Steve Easterbrook, ex-CEO do McDonald's que foi demitido da empresa em 2019 por ter relação inapropriada com uma subordinada, pagará US$ 105 milhões em dinheiro e ações para a empresa em uma das maiores indenizações corporativas dos EUA.
Easterbrook e a empresa estiveram em uma batalha contenciosa no último ano, após o McDonald's o processar por mentir a investigadores durante a sua demissão. Como parte do acordo divulgado na quinta, 16, o McDonald's concordou em encerrar o processo contra Easterbrook.
Em mensagem aos funcionários, Enrique Hernandez Jr., presidente do conselho do McDonald's, afirmou que o objetivo da empresa era responsabilizar Easterbrook “por suas mentiras e má conduta, inclusive a maneira como se aproveitou de sua posição como CEO”, e que o acordo atingiu essa meta.
Easterbrook foi demitido em 2019 após se envolver em uma relação consensual com uma funcionária, violando assim a política interna e desencadeando uma disputa acirrada entre um executivo rico e uma das empresas mais proeminentes dos EUA.
No momento da demissão, a direção do McDonald's afirmou que Easterbrook "demonstrou um juízo pobre", mas decidiu não o demitir "por causa disso" - ou seja, por ser desonesto ou cometer um ato criminoso. Esta decisão, esperava a direção, evitaria uma longa disputa legal. A decisão tamném permitiu que Easterbrok fosse embora com um pacote de compensação de mais de US$ 40 milhões.
De acordo com o processo movido pelo McDonald's contra Easterbrook, o contrato tinha uma cláusula que permitiria que a empresa reouvesse a compensação se determinasse posteriormente que o funcionário deveria ter sido demitido por justa causa.
A clásula ganhou importância em 2020, quando um empregado do McDonald's disse que Easterbrook teve relação sexual com outra funcionária enquanto era CEO. Esta nova acusação desencadeou outra investigação sobre Easterbrook e levou a empresa a o processar no ano passado, acusando o ex-CEO de mentir, ocultar provas e ter cometido fraude.
O McDonald's disse ter encontrado, durante a investigação da segunda acusação, "dezenas de fotos e vídeos sexualmente explícitos ou de mulheres nuas ou parcialmente nuas, inclusive de funcionárias da empresa, que Easterbrook enviou de seu e-mail corporativo para seu e-mail pessoal".
A companhia também revelou que Easterbrook cedeu centenas de milhares de dólares em ações para uma das mulheres com quem tinha um relacionamento sexual. No processo, o McDonald's afirmou que seu ex-CEO mentiu aos investigadores do primeiro inquérito, e que se "ele tivesse sido sincero com os investigadores do McDonald's e não escondido evidências, o McDonald's teria ficado sabendo que teria ficado sabendo que havia motivos para sua demissão em 2019".
Em um primeiro momento, Easterbrook decidiu enfentar o processo, e seus advogados entraram com uma moção chamando a peça de "sem mérito e enganosa".
Durante seu tempo como CEO, Easterbrook vendeu mais de US$ 64 milhões em ações; quando saiu, em 2019, o valor com o qual havia sido recompensado era de US$ 41 milhões. Como as ações do McDonald's dispararam de US$ 193 para US$ 264 em 2019, este valor subiu para US$ 89 milhões, de acordo com a consultoria de remuneração de executivos Equilar. Não se sabe se Easterbrook vendeu parte se suas ações ao deixar a empresa.
No entanto, com seu acordo em devolver a enorme quantidade de dinheiro e ações para a empresa, Easterbrook admitiu que era uma disputa legal longa e custosa. Easterbrook se desculpou em um comunicado divulgado pela empresa.
"Durante meu mandato como CEO, falhei em defender os valores de McDonald's e em cumprir algumas das minhas responsabilidades como líder da empresa", disse. "Eu peço desculpas aos meus ex-colegas, ao conselho e aos franqueados e fornecedores da empresa por isso."
Sob o comando de Chris Kempczinski, sucessor de Easterbrook, o McDonald's se mostrou como um grande vencedor durante os dois anos de pandemia. Graças a uma combinação de aumento nos negócios de drive-thru; a um grande impulso em seu app para celular e programas de fidelidade; e a parcerias com celebridades, como o grupo sensação de K-pop BTS, as receitas do McDonald's caminham para chegar a US$ 23 bilhões neste ano, nível mais alto em cinco anos.
Mais cedo neste ano, Kempczinski defendeu a maneira como o conselho lidou com a demissão de Easterbrook. "Acredito que eles lidaram da melhor maneira que poderiam", afirmou.
Ainda assim, apesar dos ganhos financeiros da empresa, de um novo programa de treinamento para seus restaurantes e dos esforços para melhorar a diversidade e a inclusão, críticos afirmam que não foi feito o suficiente para resolver outros problemas que enraizados na cultura do McDonald's. A gigante do fast-food enfrentou inúmeras ações judiciais e reclamações nos últimos anos, algumas envolvendo acusações de assédio sexual e outras em torno de discriminação racial.
"O McDonald's deveria usar o dinheiro que recuperou do ex-CEO para implementar um plano para impedir o assédio sexual desenfreado que ocorre dos drive-thrus até a diretoria”, disse, por meio de um comunicado, o grupo de advogados de defesa Fight for $ 15. O McDonald’s ainda enfrenta ações judiciais de acionistas sobre a demissão de Easterbrook.
Na quinta, 16, a empresa disse que o “sr. Easterbrook devolveria prêmios em ações e dinheiro, com um valor atualizado de mais de US$ 105 milhões, que ele teria perdido se tivesse sido sincero no momento de sua rescisão e, como consequência, teria sido demitido por justa causa”. A companhia não divulgou a proporção de dinheiro e ações. As ações do McDonald’s subiram mais de 25% este ano.
“Embora a má conduta de Steve não precise ser perdoada por nenhum membro desta comunidade, ele se desculpou com seus ex-colegas de trabalho, franqueados, fornecedores e com o conselho pelos erros profundos que cometeu”, disse Hernandez, presidente do McDonald's. “A resolução de hoje evita um processo judicial demorado e nos leva adiante de um capítulo que pertence ao nosso passado.”