PUBLICIDADE

Debilitada nos EUA, Ford encontra sucesso no Brasil

Por TODD BENSON
Atualização:

À primeira vista, Camaçari parece com qualquer outro lugar rural do Brasil. As moradias são precárias, as estradas estão em condições ruins e a pobreza é grande. Mas a pequena cidade também é casa de uma das mais avançadas e eficientes fábricas de veículos do mundo --uma que tornou-se o marco da notável reviravolta da Ford Motor na América do Sul. Há sete anos, a Ford no Brasil parecia muito como está atualmente nos Estados Unidos. Estava perdendo tanto dinheiro e participação de mercado que executivos na sede em Michigan consideraram encerrar todas as operações na América do Sul. Hoje, o Brasil é a maior história de sucesso da Ford, ajudando até mesmo a compensar fortes perdas na América do Norte. A Ford Brasil dobrou sua fatia no mercado para 12 por cento, registrou 15 lucros trimestrais consecutivos, e agora tenta manter o ritmo imposto por uma forte demanda por seus carros e caminhões. A maneira como a Ford reverteu um fracasso no maior mercado da América do Sul dá algumas importantes lições para a montadora, à medida que luta para levar adiante um plano "ou tudo ou nada" para voltar à rentabilidade e reconquistar mercado nos EUA. "Há vários elementos da reviravolta no Brasil que realmente funcionam como uma inspiração para as coisas que estão sendo feitas nos EUA", disse Marcos de Oliveira, presidente-executivo da Ford no Brasil e Mercosul. De fato, muitas medidas que a Ford adotou no Brasil são reproduzidas nos EUA hoje. Primeiramente, por aqui, a empresa revisou a produção ao fechar fábricas pouco eficientes e demitiu 3.600 trabalhadores, ou 46 por cento de sua força de trabalho. Nos EUA, os cortes são ainda mais profundos. A Ford planeja fechar 10 plantas até 2012 e cortou 33.600 empregos desde 2005. PROJETO AMAZÔNIA À medida que a Ford cortou custos no Brasil, também investiu muitos recursos para elaborar o design de carros de acordo com os gostos locais. O plano, chamado de Projeto Amazônia, foi parar de vender versões adaptadas de seus modelos europeus e oferecer produtos criados para o Brasil. O resultado foi o EcoSport, um utilitário esportivo para uso urbano com capacidade off-road, vendido a um preço bem menor que um veículo desse tipo nos EUA. A aposta deu certo. Desde seu lançamento em 2003, a Ford vendeu mais de 446 mil EcoSports --imensa quantidade num mercado onde apenas uma em cada oito pessoas possui carro. Talvez o mais audacioso aspecto do plano de recuperação da Ford no Brasil tenha sido sua decisão de construir uma nova e pouco custosa fábrica no Estado da Bahia, uma região empobrecida, com infra-estrutura limitada e sem histórico de produção de automóveis. O investimento de 1,9 bilhão de dólares foi diferente de tudo que a Ford havia feito antes. Em vez de trazer peças de outros lugares, a empresa pediu que 26 fornecedores instalassem lojas dentro do complexo. Ter fornecedores dentro da fábrica permitiu manter estoques de componentes em um patamar mínimo. A fábrica de Camaçari é mais enxuta e flexível do que qualquer instalação da Ford, com capacidade para produzir cinco plataformas diferentes de veículos simultaneamente na mesma linha. Há três turnos, seis dias por semana, 24 horas por dia, produzindo um veículo a cada 80 segundos, ou 912 unidades por dia. RENASCIMENTO ECONÔMICO As vendas de veículos totais no Brasil devem crescer mais de 20 por cento em 2007, atingindo nível recorde e superando todas as previsões. A Ford, cujas vendas acumularam alta de 19 por cento este ano na América do Sul, espera um crescimento de dois dígitos também em 2008. Para abastecer a demanda, a Ford investirá mais de 1 bilhão de dólares no Brasil até 2011. Parte disso será gasta na construção de novas capacidades de engenharia para continuar levando produtos atrativos ao mercado, a maioria versões mais arrojadas de modelos existentes. A Ford também planeja revelar um novíssimo carro compacto em janeiro, que será fabricado no pólo automotivo de São Bernardo, região metropolitana de São Paulo. Alguns concorrentes da Ford, entretanto, estão apresentando novos modelos em um ritmo mais rápido, deixando espaço para alguns analistas imaginarem se a empresa norte-americana não está cautelosa demais agora que a reviravolta terminou.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.