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Censo agropecuário de 2006: vôo atrasado ou cancelado?

O Brasil é grande perdedor porque, sem as informações do Censo, os responsáveis pelo monitoramento das políticas públicas e pela formulação de novas políticas tomarão decisões desinformadas. Como o governo vai avaliar os programas de crédito, a taxa de juro fixa, como são os casos do Moderfrota, Moderinfra, P

Por Agencia Estado
Atualização:

Quantos bilhões uma decisão errada de governo custa para um país do tamanho do Brasil? E quantos bilhões uma decisão acertada vale? A verdade é que quem gosta de cogitar ou de armar raciocínios complexos sobre ocorrências futuras deve estar muito alegre com a notícia de que o governo não incluiu R$ 50 milhões na proposta de orçamento de 2005, para realização do Censo Agropecuário de 2006. Esse seria o recurso necessário para realizar as licitações, treinar pesquisadores e tomar outras providências preliminares à coleta de dados pelo IBGE. Por que muitos e mais ainda os países concorrentes de nossa agricultura estão alegres? Simples, porque não ocorrerá o confronto com dados, que podem desmentir as previsões feitas. Assim dormirá tranqüilo quem aposta no sucesso da agricultura familiar, quem diz que os assentados da reforma agrária decolaram e quem afirma que agricultura comercial exportadora enriquece os produtores, em conjunto com a agroindústria e os consumidores. As previsões não podem ser desmentidas por estatísticas incômodas que têm a última palavra. Mas, quem ri é também um perdedor: como demonstrará aos céticos que os programas que comanda são um sucesso? Ora, os céticos não se dobram ante uma retórica vazia de evidências ou baseada em dados envelhecidos.Todos somos perdedores com a infeliz idéia de atrasar o vôo do censo agropecuário de 2006. Pior ainda será cancelá-lo. Pior, inclusive, para o governo porque não terá dados para checar o acerto dos rumos traçados e reformulá-los. O PIB será calculado em bases movediças. O efeito da modernização da agricultura na geração de empregos nos campos, distribuição de renda e pobreza rural não poderá ser medido, e, por isto, a desinformação alimentará a retórica doentia e improdutiva. O fisco não terá bom fundamento para estimar a evasão de impostos e, assim, planejar uma política tributária mais justa e eficiente.O Brasil é grande perdedor porque, sem as informações do Censo, os responsáveis pelo monitoramento das políticas públicas e pela formulação de novas políticas tomarão decisões desinformadas. Como o governo vai avaliar os programas de crédito, a taxa de juro fixa, como são os casos do Moderfrota, Moderinfra, Profruta, Propflora e outros? Além disto, mecanismos privados de crédito estão se tornando importantes ,concomitantemente ao crescimento dos contratos de futuros na BM&F - Bolsa de Mercadoria e Futuro. Como conhecer seus efeitos?Quantos milhões de reais uma decisão errada custa? Algumas têm custo na casa dos bilhões. E quanto vale uma decisão acertada: certamente, vale alguns bilhões. Pois, deixar de realizar o Censo na data prevista leva a uma perda bilionária: perde-se pelo erro e deixa-se de ganhar pelo acerto. Como poderá diminuir o risco Brasil, se deixamos de realizar um censo na data certa? A bem da verdade, o que mais poderiam desejar os países concorrentes do Brasil? Todos que conhecem um pouco mais de planejamento, de mercado, de comercio internacional perguntam, entre tristes e assustados: quem será o responsável pelo cancelamento do censo agropecuário de 2006? Certamente, não contaram toda verdade ao presidente Lula, que anda entusiasmadíssimo com a performance do agronegócio brasileiro. por Antônio Salazar P. Brandão e Eliseu Alves* * Antônio Salazar Brandão é presidente da Sociedade Brasileira de Economia Rural e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Eliseu Alves é pesquisador da Embrapa, e ex-presidente da Embrapa e da Codevasf.

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