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Com prejuízo recorde e dívida em alta, Gol busca saídas para sobreviver à crise

Companhia contratou duas consultorias financeiras para encontrar solução que traga liquidez à empresa e reduza seu grau de alavancagem financeira, hoje em 12,7 vezes sua capacidade de geração de caixa; empresa vai cortar oferta e voar com 20 aviões a menos

Por Marina Gazzoni
Atualização:
Paulo Kakinoff, presidente da companhia,considerou o aumento do índice de endividamento da Gol o número mais grave do balanço de 2015 Foto: Márcio Fernandes/ Estadão

Pressionada pelo forte aumento do seu endividamento, a Gol reconheceu que precisa de uma reestruturação financeira para garantir sua sobrevivência no médio e longo prazo. O presidente da companhia aérea, Paulo Kakinoff, disse que o aumento dos índices de alavancagem financeira da empresa, atualmente em 12 vezes o seu potencial de geração de caixa, mais que o dobro do registrado há um ano, foi o destaque negativo do balanço de 2015, que mostrou prejuízo líquido recorde de R$ 4,3 bilhões.

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Os índices de liquidez da empresa pioraram substancialmente no ano passado pela correção da sua dívida em dólar e pela queima de caixa. Com a recessão, a empresa perdeu cerca de R$ 300 milhões em vendas, ao mesmo tempo em que teve um aumento de custos da ordem de R$ 400 milhões, provocado especialmente pela valorização do dólar. Essa equação fez com que a Gol revertesse uma tendência de recuperação de margens e voltasse a ter um resultado operacional negativo (de R$ 184 milhões em 2015) após dois anos de lucro.

“Se nada fosse feito, a inércia da companhia, como os próprios números dizem, consumiria a nossa liquidez. No curto prazo, temos um colchão de liquidez e a companhia não corre nenhum risco de insolvência. Agora, quando você olha no médio e longo prazo, é evidente que a atual estrutura de capital tem de ser revisada e é nisso que estamos trabalhando”, afirmou ontem o presidente da Gol, Paulo Kakinoff.

A Gol contratou nos últimos dias duas consultorias financeiras – a PJT Partners e a SkyWorks Capital, a última especializada em contratos de leasing de aeronaves – para encontrar soluções que aumentem a liquidez da empresa. “Hoje estamos adimplentes com nossas obrigações. Mas, olhando para frente, para o cenário do Brasil, ou seja, de um novo patamar de câmbio e crescimento inexistente, nós achamos por bem chamar assessores para nos ajudar a avaliar qual seria a estrutura de capital adequada”, afirmou Edmar Lopes Neto, vice-presidente financeiro da Gol. Ele disse ainda que a reestruturação financeira da empresa será feita ainda em 2016, mas que as ações necessárias ainda não estão definidas.

'Se nada fosse feito, a inércia da companhia, como os próprios números dizem, consumiria a nossa liquidez. No curto prazo, temos um colchão de liquidez e a companhia não corre nenhum risco de insolvência. Agora, quando você olha no médio e longo prazo, é evidente que a atual estrutura de capital tem de ser revisada e é nisso que estamos trabalhando.” Paulo Kakinoff, PRESIDENTE DA GOL

Retração. Enquanto busca soluções para aumentar sua liquidez, a Gol vai encolher. A empresa prevê cortar até 18% dos seus voos, deixar de voar para oito destinos e retirar 20 aviões de sua frota em 2016. A Gol encerrou 2015 com 144 aviões e deveria receber mais 15 da Boeing entre 2016 e 2017. A companhia, no entanto, reduziu o volume de entregas previstas no período para apenas uma unidade, vai devolver outras cinco que são arrendadas e ainda “alugar” mais nove para empresas estrangeiras.

Além da Gol, a Latam anunciou no fim do ano passado uma redução de 13 aviões de sua frota e a Azul decidiu transferir 17 aviões para a companhia portuguesa TAP este ano. A Avianca não deverá devolver aviões, mas poderá postergar entregas. “O momento é muito grave. O setor está encolhendo e não se recupera antes do segundo semestre de 2017”, disse o presidente da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz.

“Hoje estamos adimplentes com nossas obrigações. Mas, olhando para frente, para o cenário do Brasil, nós achamos por bem chamar assessores para nos ajudar a avaliar qual seria a estrutura de capital adequada.” Edmar Lopes Neto, VICE-PRESIDENTE FINANCEIRO DA GOL

O enxugamento da oferta de voos é bem visto pelos analistas do setor. “Os fundamentos do setor aéreo brasileiro estão mostrando uma recuperação gradual, com a Gol, a Latam e a Azul planejando reduzir a capacidade em voos domésticos. (...) Esse cenário, combinado com a decisão da Gol de otimizar o tamanho da sua frota, pode conduzir um aumento de margens operacionais”, disseram os analistas do Bradesco BBI, em relatório, ontem.

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