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EUA obtêm acordos de US$ 48 bi com China

Apesar de alto investimento, países não chegam a consenso na área cambial

Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

Sem entendimento com a China na área cambial, os Estados Unidos conseguiram na quarta-feira, 19, extrair de Pequim um pacote de mais de US$ 48 bilhões em investimentos e exportações de produtos americanos. O presidente dos EUA, Barack Obama, comemorou o fato por causa da possibilidade de criar 235 mil novos empregos diretos e indiretos no país, cuja taxa atual de desemprego é de 9,4%.

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Os contratos firmados entre companhias dos dois países contribuíram para um resultado positivo da visita de Estado do presidente da China, Hu Jintao, a Washington. No entanto, evidenciaram a ansiedade da maior economia do mundo em receber recursos de uma emergente.

O pacote envolve a venda de 200 aviões da Boeing ao longo dos próximos três anos. Somente essa operação resultará na exportação de US$ 19 bilhões e na criação de mais de 100 mil postos de trabalho nos EUA. Outros 70 contratos permitirão o embarque de US$ 25 bilhões em mercadorias de 12 Estados americanos à China, segundo a Casa Branca.

Empresas chinesas comprometeram-se também a investir US$ 3,24 bilhões em setores produtivos dos EUA. Outras transações, com valor total de US$ 13,1 bilhões, envolverão setores de tecnologia de ponta e energia limpa.

Além da Boeing, a General Electric abriu três frentes de negócios com a China: uma carta de intenções com o Ministério de Ferrovias chinês para uma parceria no desenvolvimento de trens de alta velocidade; uma joint venture com a Shenhua Energy Company na área de energia limpa e gaseificação; e um acordo de colaboração com a China Huadian Engineering Company sobre fontes alternativas a termelétricas a carvão. Uma fábrica da General Electric em Chicago será visitada hoje pelo presidente chinês.

Ao lado de Hu, Obama afirmou em entrevista coletiva estar procurando meios para reduzir os "atritos" na relação comercial entre os dois países, para assegurar "trocas mais justas". Os EUA contabilizaram em 2010 um déficit de US$ 290 bilhões no comércio de manufaturas com a China.

Segundo o presidente americano, houve progressos do governo chinês no combate à pirataria e no cumprimento de outros compromissos na área de propriedade intelectual - um dos pontos críticos da relação comercial. A China, porém, ainda precisa dar maior impulso a seu mercado interno, como meio de contribuir para um comércio mais equilibrado.

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Na questão cambial, Obama preferiu um tom mais diplomático. "É importante olhar a relação bilateral como um todo. O câmbio é apenas uma parte do problema", afirmou, ao abordar a desvalorização artificial da moeda chinesa. "O governo chinês está comprometido em adotar um modelo cambial mais orientado para as regras de mercado, mas não está progredindo como queríamos."

O câmbio tem sido uma área de confronto permanente entre os dois países desde o início da crise financeira mundial, em 2008. A China mantém uma política cambial que permite uma desvalorização de 10% ao ano de sua moeda, o yuan. Isso resulta na maior competitividade do produto chinês no exterior. No final do ano passado, como meio de estimular a atividade doméstica, os EUA autorizaram a emissão adicional de US$ 600 milhões ao longo deste semestre.

A iniciativa deu margem para Pequim acusar Washington de promover desvalorização artificial do dólar e de criar novos riscos de choque financeiro em economias emergentes, cujas taxas altas de juros as tornam receptoras de boa parte desses recursos. É o caso do Brasil. A polêmica intensificou-se na semana passada, quando o Banco do Povo da China deu um novo passo para tornar o yuan uma moeda padrão internacional, em gradual substituição ao dólar americano. Além da autorização para usar o yuan em operações comerciais, as companhias chinesas receberam permissão para também empregá-la em investimentos no exterior.

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