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Casa dos Ventos, do ex-dono da Troller, avança com plano de chegar a 6 mil MW de geração de energia

Empresa criada por Mário Araripe quer ser líder na geração de energia renovável no Brasil, com eólicas e solares; braço de comercialização faturou R$ 1 bi no primeiro ano de atividade

Por Renée Pereira
Atualização:

Pioneira e líder no desenvolvimento de projetos eólicos desde 2007, quando foi criada pelo empresário Mário Araripe (ex-dono da Troller), a Casa dos Ventos vive uma nova fase. No ano passado, a empresa criou a própria comercializadora para vender a energia produzida em suas usinas no mercado livre. Só no primeiro ano de operação, faturou R$ 1 bilhão e negociou uma série de outros acordos. No total, a empresa tem R$ 6,4 bilhões em contratos negociados até 2025.

O bom resultado foi decorrente do início das atividades de algumas usinas da empresa, como a primeira fase do Complexo Eólico Rio do Vento (RN), de 504 megawatts (MW). Outros 900 MW devem entrar em operação neste e no próximo ano, reforçando ainda mais o caixa da companhia. 

Lucas Araripe conseguiu desenvolver programas inovadores para vender energia Foto: Edu Moraes

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“Nosso objetivo é que a empresa se torne líder em geração renovável no Brasil”, diz o diretor de Novos Negócios da companhia, Lucas Araripe, filho do fundador. Segundo ele, até 2026, a Casa dos Ventos terá cerca de 6 mil MW de capacidade instalada – ou seja, quase um Complexo do Rio Madeira em energia eólica e solar.

Apesar de ser especializada na energia dos ventos, a empresa também começou a desenvolver parques solares nos últimos anos. Cerca de 400 MW serão instalados junto das suas usinas eólicas. Os projetos híbridos são uma das apostas para aproveitar os espaços de seus parques, usar a mesma conexão para escoar a energia produzida e reduzir custos. Além dessa iniciativa, há outros projetos exclusivamente de energia solar, com capacidade de 1,6 mil MW, que devem ser concluídos até 2026. 

A empresa tem ainda um portfólio de 30,6 mil MW em projetos, que poderão virar realidade nos próximos anos. Desse total, 19,5 mil MW são de energia eólica e 11,1 mil MW, de solar. “Sempre trabalhamos para ter as melhores áreas e os melhores fatores de capacidade, seja para construirmos nossos próprios parques ou vendermos para clientes”, diz o executivo da Casa dos Ventos. 

Origem 

Nos cerca de 15 anos de existência, a Casa dos Ventos foi responsável por desenvolver um terço de todos os projetos eólicos em operação e em construção no País – resultado que ajudou a colocar o empresário Mário Araripe entre os homens mais ricos do Brasil, segundo a revista Forbes. Araripe criou a empresa de energia eólica após vender a montadora Troller para a Ford, em 2006. 

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Mário Araripe criou a Casa dos Ventos em 2007, depois de vender a Troller para a Ford Foto: Márcio Fernandes/Estadão

Com dinheiro em caixa e tempo livre, ele começou a estudar o assunto por influência do amigo e ex-colega de faculdade no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) Odilon Camargo – considerado o maior medidor de ventos do Brasil e responsável pelo Mapa Eólico do Brasil. Naquela época, falar em energia eólica soava quase como poesia. A fonte não tinha competitividade nem interesse por parte do governo, que apostava nas grandes hidrelétricas.

A virada ocorreu em 2009, com o primeiro leilão de energia eólica e a surpreendente competitividade da fonte. Nessa altura, a Casa dos Ventos, embora recém criada, já começava a se posicionar no mercado, com alguns projetos em desenvolvimento. Um deles foi um investimento em parceria com a estatal Chesf, em 2010. Dois anos depois, conseguiu vender, sozinha, cerca de 600 MW de parques eólicos em leilão do governo.

Nesse tempo todo, uma das maiores características da empresa de Araripe foi se diversificar e buscar novos negócios. Soube aproveitar o momento de ser apenas desenvolvedora de projetos para terceiros, depois de virar investidora e agora de lucrar com a venda da energia no mercado livre.

Lucas Araripe, filho do fundador, é um dos responsáveis por essas novas facetas da Casa dos Ventos. Responsável por novos negócios, ele conseguiu desenvolver nos últimos anos um programa com grandes companhias para a autoprodução de energia. A empresa era responsável por desenvolver, construir e operar um determinado parque para um cliente específico, que ao fim da obra pode comprar uma participação no projeto. Esse programa incluiu gigantes como Anglo American, Vale, Tivit, Vulcabrás e Honda.

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Agora, diz Lucas Araripe, o plano é tentar alcançar empresas menores. “Temos desenhado algumas estratégias para alcançar clientes médios, sobretudo na Região Nordeste.” O mercado tem grande potencial, especialmente num momento em que há uma escalada do preço da eletricidade no País ao mesmo tempo em que crescem as pressões por iniciativas mais sustentáveis no mundo.

Questionado sobre a possibilidade de a empresa abrir capital na Bolsa, Araripe afirma que esse momento ainda não chegou. A desenvolvedora de projetos consegue levantar os recursos para a empresa investir em novas operações. E os financiamentos têm sido feitos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco do Nordeste, além de operações no mercado de capitais. “Estamos num processo de crescimento em que conseguimos gerar valor, com riscos reduzidos”, diz Araripe.

A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, diz que, no médio e longo prazo, como o mercado será cada vez mais livre, a tendência é que desenvolvedores e geradores criem seus braços de comercialização, a exemplo do que ocorreu com a Casa dos Ventos. 

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“É uma estratégia adequada uma vez que as empresas criam suas equipes especializadas para vender energia, buscar mecanismos de hedge e desenhar contratos customizados para os clientes, numa espécie de alfaiataria de contratos.” Ela afirma que em 2018 e 2019, 75% da energia comercializada ocorreu no mercado livre.

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