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Episkin, da L'Oréal, vai produzir córnea em laboratório no País para substituir testes em animais

Desde meados do ano passado, a indústria brasileira não tem mais permissão para realizar em animais testes que possam ser feitos utilizando uma córnea humana reconstruída

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Por Talita Nascimento
Atualização:

A Episkin, empresa do Grupo L’Oréal que trabalha com engenharia tecidual - produz pele e córnea em laboratório - inaugura nesta sexta-feira, 20, uma nova linha de produção no País. Até agora, a unidade brasileira, localizada no Rio de Janeiro, só produzia pele humana reconstruída, mas passará a fabricar também córneas reconstruídas para utilização em testes de irritação ocular, em diversos produtos, como alternativa aos testes feitos com animais.

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Desde meados do ano passado, a indústria brasileira não tem mais permissão para realizar em animais testes que possam ser feitos utilizando uma córnea humana reconstruída. Esse foi um dos 17 métodos de substituição ao uso de animais em testagens de produtos aprovados pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) em agosto de 2018. A indústria em geral teve cinco anos para se adaptar e mudar a forma de testar os produtos que precisam de validações científicas para verificar irritação ocular, por exemplo.

“Como pioneiros, fomos perguntados ‘e aí, vocês vão trazer a córnea?’”, conta Rodrigo De Vecchi, CEO da Episkin Brasil. A pequena unidade brasileira existe desde 2019 e, apesar de pertencer à L’Oréal, tem clientes para além do ramo de cosméticos: de indústrias de produtos químicos, passando por fabricantes de materiais escolares, até de agroquímicos. A lista dos 15 clientes do laboratório está espalhada pelo Brasil e já há exportação para Argentina, Chile e Colômbia.

A Episkin, empresa do Grupo L'Oréal que trabalha com engenharia tecidual, passará a fabricar córneas reconstruídas para utilização em testes de irritação ocular Foto: Divulgação/Pixabay

 Na Episkin, o modelo de córnea humana é reconstruído a partir de células epiteliais. A tecnologia utiliza células isoladas de fragmentos de cirurgia plástica de doadores, segundo a empresa.

Para além dos cosméticos, há demanda por córneas de outros setores que precisam se adequar à exigência do Concea em relação aos testes para irritação ocular. A empresa não informa quanto a clientela deve aumentar com a nova linha de produção, mas diz que a expectativa é alta, já que até brinquedos precisam de testes de irritação ocular.

Na área de brinquedos, especificamente, o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synesio Batista, afirma que a indústria já não faz mais testagens em animais há cerca de cinco anos. “Mas se há outra solução disponível, ainda mais desenvolvida em território nacional, estamos dentro”, diz. Segundo ele, por outros métodos, o segmento já havia conseguido superar a questão, mas está sempre aberto a novidades.

Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) afirma que a indústria brasileira do setor, “há mais de 10 anos, não realiza testes em animais em produtos acabados e segue investindo no desenvolvimento de métodos alternativos para cumprimento das exigências técnicas de testagem, tendo sempre como princípio, garantir a segurança dos produtos ofertados aos consumidores brasileiros”.

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Além disso, diz que “apoia e incentiva o investimento contínuo no desenvolvimento, implantação e disseminação de metodologias alternativas aos testes em animais, para toda a cadeia produtiva e destaca que, diversos grupos já vêm investindo e iniciaram o desenvolvimento de seus próprios modelos experimentais”. A entidade afirma considerar “muito positivos” investimentos em inovação e tecnologia no setor.

A fábrica da Episkin, que tem cerca de 70 m² e cinco funcionários altamente especializados, é considerada a mais eficiente do grupo, justamente por produzir muito em um espaço pequeno e com quadro de pessoal reduzido. O tipo de produto também ajuda. Apesar dos altos investimentos em materiais importados, as peles e córneas são pequenas e, por isso, não demandam muito espaço físico.

“Em 2019, fez sentido trazer a operação para o Brasil porque o prazo de validade (da pele humana reconstruída) é muito curto. Produzimos sob demanda e temos de ter uma logística muito precisa e bem estabelecida para que a encomenda chegue ao laboratório do cliente e ele use na mesma semana”, diz Rodrigo De Vecchi.

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Depois da chegada da empresa ao País, mais laboratórios passaram a oferecer a solução da pele reconstruída, segundo ele. O executivo afirma que já começa a identificar outros novos produtores de córnea humana reconstruída, e que isso é positivo, no sentido da evolução científica.

Ele diz que o negócio da Episkin não visa lucro, apesar de não operar no negativo. Questionado sobre o valor da última linha de seu balanço, afirma que “é muito pouco”. Segundo o CEO, esse braço científico da L’Oréal opera de maneira independente e se sustenta. Para ele, a empresa faz sentido no grupo, pois contribui com um pilar importante para a empresa mãe, que em 1979, decidiu que iria parar de realizar testes em animais em toda a sua produção.

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