que “não há luz” em relação a um eventual acordo entre os controladores e que, com esse pano de fundo, dificilmente decidirão colocar mais capital na empresa, em especial a Ternium, que pagou R$ 36 por ação ordinária da Usiminas quando ingressou no capital da siderúrgica no fim de 2011. Nesta quarta-feira, as ações ordinárias da Usiminas encerraram o pregão valendo R$ 4,35.

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