PUBLICIDADE

Com reserva gigante, Brasil vislumbra outro patamar em petróleo

Por DENISE LUNA E ANDREI KHALI
Atualização:

A descoberta da maior reserva de petróleo e gás do país, e a perspectiva de que muito mais possa vir, fez com que o Brasil vislumbrasse outro patamar no mercado mundial de energia. A notícia fez as ações da Petrobras subirem quase 15 por cento e levou o governo a retirar áreas de um leilão marcado para o fim do mês. Análises concluídas pela Petrobras confirmaram que existe uma grande faixa de 800 quilômetros, que se estende do litoral do Espírito Santo ao de Santa Catarina, potencialmente rica em petróleo e gás. Perfurações em apenas uma pequena parte dessa faixa, o campo de Tupi, resultaram na descoberta de uma reserva que pode atingir 8 bilhões de barris de petróleo, o que significaria um aumento de aproximadamente 50 por cento nas reservas totais do país. "O Brasil está hoje em 17o lugar no ranking de países com maiores reservas de petróleo. Com a nova descoberta podemos subir para um lugar entre 8o ou 9o", afirmou o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. "E é um bloco apenas, de uma pequena parcela da área", acrescentou, indicando que a continuação da avaliação da faixa de 800 quilômetros, chamada de pré-sal, poderá resultar em mais decobertas sobre as quais nem Gabrielli arrisca opinar: "Se vocês me perguntarem um número, eu vou dizer que eu não sei". As informações do potencial de petróleo dessa nova área causaram um alvoroço no governo. Uma reunião extraordinária do Conselho Nacional de Política Energética foi convocada e levou à sede da Petrobras, no Rio, vários ministro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após o encontro, que durou cinco horas, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou que as novas informações transformariam o Brasil em país exportador de petróleo. "Podemos ir para um patamar onde estão Arábia Saudita e Venezuela", disse, acrescentando que o governo estava retirando 41 blocos do próximo leilão de áreas de exploração de petróleo e gás, todos eles de alto potencial de produção e situados na mesma faixa ultraprofunda do campo de Tupi. O leilão está marcado para o fim do mês e já contava com a inscrição de mais de 60 empresas, grande parte estrangeiras, atraídas pelos comentários que já circulavam no mercado sobre o potencial das áreas que seriam ofertadas. AÇÕES DECOLAM; CUSTO DE EXPLORAÇÃO É DESAFIO As ações da Petrobras registraram fortes altas, tanto na Bovespa como na bolsa de valores de Nova York. Na bolsa paulista, as preferenciais subiram 14,12 por cento, para 80,17 reais. Foi a maior alta desde janeiro de 1999, segundo levantamento da consultoria Economática. Isso levou o valor de mercado da estatal a 385 bilhões de reais. As ADRs da empresa em Nova York subiram 25 por cento. As empresas parceiras da estatal no campo de Tupi, BG Group e Galp, também registraram forte procura por seus papéis nas bolsas onde são negociadas. A BG Group, que tem 25 por cento de participação no campo, subiu 9,7 por cento, enquanto a Galp, que tem 10 por cento no consórcio, teve alta de 13,7 por cento. Produzir petróleo e gás em áreas ultra-profundas não será o maior problema para a Petrobras, na avaliação do geólogo e professor da Coppe-UFRJ, Giuseppe Baccocoli, ex-funcionário da empresa e um dos primeiros entusiastas das pesquisas na chamada camada pré-sal. O desafio, segundo ele, será reduzir o custo dos projetos, que pode ser multiplicado por 10 no caso de Tupi. "Estamos falando de profundidades de 6 mil metros, com dificuldades cada vez maiores. Se um poço em Campos custa 10 milhões de dólares para ser furado, em Tupi custará 120 milhões de dólares", afirmou. Ele explicou que o petróleo está escondido por uma faixa de 2 mil metros de água, 2 mil metros de sedimentos e 2 mil metros de sal. "A essa profundidade, o sal se torna uma massa plástica que se move no sentido de fechar o poço. Já tentamos antes e sempre tínhamos esse problema," explicou, afirmando que serão necessários tubos de aço "com uma dureza muito acima do normal." (Texto de Marcelo Teixeira)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.