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Crise argentina faz Brasil voltar a cumprir acordo de exportação de veículos ao país

Após exceder contrato firmado com país vizinho, Brasil voltou a respeitar regras tanto por causa da alta nas vendas internas quanto pelos problemas econômicos argentinos

Por André Ítalo Rocha
Atualização:
Negociação de um novo acordo em automóveis deve ocorrer em 2019 Foto: José Patrício Estadão

O acordo comercial entre Brasil e Argentina para veículos, que impõe limites de exportação e importação, voltou a ser respeitado pelas montadoras nos últimos meses, depois que o país vizinho entrou em uma nova crise econômica e passou a demandar menos carros brasileiros. O novo cenário facilita as negociações para renovação do acordo, uma vez que a situação anterior, de excesso, incomodava o governo argentino.

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Pelo acordo em vigor entre os dois países, para cada US$ 1 em veículos e autopeças importados da Argentina, o Brasil pode exportar no máximo US$ 1,50 para lá livre de impostos. No entanto, durante 2016, 2017 e o primeiro semestre deste ano, o lado brasileiro excedeu esse limite. Isso ocorreu porque, enquanto o mercado argentino batia recorde e demandava mais carros, as vendas de veículos no Brasil se recuperavam lentamente. Nesse período, a relação de comércio chegou a superar a casa de US$ 2.

Desde maio, no entanto, a Argentina tem passado por um período de aceleração da inflação e depreciação da moeda, levando a taxa básica de juros do país a mais que dobrar, para cerca de 60% ao ano. As condições piores de crédito derrubaram as vendas de veículos para o consumidor argentino, enquanto o mercado brasileiro passou a crescer com mais força, reequilibrando a balança.

Em cálculo que considera os volumes de exportação e importação entre maio e novembro, para cada US$ 1 importado da Argentina, o Brasil exportou US$ 1,14 para o país. 

Limites. Com o limite novamente respeitado, as discussões para renovação do acordo terão uma barreira a menos. Antes, durante o período de excesso, a Argentina, incomodada, chegou a notificar as montadoras responsáveis, exigindo garantias de que, ao fim da vigência do documento, as multas cabíveis seriam pagas.

Essa atitude do governo argentino contribuiu para que as discussões para renovação do acordo fossem antecipadas para 2018, embora a vigência do contrato atual só acabe em junho de 2020. As conversas, porém, foram interrompidas após a vitória de Jair Bolsonaro para presidente. Com a transição de governo, a negociação foi suspensa e, segundo representantes das montadoras, só deve ser retomada em 2019.

Por enquanto, a proposta da Argentina é de ampliar o acordo por mais três anos. O governo brasileiro concorda, desde que o limite da relação de comércio seja ampliado para ao menos US$ 1,70. O governo argentino resiste em elevar o índice porque não quer aumentar o déficit de suas contas. De qualquer forma, está afastada a possibilidade de haver livre comércio, desejo antigo das montadoras.

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Para 2019, não há perigo de a relação de comércio voltar a ser desrespeitada. Isso porque as empresas apostam em novo recuo para o mercado argentino, de 20% a 25%, e mais um ano de expansão para o Brasil, de 10% a 13%. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas na Argentina só devem começar a se recuperar no segundo semestre de 2019, por causa do acordo do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Montadoras veem alta. A esperada aceleração do PIB e a necessidade de renovação de frota farão com que as vendas de veículos continuem crescendo no ano que vem. Enquanto 2018 caminha para terminar com alta de 15%, o crescimento do próximo ano, segundo as empresas, deve ficar entre 8% e 13%. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a economia deve crescer de 2,5% a 3% em 2019. “Se com um crescimento de 1,3% em 2018 nós vamos fechar o ano com alta nas vendas, a expectativa é de mais um ano positivo (em 2019)”, afirmou o presidente da Anfavea, Antonio Megale. Em relação à renovação de frota, o executivo lembra que, em 2012, o mercado de veículos chegou ao recorde de 3,8 milhões de unidades. Como boa parte dos carros que circulam hoje são dessa época, a Anfavea aposta na “demanda para reposição”. 

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