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Caixa condicionaa apoio a clubes a folha de pagamento

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Por Murilo Rodrigues Alves
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O artilheiro isolado da Série B do Campeonato Brasileiro, Bruno Rangel, só ostenta a marca da Caixa na camisa 9 do Chapecoense porque os quase 5 mil funcionários da prefeitura de Chapecó, no oeste catarinense, recebem os salários pelo banco estatal. Para patrocinar clubes que não estão na elite do futebol brasileiro, a Caixa usou como ?moeda de troca? a folha de pagamento das administrações municipais ou estaduais.É por isso que as negociações dos dirigentes dos clubes com os executivos da Caixa incorporaram tanto parlamentares influentes em Brasília quanto prefeitos e governadores dos Estados onde estão as sedes dos times. O papel deles era negociar a administração das folhas de pagamentos com o banco.O prefeito de Chapecó, José Caramori (PSD), disse que um dos ?requisitos básicos? impostos pela Caixa nas negociações com o Chapecoense era gerir a folha de pagamento do município, que gira em torno de R$ 12,6 milhões por mês. Segundo ele, foi firmado um ?compromisso tácito? com o presidente da instituição, Jorge Hereda, de manter a parceria até julho de 2014, período de validade do patrocínio. O presidente do Chapecoense, Sandro Pallaoro, considera natural ser esse um dos critérios para escolher os clubes patrocinados. ?A parceria é de via dupla?, resumiu.AlagoasO lobby do senador Fernando Collor (PTB) para o amparo do banco estatal à Agremiação Sportiva Arapiraquense (ASA), de Alagoas, seria infrutífero se a prefeita de Arapiraca (AL), Célia Rocha, correligionária do senador, não mantivesse a administração das contas dos servidores nas mãos do banco estatal.Dois meses antes da liberação do patrocínio para o time da Série B, Célia assinou um ?convênio pioneiro? com o banco, que na prática colocou dentro da prefeitura um funcionário da Caixa, responsável por ?agilizar? programas e contratos. A folha de pagamento do Estado de Alagoas também é da Caixa.O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), bem que tentou, assim como Collor, canalizar os ?louros? da ação de marketing, pedindo publicamente, pelo Twitter, que a Caixa patrocinasse os dois principais times de Natal: ABC e América.As negociações até chegaram a um ?estágio avançado?, mas terminaram no zero a zero porque o prefeito da capital potiguar, Carlos Eduardo Alves (PDT), chegou a cogitar rescindir o contrato firmado pela administração anterior com o Banco do Brasil, mas não tinha dinheiro para pagar a multa. Sem a folha de pagamento dos servidores, o patrocínio não saiu para nenhum dos times que estão na lanterna da Série B.Em Caxias do Sul (RS), a Caixa conseguiu tirar a folha de pagamentos da prefeitura do Banrisul. A condição imprescindível, segundo o prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT), foi Hereda ter assegurado o patrocínio aos dois times da cidade. O Caxias, que está na Série C, levaria R$ 600 mil, e o Juventude, da Série D, teria R$ 400 mil. ?A parte da prefeitura, eu já fiz. Só falta agora os clubes conseguirem apresentar as certidões negativas de débito?, orgulhou-se. Pela folha de 6 mil funcionários, que soma R$ 20 milhões por mês, o prefeito conseguiu ainda R$ 10 milhões extras, além dos R$ 5 milhões acertados para as próximas duas edições da Festa da Uva.Baixa inadimplênciaOs bancos disputam as folhas de pagamentos de servidores municipais e estaduais pela atratividade de ofertar crédito consignado a uma clientela de bons pagadores. Enquanto os atrasos de mais de 90 dias chegam a 7,2% de todo o crédito oferecido para o público geral, o nível de calote do crédito com desconto na folha é de 2,8% nos empréstimos a servidores públicos e de 5,1% nas operações com trabalhadores da iniciativa privada, de acordo com dados do Banco Central.João Augusto Sales, analista de bancos da consultoria Lopes Filho & Associados, estimou que a inadimplência de servidores de prefeituras é somente um pouco superior à dos beneficiários do INSS (1,7%), a mais baixa entre todas as modalidades.?É um bom começo os bancos terem a folha de pagamento também porque a possibilidade de reter essas contas, embora os funcionários tenham a opção de fazer a portabilidade, é muito grande?, explicou. De acordo com Sales, é razoável supor que a Caixa compense os patrocínios só pelo fato de ter conseguido esse ?ativo?, que traz mais retornos do que os batimentos fiscais.A Caixa confirmou, por meio de nota, que, ?do ponto de vista negocial?, para avaliação e valoração das propostas foram considerados, dentre outros critérios, a existência da folha de pagamento do Estado ou município no banco.O Banco Central (BC) informou, em nota, que patrocínios proporcionados por instituições financeiras não é tema regulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão do qual participa.Já o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) argumentou que só pode se manifestar sobre denúncias de práticas anticompetitivas em procedimentos administrativos oficialmente instaurados. Segundo o órgão, até o momento, não foi recebida nenhuma denúncia nesse sentido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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