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Em novo movimento polêmico, GWI consegue destituir conselho da Gafisa

Gestora do coreano Mu Hak You, que já entrou em empresas como Marfrig e Saraiva, conseguiu na terça-feira eleger 5 dos 7 membros do conselho de administração da companhia; nos últimos meses, Mu Hak You atingiu 37% do capital da construtora

Foto do author Circe Bonatelli
Foto do author Fernando Scheller
Por Circe Bonatelli (Broadcast) e Fernando Scheller
Atualização:

Envolvida em mais uma disputa societária, a gestora de recursos GWI, do coreano Mu Hak You, conhecido pelo comportamento agressivo nas empresas em que participa, conseguiu nesta terça-feira, 25, destituir o conselho de administração da construtora Gafisa, que já foi uma das líderes do setor no País e hoje enfrenta dificuldades. Na terça, a gestora, que detém de 37% das ações, conseguiu eleger um novo conselho da construtora. Dos sete novos membros, cinco foram indicados pela GWI (incluindo o próprio Mu Hak You), enquanto a atual administração ficou com apenas dois nomes.

A construtora Gafisa reduziu lançamentos para reduzir seu endividamento. Foto: Werther Santana / Estadão

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A GWI é vista no mercado como uma espécie de investidor ativista – aquele que compra grande quantidade de ações em Bolsa com o objetivo de influenciar a administração. Companhias como Marfrig, Saraiva e Lojas Americanas já tiveram o empresário como sócio. A chegada de Mu Hak You geralmente inicia um período turbulento, que envolve troca de acusações, processos judiciais e problemas das companhias com órgãos reguladores.

Para Herbert Steinberg, presidente da consultoria Mesa Corporate, a postura da GWI é “agressiva, de ruptura”. “Na melhor das hipóteses, ele entra para fazer um turnaround (recuperação do negócio) e, na pior, o milking, ou seja, extração de recursos da companhia”, disse o especialista. “Não há preocupação em criar valor no longo prazo, e sim em sua própria estratégia de curto prazo.” Agora, porém, o dono da GWI promete “foco no acionista” (leia abaixo).

A agressividade, disse uma fonte que já lidou com o investidor coreano, não se limita ao apetite para comprar ações em Bolsa. Em reuniões em que ele está presente não raramente o interlocutor é interrompido com gritos e socos contra a mesa, contou um executivo ao Estado. Estratégias questionáveis também valem: em 2016, Mu Hak You foi filmado entrando nos escritórios dos diretores da Saraiva no fim de semana, mexendo em papéis de diretores da companhia.

O investidor teve a autorização para administrar carteiras suspensa pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por causa de operações envolvendo ações da Marfrig, em 2011, em valores acima do permitido pela legislação. A condenação, de 2017, foi confirmada na semana passada pelo órgão regulador.

A assembleia teve duração de quase cinco horas. A reunião estava agendada para começar às 10h30 na sede da Gafisa, mas teve início com quase duas horas de atraso, em meio a um clima tenso. Para a presidência da mesa foi eleito o advogado André de Almeida, do escritório Almeida Advogados, que representa a GWI. O agora ex-presidente do conselho de administração da Gafisa, Odair Senra, foi impedido de se candidatar para conduzir a assembleia por uma liminar obtida pela GWI.

Procurada, a Gafisa não quis comentar a reunião de terça-feira.

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GWI promete transparência

A Gafisa passará por uma revisão em sua governança corporativa e em seu planejamento estratégico após a reconfiguração no conselho de administração definida na assembleia geral realizada na terça-feira. 

Em breve conversa com o Estadão/Broadcast, o dono da GWI, Mu Hak You, afirmou: “Vamos ter foco nos acionistas e mais transparência na gestão.”

Executiva da GWI, Ana Maria Loureiro Recart evitou dar detalhes sobre eventuais mudanças pretendidas no dia a dia da companhia, mas disse que haverá “foco total nos resultados”. Ela acrescentou que, em breve, será convocada uma reunião do conselho eleito para alinhar as novas diretrizes da Gafisa.

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Embora a GWI não confirme, fontes próximas do assunto disseram que as mudanças consideradas para a Gafisa envolvem possível troca na diretoria, revisão na política de remuneração dos principais executivos e mudança de sede, para redução de despesas administrativas.

Oposição

Efetivada na terça-feira, a troca do conselho de administração da Gafisa enfrentou oposição interna. As consultorias de governança corporativa Glass Lewis e Institucional Shareholder Services (ISS), que assessoram investidores em tomadas de decisões, recomendaram aos acionistas que votem contra a proposta de destituição do conselho. As consultorias argumentaram que a GWI não apresentou razões para substituição do grupo. A própria direção da Gafisa publicou recentemente um informe publicitário nos jornais criticando a iniciativa da GWI.

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Relembre

Inaugurada em 1962, no Rio de Janeiro como Gomes Almeida Fernandes – GAF, a Gafisa assumiu o atual nome em 1997. Na década seguinte, teve a gestora GP e a Equity International, de Sam Zell, como sócias. Abriu o capital em 2006, adquirindo em seguida a Alphaville S/A (da qual ainda detém 30%) e a Tenda (alvo de spin off, ou separação de ativos, em 2017). Em dificuldades há pelo menos anos, a Gafisa pôs o pé no freio em lançamentos e hoje foca na redução de seu pesado endividamento. No segundo semestre, teve prejuízo de R$ 29,4 milhões, queda de 83% sobre igual período de 2017.

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