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Caixa tem juro maior para classe média e perde espaço para rivais privados

Participação do banco estatal no crédito imobiliário com recursos da poupança caiu de 40,43% para 22,31% no acumulado de 2018

Foto do author Aline Bronzati
Por Aline Bronzati (Broadcast) e Fernando Nakagawa
Atualização:

A Caixa Econômica Federal já pratica taxas de juros no crédito imobiliário superiores às dos concorrentes privados, o que fez com que o banco da habitação perdesse espaço nas operações com recursos da poupança, mais utilizadas pela classe média, no ano passado.

No acumulado de 2018 até novembro, a participação da instituição pública caiu de 40,43% para 22,31%, conforme dados obtidos pelo Estadão/Broadcast, como resultado de uma política mais rígida para emprestar adotada pelo banco no intuito de reforçar seus indicadores de capital.

No segmento em que concorre com pares privados, juro médio cobrado pela Caixa foi de 11,54% ao ano, ante 8,66% do Itaú, por exemplo. Foto: Clayton de Souza/Estadão

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A redução da fatia da Caixa fica ainda mais evidente considerando que o financiamento imobiliário com dinheiro da caderneta, o chamado SBPE, cresceu no ano passado. Até novembro, foram concedidos R$ 51,33 bilhões em novos financiamentos, ante R$ 39,466 bilhões de igual período do ano passado.

Enquanto o banco da habitação perdeu espaço, todos os concorrentes privados avançaram. O banco que mais ganhou mercado foi o Bradesco, cuja fatia passou de 18,21% em 2017 para 26,30%, considerando dados até novembro.

Ao tomar posse na segunda-feira, o novo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse que o foco “número 1” da instituição será atender a população de baixa renda e que a classe média terá de pagar mais para tomar recursos para a compra da casa própria no banco. “Não será juro do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), que é para quem é pobre. A classe média tem de pagar mais ou vai buscar no Santander, Bradesco, Itaú. Na Caixa, vai pagar juro maior que Minha Casa, Minha Vida, certamente, e vai ser um juro de mercado. A Caixa vai respeitar acima de tudo mercado, lei da oferta e da demanda”, afirmou.

Na terça-feira, no entanto, Guimarães negou que o banco vá aumentar os juros para a classe média.

Mais cara

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A Caixa já diferencia juros dos financiamentos imobiliários voltados às famílias mais pobres das operações direcionadas aos clientes de classe média. Dados do Banco Central mostram que o juro praticado pelo banco estatal nas linhas que concorrem com os privados – segmento conhecido como “taxas de mercado” – é o maior entre todas as instituições financeiras.

Em novembro de 2018, a Caixa cobrou juro médio de 11,54% ao ano nos financiamentos imobiliários com juros de mercado. Foi o crédito mais caro entre os nove bancos que emprestaram recursos nessa operação naquele mês. O Banco do Brasil, por exemplo, cobrou taxa de 9,86% ao ano e o Bradesco teve taxa média de 9,34%. O Itaú Unibanco foi o mais barato do mercado, com 8,66%. Conforme a série histórica do BC, a Caixa é a mais cara pelo menos desde 2015, ainda no governo Dilma Rousseff.

Nas operações para baixa renda e juros regulados ocorre exatamente o contrário. Em novembro de 2018, a Caixa cobrou juro médio de 7% ao ano, o mais baixo entre as 12 casas que atuam no segmento. Nessa operação, o BB praticou juro de 7,79%, o Bradesco cobrou 8,86% e o Itaú teve média de 9,36% – a mais alta no ranking.

Preocupação

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A despeito da polêmica em torno do patamar da taxa cobrada pela instituição pública no crédito imobiliário para a classe média, o que despertou a preocupação da concorrência foi o anúncio, também feito na segunda-feira, de que a Caixa vai vender até R$ 100 bilhões em operações de crédito imobiliário, em uma operação conhecida como securitização – em que os ativos são agrupados e convertidos em títulos que podem ser negociados no mercado de capitais. Isso aumentaria a capacidade do banco em fazer novas operações com recursos levantados por essas operações.

Líder no mercado de habitação, o banco público detém uma carteira de R$ 440,5 bilhões, conforme dados até setembro de 2018. Desse total, R$ 258,5 bilhões foram emprestados com recursos FGTS e R$ 182,0 bilhões com dinheiro oriundo da Caixa/SBPE. Esse montante garante ao banco 69,5% de participação no mercado de crédito imobiliário.

Procurada, a Caixa não quis fazer comentários.

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