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Cuba recorre à ONU contra a produção de etanol

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Por Redação
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São Paulo, 15 - O governo de Cuba tomou uma iniciativa que pode frear a ofensiva diplomática do Brasil de promover o etanol no mundo. Nesta semana, Havana propôs que a Organização das Nações Unidas (ONU) comece um estudo para avaliar até que ponto o etanol, tanto de milho como de cana-de-açúcar, afetam a produção de alimentos no mundo. Havana também sugeriu à ONU a criação de um comitê que avalie o trabalho escravo no setor da cana. Os cubanos já têm um aliado: o relator da ONU para o direito à alimentação, o suíço Jean Ziegler. "Entendo o governo de Luiz Inácio Lula da Silva de que precisa de divisas para pagar suas dívidas. Mas, do ponto de vista alimentar, o uso do etanol pode ser catastrófico", afirmou Ziegler, que afirma apenas esperar uma decisão formal dos governos para iniciar o estudo. Para diplomatas da ONU, o temor dos cubanos (e também dos venezuelanos) é de que o etanol leve o governo americano a ter maior influência sobre os governos da América Central. Pela iniciativa, um relatório teria de ser preparado e apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. Outra iniciativa seria criar uma comissão na Organização Internacional do Trabalho (OIT) que estude o impacto da produção do etanol para o trabalho. "Temos de nos unir para enfrentar a estratégia sinistra de dedicar alimentos para produzir combustíveis, o que condenará à morte por fome e sede milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, aumentará o preço dos alimentos, o desmatamento, a perda de biodiversidade, a contaminação das águas e o desemprego", disse o ministro do Trabalho de Cuba, Alfredo Morales Cartaya. Reação A iniciativa cubana produziu grande preocupação entre os diplomatas brasileiros. Uma reunião foi imediatamente solicitada pelo Brasil com a delegação de Cuba. O representante brasileiro foi o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. "Não podemos deixar isso passar em branco. Expliquei aos cubanos que, no Brasil, já temos o etanol há 35 anos e isso nunca implicou uma redução da área destinada à agricultura ou à falta de alimentos", afirmou Lupi. "Expliquei que nossa produção não tem semelhança com a dos americanos." Lupi ainda convidou os cubanos a fazer uma visita ao Brasil para conhecer a produção de cana. "Vou propor ao governo que façamos um plano de cooperação com os cubanos para melhorar a qualidade da cana que eles produzem. Assim, também poderão usá-la para fabricar etanol", afirmou. Na sede da ONU, Ziegler criticou a expansão da soja pela Amazônia. "A floresta está sendo destruída e o Brasil está se tornando o maior exportador de soja do mundo", afirmou. Ziegler, que já esteve no Brasil avaliando a fome, ainda chamou de "hipócritas" os governos da Europa, dos Estados Unidos e do Japão. "Esses governos dizem agora que querem lutar contra a poluição. Mas com uma alternativa que pode ser muito ruim para os países emergentes", afirmou. Segundo ele, a fome no mundo vem aumentando nos últimos anos. Passou de 842 milhões de pessoas em 2005 para 854 milhões em 2006. "Uma a cada seis pessoas passam fome. Isso em um planeta onde temos recursos para alimentar o dobro da população existente." Para Ziegler, as Metas do Milênio de redução do número de famintos pela metade até 2015 não serão atingidas. "É uma ilusão total achar que essa meta será alcançada", alertou. As informações são de O Estado de S. Paulo

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