Publicidade

Empresas brasileiras buscam opções com aperto do crédito

Por ALUÍSIO ALVES
Atualização:

As empresas brasileiras já consideram alternativas, como financiamento bancário e emissão de papéis apenas no mercado doméstico, para garantir novos recursos em meio à crise global do crédito. Bem capitalizadas, as companhias estão suportando bem o enxugamento das linhas externas, mas têm contemplado diversas opções, inclusive a de simplesmente postergar novas captações até que as taxas retornem aos níveis do ano passado. As alternativas passam também pela busca de recursos em bancos de fomento ou privados internacionais da Europa e Ásia. De acordo com profissionais de bancos de investimentos, esse cenário, bem mais ameno que o enfrentado em crises anteriores, deve-se à combinação de um mercado de capitais vigoroso e da queda continuada do dólar frente ao real, o que permitiu às empresas reduzir e melhorar o perfil de endividamento, além de obter recursos para investimentos. "Agora, quem tem dívidas para rolar, está preferindo pagar ou buscar outras fontes", disse José Guilherme Lembi de Faria, diretor-executivo do BBI. A Energias do Brasil, que captou quase 1,2 bilhão de reais com uma oferta pública de ações em 2005, diz que está bem capitalizada e que não tem planos imediatos de captação. Se houver, a companhia já sabe em que porta bater. "Há financiamento de projetos de infra-estrutura que contam com o apoio do BNDES", afirmou o vice-presidente de finanças e relações com investidores da companhia, Antônio Sellare. A Vivo, maior operadora de celular do país em número de assinantes, começou a alongar o perfil de sua dívida no ano passado, por meio de uma linha de crédito de 1,5 bilhão de reais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outra de 250 milhões de reais junto ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Agora a empresa pretende buscar outra linha no banco nordestino. O montante de 250 milhões de reais é o máximo financiado por essa instituição. "A Vivo também tem uma linha já aprovada junto ao Banco Europeu de Investimento (BEI) que tem uma opção para captação em reais ou em euros", disse o diretor de relações com investidores e de aquisições, Carlos Raimar. A linha é de 250 milhões de euros. Os volumes disponíveis em caixa são de cerca de 2 bilhões de reais, montante considerado suficiente para pagar a aquisição da Telemig e as despesas previstas no ano. Segundo ele, a companhia está blindada para um possível fechamento total dos mercados, já que, além das opções na moeda local, tem contratadas linhas em stand-by de mais de 1 bilhão de reais. "É mais que a nossa necessidade em 12 meses", salientou. EMISSÕES CURTAS Segundo profissionais dos bancos, ainda existe apetite por papéis de companhias brasileiras, porém em condições mais restritas. "Há ofertas para emissões mais curtas, de até três anos", afirmou Alberto Kiraly, diretor-executivo da área de mercado de capitais do Banco Espírito Santo. Ainda assim, essas operações embutem taxas anuais de 2 a 3 pontos percentuais maiores do que no final do ano passado. Por isso, mesmo esse tipo de operação tem escasseado. O BMG, na semana passada, captou 250 milhões de dólares com prazo de dois anos. A oferta inicial era de 100 milhões de dólares. Seguiu os passos do Banco Cruzeiro do Sul, que havia dobrado para 100 milhões de dólares uma emissão com vencimento de um ano e meio, também devido ao excesso de demanda. "As companhias estão em melhores condições para não aceitarem taxas maiores, se quiserem", afirmou Alexander Ian Carpenter, chefe da área de crédito para América Latina da Moody's. Operações de prazo mais longo, explica Kiraly, só para o seleto grupo das companhias de maior porte, especialmente as que possuem o selo de baixo risco de crédito das agências internacionais de classificação. A Usiminas, que já havia vendido 400 milhões de dólares, voltou ao mercado nesta semana e obteve mais 1,3 bilhão de dólares. A Petrobras, que no começo do ano reabriu uma emissão externa e captou 750 milhões de dólares, ainda pretende captar 5 bilhões até o final do ano, mas está avaliando por qual instrumento. "Nós temos várias fontes de captação. Nosso principal objetivo é o mercado de capitais, ou seja, via emissão de bônus. Mas existem outras fontes como bancos ou equity. Vamos analisar o mercado como está se comportando", disse o presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli, explicando que o assunto não deve comprometer o plano de investimentos de 112,4 bilhões de dólares até 2012. PREFERÊNCIA PELA RENDA FIXA Dentre as companhias que estão preferindo não esperar a tempestade passar para buscar recursos novos, há uma clara preferência por fazê-lo via emissão de papéis de renda fixa, adequados ao paladar mais exigente dos investidores em tempos de incertezas. Segundo números da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o volume de emissões de debêntures este ano já chega a 32,2 bilhões de reais, o equivalente a mais de dois terços de tudo o que foi emitido no ano passado inteiro. É verdade que, desse total, 30 bilhões de reais referem-se à captação de empresas de leasing, o que não se caracteriza como uma "debênture pura". Ainda assim, os 2,2 bilhões de reais restantes são bem superiores aos 567 milhões de reais emitidos em igual período de 2007. Em notas promissórias, o total de captações subiu de 1,45 bilhão de reais no primeiro quarto do ano passado para 2,1 bilhões de reais no acumulado de 2008 até agora. Já as emissões de ações registradas totalizaram 11,5 bilhões de reais de janeiro a março de 2007. No acumulado de 2008 até a última terça-feira, o volume era de 1,66 bilhão de reais. (Reportagem adicional de Taís Fuoco, Renata Freitas e Rodrigo Gaier)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.