Os acionistas da Rumo ALL, controlada pelo grupo Cosan, estão discutindo como vão levantar recursos no mercado para colocar em prática o plano de expansão da companhia ferroviária, apurou o Estado. O levantamento desse dinheiro poderá ser feito com emissão de títulos de dívida (debêntures), mas o formato dessa captação e o valor ainda não estão fechados. O mercado coloca em xeque a capacidade de a companhia conseguir captar recursos no curto prazo por conta de sua dívida.Em meio à turbulência da economia, com maior restrição de crédito e risco para as empresas, as ações da Rumo ALL estão altamente voláteis. Nesta quarta, caíram 4,3%, negociadas a R$ 7,51, chegando a ficar entre as maiores quedas do dia. Em outubro, os papéis acumulam alta de 24,6%, mas neste ano registram queda de 57,3%. Em relatório a clientes, o UBS destaca preocupação com o calendário pesado de amortização da dívida da companhia em meio a um mercado de crédito restrito e diante de um ambicioso plano de investimentos. "Esses fatores têm levantado a bandeira vermelha em relação à necessidade de dinheiro da empresa", destacou o banco. O alerta ocorre em despeito da melhora operacional da empresa prevista pela instituição para os próximos trimestres.
A dívida líquida da companhia encerrou o segundo trimestre em R$ 7,1 bilhões. Com isso, a alavancagem medida pela dívida líquida e Ebtida (lucro antes de juros, impostos e amortizações) está em 4,97 vezes.Entre abril e maio, pouco tempo após a fusão entre a Rumo com a América Latina Logística (ALL) ter sido aprovada, a expectativa era de que a captação poderia ser entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão. Mas muita coisa mudou desde então. Esses recursos que deverão ser levantados serão complementares aos que a ferrovia negocia com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que vai financiar uma parte do plano de investimento e expansão da companhia nos próximos anos. O Estado apurou que o BNDES tem uma linha de crédito já aprovada de R$ 1,7 bilhão para o projeto da Rumo ALL, mas esses desembolsos só são liberados aos poucos, à medida que o projeto de expansão for colocado em prática. Procurada, a Rumo ALL não comenta o assunto. A Rumo ALL tem um plano de investir de R$ 7 bilhões a R$ 10 bilhões nos próximos anos para promover a expansão da companhia. No entanto, a nova administração tem pela frente desafios maiores, que são corte de custos e melhoria operacionais de sua atual malha ferroviária, que está sucateada. Fontes familiarizadas com o assunto afirmam que os cortes de custos dessa ferrovia estão em andamento e a companhia ferroviária já colocou em prática plano para elevar o escoamento de grãos. "Com o dólar alto, negócios voltados para o agronegócio (baseados em commodities agrícolas, que são exportadas) têm maior facilidade de captação de recursos."Chancela. A fusão entre Rumo e ALL foi bem vista no governo, uma vez que a ALL enfrentou nos últimos anos diversos problemas para conseguir honrar os seus contratos. "A sinalização do governo é de que a nova administração da companhia deverá entregar um resultado operacional muito melhor, considerando o passado turbulento da ALL", afirmou uma fonte do governo ao Estado.Com uma malha ferroviária de cerca de 12 mil km, a Rumo ALL é responsável por boa parte do escoamento de grãos do Centro-Oeste até Santos.