A popularização do trabalho remoto na pandemia impulsionou o mercado de computadores no Brasil, levando a um aumento de 34,9% em 2021, segundo estimativa da consultoria americana IDC. Nesse cenário, a curitibana Positivo Tecnologia viu seus negócios atingirem um novo patamar, com as vendas crescendo 81,6% de janeiro a setembro do ano passado, período em que sua receita em vendas ao consumidor atingiu R$ 1,5 bilhão. Mesmo assim, a empresa decidiu buscar proteção contra as variações do varejo, com contratos com o poder público.
Isso por causa da volatilidade do varejo. Para 2022, a IDC prevê uma queda de 2,6% nas vendas ao consumidor. Para se ver livre dessa forte flutuação, a fabricante conquistou dois acordos de fabricação de urnas eletrônicas para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Após vencer concorrentes em disputa similar em 2020, com oferta de R$ 800 milhões, a Positivo foi a vencedora e a única participante da licitação do TSE no ano passado. Só com esses acordos, a empresa, que faturava R$ 1,9 bilhão em 2019, garantiu um contrato de R$ 2 bilhões.
Segundo o TSE, a proposta foi acolhida no fim de 2021 devido ao atual cenário de crise mundial de falta de insumos eletrônicos. De janeiro a setembro do ano passado, a área de vendas para o governo da Positivo teve receita de R$ 761 milhões, valor que representa um salto de 122% na comparação anual e supera um quarto do faturamento total da companhia (R$ 2,7 bilhões). Conforme os pedidos do TSE forem entregues, essa fatia tende a aumentar nos próximos trimestres.
Acordos
Além de produtos para o governo, a empresa também diversifica produtos ao consumidor e faz alianças internacionais. Itens para a internet das coisas, celulares da asiática Infinix e notebooks das marcas Vaio e Compaq são fabricados e vendidos pela companhia brasileira.
Para o segmento corporativo, a aposta é no aluguel de computadores e nas máquinas de pagamento com o sistema operacional Android, usado em celulares. Em outubro, a fintech Stone fechou um acordo de fornecimento de terminais de pagamento com a companhia, após o fim de um acordo de exclusividade de cinco anos com a Cielo.
“Estamos colhendo os frutos de um plano de diversificação nos negócios, criado em 2017, que não depende de um único setor. Conseguimos crescer onde precisarmos e não crescer tanto em outras áreas, conforme o mercado”, afirma Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Tecnologia desde a sua criação, em 1989.
Para Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa da IDC Brasil, o segmento de PCs estava em uma fase de estabilidade ou retração até o início da pandemia. “O mercado de PCs é bastante maduro. Não havia nenhuma grande tendência de alta desse mercado de 2018 a 2023”, afirma. Com a boa fase nos negócios, a Positivo Tecnologia passou a chamar a atenção de investidores. Com isso, a companhia ingressou neste mês para a “primeira divisão” da B3 – o índice Ibovespa.
Segundo Bernardo Guttman, analista de tecnologia, mídia e telecomunicações da XP Investimentos, a Positivo está barata na Bolsa e tem uma oferta ampla de produtos para o varejo. Fora isso, a vitória na segunda licitação seguida de urnas eletrônicas indica que a empresa tem chances de transformar uma receita pontual em recorrente. “Nem tudo são flores. A companhia está muito exposta ao dólar e a uma eventual deterioração do varejo, caso o cenário macroeconômico afete as compras”, diz.