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Conselho da Petrobras aprovou em fevereiro busca de novas reservas; Graça defende excedente do pré-sal

Por LEONARDO GOY E MARTA NOGUEIRA
Atualização:

A Petrobras afirmou nesta sexta-feira que seu Conselho de Administração autorizou, em fevereiro, a diretoria a buscar novas reservas de petróleo e convocou analistas para tentar amenizar o mal estar gerado pela escolha da estatal para ficar com o óleo excedente da cessão onerosa, com antecipação de pagamentos. "Na reunião do Conselho de fevereiro houve aprovação para que a empresa buscasse novas fontes para explorar petróleo e gás, no plano estratégico até 2030", disse a jornalistas pela manhã a ministra do Planejamento e conselheira da estatal, Miriam Belchior. A declaração da ministra foi dada após o conselheiro Silvio Sinedino, que representa os funcionários no Conselho da empresa, ter afirmado na véspera que considerava recorrer à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por não ter sido informado sobre um acordo da Petrobras com a União para produção de petróleo excedente em quatro áreas do pré-sal. No começo desta semana, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) escolheu a Petrobras para extrair, sem licitação e agora pelo regime de partilha, um volume excedente estimado de 9,8 bilhões a 15,2 bilhões de barris de petróleo na cessão onerosa. Para ter direito a explorar o óleo excedente das áreas do pré-sal de Búzios, Entorno de Iara, Florim e Nordeste de Tupi, a estatal terá que desembolsar neste ano um bônus de assinatura de 2 bilhões de reais, além de fazer um pagamento antecipado estimado pelo governo em 13 bilhões de reais de 2015 a 2018, antes do início da extração do petróleo. O representante dos funcionários no Conselho da Petrobras disse não ser contra "a compra do petróleo em si", mas que não tinha certeza se os termos do negócio eram bons para a companhia, indicando que os conselheiros deveriam conhecer os detalhes do acordo antes que o contrato fosse selado. Investidores reagiram mal à decisão do CNPE e as ações da Petrobras caíram, devido à pressão sobre o caixa da empresa, que já enfrenta pesado endividamento e possui um ambicioso plano de investimentos. Analistas citaram ainda o entendimento de que foi uma nova demonstração de intervenção governamental na companhia. Em uma iniciativa para aplacar as críticas ao negócio, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, recebeu analistas na sede da empresa no Rio nesta tarde. Em apresentação, Graça Foster, como prefere ser chamada, disse que a companhia estima uma economia de custos com descobertas de 18 bilhões de dólares entre 2015 e 2021 pela contratação direta do óleo excedente no pré-sal. Isso porque esses volumes de petróleo não precisarão da fase de exploração. A estatal prevê ainda que seriam necessários investimentos de cerca de 26 bilhões de dólares para adquirir áreas, descobrir e delimitar potencial do óleo excedente, segundo apresentação encaminhada à CVM. A analistas, Graça disse que o óleo excedente da cessão onerosa assegura reposição de reservas e sustentabilidade da produção de 2020 a 2030, com maior rentabilidade. A Petrobras elevará investimentos a partir de 2019 para garantir o início da produção de óleo excedente da cessão onerosa em 2021, e não está contemplada emissão de novas capitalização da empresa após o novo acordo no pré-sal com a União. Estão previstos investimentos adicionais relacionados ao óleo excedente de 1,2 bilhão de dólares de 2014 a 2018; de 9,7 bilhões de dólares em 2019 e 2020; e de 39,8 bilhões de dólares de 2021 a 2030, segundo a empresa. Outro sinal dado por Graça é que a adição de reservas ao portfólio da Petrobras pode permitir que a companhia seja mais seletiva na aquisição de novas áreas em futuros leilões de blocos de exploração e produção de petróleo. Em relatório enviado a clientes sobre o encontro com Graça, o Itaú BBA manteve o ceticismo com a operação. "Supor que este foi um bom negócio para a Petrobras... requer muito mais do que acreditar que a diretoria está genuinamente tentando fazer um bom trabalho a partir de um ponto de vista técnico. Isso significa assumir que a contraparte de negociação (governo) será tão capaz e racional, e isso é outra história muito diferente." Nesta sexta, a agência de classificação de risco Fitch afirmou que o novo contrato do pré-sal deverá elevar a necessidade de captação de recursos pela estatal no mercado a médio prazo. No mesmo tom, a Moody's disse que o acordo coloca pressão adicional na Petrobras "sobre seu perfil de crédito em um momento de alavancagem já elevada". As ações preferenciais da Petrobras acumularam queda de 6 por cento desde a decisão do CNPE. A exploração do volume excedente da cessão onerosa vai ocorrer dentro do modelo de partilha de produção que, por lei, prevê que a União receba uma parte do petróleo extraído, e não valores pré-fixados. As áreas da cessão onerosa, do contrato inicial, começam a produzir em 2016. Já o petróleo excedente, alvo do contrato desta semana, começará a ser produzido entre 2020 e 2021, segundo projeções do governo.

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