Publicidade

Empresas renegociam dívidas com bancos para ter fôlego no curto prazo

Com alto índice de alavancagem e geração de caixa comprometida, empresas como CSN e Petrobrás tiveram situação agravada diante de um cenário de aumento nas taxas de juros, escassez de crédito e custos maiores para manter dívidas em dólar

Foto do author Cynthia Decloedt
Foto do author Aline Bronzati
Foto do author Fernanda Guimarães
Por Cynthia Decloedt (Broadcast), Aline Bronzati (Broadcast) e Fernanda Guimarães
Atualização:

Com balanços alavancados e sofrendo os reflexos da deterioração da economia brasileira e da ausência de crédito, muitas companhias não têm outra saída a não ser renegociar suas dívidas junto aos bancos. O estresse financeiro de empresas como Petrobrás e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) se ampliou diante da disparada recente do câmbio e das taxas de juro fazendo com que mais empresas buscassem um fôlego extra, ao menos, para sua operação de curto prazo. Dois focos de risco distintos no ambiente corporativo procuram soluções junto às instituições financeiras, de acordo com um executivo de um grande banco. De um lado, estão grupos que entraram na crise muito alavancados, caso da CSN, por exemplo, enquanto, do outro, há empresas com dificuldades por conta dos desdobramentos da operação Lava Jato.

CSN tenta alongar o vencimento da dívida e ganhar tempo para vender seus ativos Foto: Fernando Soutello/Reuters

A Petrobrás anunciou na quarta-feira a troca de um passivo em dólar por reais, ou seja, de US$ 1 bilhão para R$ 4,075 bilhões, ao prazo de quase dez anos. O empréstimo anterior, contratado há cerca de dois anos, era para exportação ao etanol e trocá-lo deve suavizar o efeito da alta do dólar na situação financeira da petroleira. Com uma dívida em níveis alarmantes e geração de caixa comprometida, a CSN iniciou uma força-tarefa para renegociar sua dívida de curto prazo, com vencimento em 2016 e 2017, com os principais credores na tentativa de ganhar um fôlego para vender alguns ativos que a ajudarão a reduzir sua alavancagem. No mês passado, a empresa concluiu a operação de alongamento de parte de sua dívida com a Caixa Econômica Federal, no montante de R$ 2,57 bilhões, e com o Banco do Brasil, de R$ R$ 2,208 bilhões. O terceiro maior credor da siderúrgica é o Bradesco, conforme apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, mas não há acordo fechado.  A Log-In, empresa que movimenta cargas por meio de navios, alongou R$ 270 milhões de uma dívida relativa a navios em construção que soma R$ 674 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os vencimentos de outubro de 2015 a 2018 foram esticados até 2034.  No setor de energia, a AES Sul, distribuidora gaúcha do grupo AES, está reestruturando seu passivo, seis meses após emitir R$ 950 milhões em debêntures para reduzir pressão de vencimentos de curto prazo. Conforme apurou o Broadcast, a empresa chamou investidores de debêntures para renegociar cláusulas de alavancagem de créditos de R$ 1,3 bilhão.  A diretora de operações financeiras da AES, Camila Abel Correia da Silva, confirmou que a empresa trabalha para melhorar o perfil de endividamento. Procuradas, CSN e AES não comentaram.Fôlego. O advogado Artur Lopes, especializado em gestão de crise de empresas, sócio da Artur Lopes & Associados, reconhece que muitas empresas estão partindo para renegociação com os credores diante da percepção de que o pior ainda não passou. A escalada do dólar, destaca, afetou muitas cadeias dependentes de material importado que, no contexto atual, estão com os braços atados para se replanejarem. No âmbito setorial, a preocupação está centrada na cadeia de construção e de óleo e gás, conforme especialistas. Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do Banco Central divulgado na quinta-feira sinaliza que, na hipótese de default para todas as empresas envolvidas, o sistema financeiro teria necessidade de capital para reenquadramento de R$ 3,4 bilhões, equivalente a 0,4% do seu patrimônio. Ainda assim, manteria alta resistência, com nenhuma instituição insolvente. Uma fonte nota que as renegociações que estão sendo feitas são temporárias, ou seja, os credores evitam alongar passivos a prazos acima de quatro anos, já que não existe clareza sobre as condições macroeconômicas e políticas para os próximos anos. “Não há visibilidade de como estará o ambiente econômico até 2017 e, portanto, com qual condição de caixa essas companhias estarão operando até lá”, afirma. Ele conta que os bancos estão altamente demandados pelas empresas para reestruturar as suas dívidas, mas que não é de interesse deles levá-las à falência ou executar os ativos. “A falta de compradores para os ativos acentua o problema e também leva os bancos a encurtar os prazos das rolagens, até que se possa compreender como essas companhias vão viabilizar seus passivos”, observa. As empresas que têm dívidas junto aos bancos médios, que não têm capacidade de balanço como os grandes para rolar a maior parte de suas carteiras, devem ser arrastadas para a recuperação judicial.  André Pimentel, sócio e diretor da PerformaPartners, lembra que uma grande massa de empresas médias movimenta os maiores volumes do sistema financeiro, no varejo e no atacado, e que se os bancos não agirem logo na reestruturação dessas dívidas, o ano de 2016 pode começar ainda pior.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.