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Estresse valorizou o real, diz autor de ‘O Cisne Negro’

 Financista Nassim Taleb, que previu a crise global, elogia o Brasil e diz que baixo endividamento é imprescindível

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Por Fernando Dantas
Atualização:

SÃO PAULO - O governo de Barack Obama é uma grande decepção, porque está neutralizando a punição aos agentes econômicos, como o sistema financeiro, que foram responsáveis por deflagrar a grande crise global em 2008 e 2009. A visão é do famoso financista libanês-americano Nassim Nicholas Taleb, que previu a crise global, tanto em termos dos estragos nos mercados de derivativos (produtos financeiros complexos) quanto na débâcle da Fannie Mae e do Freddie Mac, as duas gigantescas instituições de financiamento residencial americano que tinham uma garantia implícita do governo.

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Taleb está no Brasil, onde participará nesta quinta-feira, em São Paulo, no Hotel Unique, do evento Macro Vision, conferência com convidados internacionais organizada pelo Itaú BBA, e que contará com a presença também de Lorenzo Bini Smaghi, economista italiano que já esteve no Conselho Executivo do Banco Central Europeu (BCE) e Sheila Bair, ex-presidente da Corporação Federal de Seguro de Depósito dos Estados Unidos.

Taleb não defende aquela posição contra o governo Obama por moralismo. Na verdade, as suas opiniões, radicalmente contrárias ao aumento do endividamento americano, à política monetária expansionista do Federal Reserve (Fed, banco central americano) e ao salvamento de bancos, são consequência dos desdobramentos do seu pensamento, que se tornou mundialmente famoso após o lançamento do livro O Cisne Negro, em 2007. 

O livro gira em torno da ideia de que os grandes sistemas humanos, como a economia, a política e a tecnologia, produzem eventos que não se podem prever - assim como a existência dos cisnes negros, ignorada pelos europeus até toparem com espécimes desse tipo na Austrália no século 17. Esses eventos sistematicamente pegam de surpresa os especialistas em projeções e produzem enormes estragos, como a grande crise global.

No Cisne Negro, posteriormente revisado e ampliado, e em outros trabalho e publicações - inclusive em mais um livro a ser publicado este ano -, Taleb defende a ideia de que, em vez de tentar reduzir e escamotear o risco, a estratégia correta é desenvolver sistemas que sejam robustos o suficiente para resistir a "cisnes negros", grandes choques negativos inesperados. Num desdobramento posterior, que constará do seu novo livro, ele desenvolveu a ideia dos sistemas antifrágeis, "que gostam da desordem", como ele explicou ao Estado.

Basicamente, ele se refere a sistemas construídos organicamente, com múltiplos e pequenos centros de decisão, e que melhoram e se aperfeiçoam quando sofrem choques. "Nos sistemas construídos pelos seres humanos em ampla escala, você não tem nenhum erro que não seja um grande erro."

Libertário

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Classificando-se como libertário, Taleb apoia a plataforma do pré-candidato republicano Ron Paul, mesmo sabendo que ele não tem chance. "Eu apoio por uma questão de ética, e não de resultado.". O republicano também defendeu o fim do Fed - embora não vá tão longe. 

Taleb acha que o Fed deveria passar por uma auditoria, e tem opinião muito ruim do chairman Ben Bernanke e do secretário do Tesouro, Tim Geithner. Ron Paul é a favor de uma redução radical do déficit público americano, trazendo de volta todas as tropas no exterior e cortando maciçamente os programas do governo. Para Taleb, o baixo endividamento é imprescindível para não haver fragilidade.

Ele elogia o Brasil: "Vocês passaram por muito estresse, e isso foi bom, hoje a moeda quase dobrou de valor". Na sua visão, evoluir sob estresse é uma parte fundamental da antifragilidade.

Quanto a Obama, Taleb não poupa críticas: "Sou imigrante, e, quanto me mudei para os Estados Unidos, eu não queria a União Soviética, que é o que estou tendo agora com o Obama".

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