'Espera por trator novo pode variar de 6 a 12 meses', diz executivo da New Holland

Segundo Rafael Miotto, alta demanda e falta de componentes adiaram entregas; ele participa de série de entrevistas 'Estadão Mobilidade Insights', com líderes do setor

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Por Tião Oliveira
4 min de leitura

Rafael Miotto é engenheiro mecânico e ingressou na companhia italiana CNH Industrial em 2004. No início de 2017, assumiu o posto de vice-presidente da New Holland Agriculture para a América Latina, após ter sido diretor comercial da área de produtos e serviços nos segmentos agrícola, de veículos comerciais e construção civil.

Por meio de chamada de vídeo, ele contou ao Estadão que a empresa está lançando um trator movido a biometano no Brasil. Também falou sobre a dificuldade de atender os pedidos feitos em 2021, por causa da falta de matérias-primas e componentes, e afirmou que o agronegócio, no qual a companhia atua, continuará crescendo no País em 2022.

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Rafael Miotto, da New Holland, afirma que é preciso expandir a conectividade no campo. Foto: Rodrigo Czekalski/New Holland - 13/1/2022

Como foi o desempenho da New Holland Agriculture no Brasil em 2021?

O ano passado foi bastante desafiador. Sobretudo porque houve restrições na cadeia produtiva e tivemos de fazer vários investimentos e mudanças para que os colaboradores pudessem trabalhar com total segurança. Porém, as equipes de campo e os concessionários continuaram atendendo nossos clientes mesmo nos momentos de pico da pandemia. As máquinas continuaram colhendo e o produtor, plantando. Ainda há falta de componentes e matérias-primas, o que dificulta o planejamento da produção e a capacidade de manter peças de reposição e insumos para a área de assistência técnica. Seja como for, a demanda foi muito boa para o setor no Brasil e no mundo.

Há alguma decisão que você tomou em 2021 e que, se pudesse, mudaria?

Talvez algumas decisões em relação à cadeia de fornecimento para produção. Ser engenheiro de obra pronta é fácil. Mas creio que poderíamos ter sido mais conservadores no planejamento das vendas e dos pedidos. Algumas promessas feitas pela cadeia de suprimentos não estão sendo cumpridas, embora a gente tenha puxado o freio de mão na comparação com o que eu tenho visto no mercado. Toda a cadeia contava com uma normalização que até agora não aconteceu. Continuamos tendo dificuldade para cumprir compromissos de entregas nas datas pactuadas, porque grande parte dos fornecedores não consegue cumprir os prazos. 

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Está faltando trator?

Sim. Ainda não conseguimos atender completamente a demanda. Dependendo do produto, a espera pode chegar a nove meses. Já estamos trabalhando nas entregas previstas para o fim de 2022. Há vários pedidos feitos em 2021 que tiveram as entregas postergadas. Hoje, temos de fechar pedidos com previsão de entrega muito mais elástico. No caso dos com maior demanda, o prazo pode variar de seis a 12 meses.

O agronegócio vai continuar crescendo em 2022?

Acredito, com base nos resultados dois últimos anos, que sim. Houve muitos investimentos em tecnologia, genética e no aumento da produtividade. Talvez não tenhamos expansão no tamanho da área plantada. Porém, será um ano de alta produtividade, sobretudo no setor de grãos, pecuária de corte e leiteira, por exemplo. Porém, existe um efeito, que também está ligado à pandemia, que é o aumento dos custos de produção. Seja como for, a alta na produtividade traz uma tendência de manutenção de bons preços de venda para produtos agrícolas e agropecuários. No segundo semestre, a pressão de alta nos custos deverá ser maior. No caso de máquinas agrícolas, a gente está tentando de alguma maneira fazer o repasse natural do aumento de custos gerado pela falta de matérias-primas e a disparada do valor da energia, entre outros. Fertilizantes e agroquímicos também tiveram um aumento expressivo, por causa do custo da energia em países como China, Rússia e Ucrânia, que são grandes produtores. Seja como for, a demanda ainda é muito maior que capacidade de produção. Mas creio que será um ano bom, a despeito da maior pressão dos custos. 

A conectividade é uma importante aliada para reduzir custos. O que é preciso para estimular o processo?

As premissas do Conectar Agro (associação que reúne as grandes fabricantes de tratores e empresas das áreas de tecnologia e telecomunicações) e de outras iniciativas do tipo, estão corretíssimas. Temos de estimular esse desenvolvimento. Atrair empresas com capacidade para implantar tecnologias de conexão é leva-las não só aos agricultores, mas à toda a cadeia produtiva das regiões agrícolas. Estamos em tratativas com grandes corporações do agronegócio, além de médios e pequenos produtores, que podem ajudar a acelerar esse processo. Também envolvemos prefeituras de municípios com grande concentração de atividade agrícola. A tecnologia e a capacidade econômica para acelerar o processo já existem. Quando, por exemplo, você leva o 4G via Conectar Agro para uma, duas ou três fazendas de uma região, também leva internet e telefone para escolas rurais, vilas e pequenas indústrias e prestadores de serviço. A cobertura se estende para rodovias e estradas e atende quem está circulando na região, como os caminhoneiros. Quando a gente faz parceria com uma prefeitura, surgem outras cinco interessadas. Isso também acontece com as cooperativas. Todo mundo passa a perceber as vantagens da conectividade e se beneficia dela.

As emissões de poluentes são uma preocupação do produtor rural?

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Testamos os conceitos do trator a biometano (gás gerado pela decomposição de material orgânico) por quatro anos. Assim, temos total segurança para lançar o modelo no Brasil. Há agricultores, pecuaristas e produtores de leite, entre outros, interessados não apenas por causa de questões ambientais, mas também pela redução do custo comparado ao do diesel. Quem produz biometano pode utilizá-lo em caminhões e outros veículos. Um dos primeiros clientes a comprar nosso trator foi procurado por uma cervejaria que precisa descartar resíduos orgânicos corretamente. Ou seja, ele vai gerar combustível transformando um passivo ambiental em energia. Acredito muito no biometano e na conectividade. Por isso, estamos ajudando a fomentar esse ecossistema. 

  • A voz de quem decide o futuro das grandes empresas do segmento

O Estadão Mobilidade Insights trará, até 31 de janeiro, entrevistas com executivas e executivos que decidem os rumos de grandes empresas no Brasil. A reportagem ouviu representantes defabricantes de ônibus e caminhões, como a Volkswagen Caminhões e Ônibus, de automóveis e comerciais leves, como o Grupo Caoa e a GM, e de tratores para o agronegócio, caso da New Holland Agriculture. O Grupo Vamos, dono de várias concessionárias de veículos pesados, e que atua na locação de caminhões e máquinas da linha amarela, também participa.

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