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Ex-presidente da GM, Zarlenga quer 'salvar' filiais abandonadas pelas multinacionais no Brasil

Após sair da montadora há pouco mais de um mês, Carlos Zarlenga lança empresa com foco na compra e revitalização de subsidiárias de grandes grupos no País e na América do Sul

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Pouco mais de um mês depois de deixar a presidência da General Motors no Brasil e na América do Sul, o argentino Carlos Zarlenga lança no País a Qell Latam Partners (QLP), empresa focada em comprar outras empresas, principalmente subsidiárias de multinacionais que estão sendo relegadas por suas matrizes, para torná-las mais eficientes.

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O executivo que esteve à frente da GM do Brasil por cinco anos uniu-se a Francisco Valim, ex-presidente de empresas como Via, Net Serviços, Oi e Nextel, para liderar a unidade local da Qell Acquisition Corporation, plataforma de investimento e operações para a compra de indústrias em transformação, principalmente aquelas ligadas ao setor automobilístico.

Os dois empresários são cofundadores e sócios (general partners) da QLP, que terá como presidente do Conselho de Administração Barry Engle, fundador da Qell Acquisitin em agosto de 2020. Ele também foi presidente das operações da GM na América do Sul, na América do Norte e na divisão Internacional. Antes, comandou a Ford Brasil e Mercosul.

Captações da Qell na Nasdaq

Um quarto sócio também da Qell americana é Sam Gabbita, especialista no ramo de investimentos e private equity. No ano passado, o grupo com sede em São Francisco (EUA) captou US$ 380 milhões em um IPO (oferta pública inicial de ações) na Nasdaq, uma das bolsas de valores de Nova York.

Ex-presidente da GM, Zarlenga volta a atuarcom o ramo automotivo, mas para comprar empresas Foto: Qell Latam/Divulgação

Na sequência, o grupo fez uma captação de mais US$ 450 milhões e, no mês passado, finalizou uma operação de fusão no valor de US$ 3 bilhões com a Lilium, empresa alemã de mobilidade aérea elétrica.

Em agosto, a aérea brasileira Azul assinou carta de intenção com a Lilium no valor de até US$ 1 bilhão. A parceria inclui 220 aeronaves e VTOL (apelidados de carros voadores), com operação prevista a partir de 2025.

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A QLP tem escritório em São Paulo e seu foco será a aquisição de empresas no modelo de private equity, em especial fabricantes de veículos e de autopeças.

Zarlenga afirma que a indústria automobilística na América do Sul, puxada pelo Brasil, envolve mais de 700 empresas e cerca de 80% são de capital estrangeiro. “Apesar das projeções de crescimento do setor de 5% ao ano na próxima década, o nível de investimentos das matrizes na região está caindo.”

O executivo ressalta que, nos últimos anos, muitas dessas empresas apresentam resultados financeiros voláteis e às vezes não geram rentabilidade sequer para cobrir o custo do capital investido.

Elétrico na região demora mais a chegar

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Além disso, as companhias globais passam pela transição de tecnologia para os modelos elétricos e, como a América do Sul deve demorar mais a entrar nesse processo, acaba ficando de lado na repartição dos investimentos, também em razão da volatilidade cambial e de volumes baixos de produção.

“Há várias empresas internacionais e até nacionais procurando alternativas para os ativos que têm na América do Sul, sejam parcerias ou venda, e muitas não estão encontrando soluções, por isso há grupos saindo da região”, afirma Zarlenga. “Isso abre uma grande oportunidade para fazer aquisições, o que será de muito valor para os players (jogadores) globais que estão tentando vender seus ativos.”

O executivo informa que foi de olho na oportunidade de liderar um negócio inédito na região que decidiu deixar a GM, grupo onde atuou, ao todo,  por dez anos, pois vê oportunidades para o setor automotivo principalmente no Brasil e na Argentina.

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“Estamos criando uma empresa para comprar operações das empresas globais e vamos operá-las, trazer mais eficiência, fazer investimentos, desenvolver mais produtos, gerar mais localização e engenharia local, justamente aquilo que hoje não está sendo feito totalmente pelas multinacionais em suas subsidiárias”, diz.

“Queremos melhorar o desempenho, impulsionar o crescimento, gerar valor nos negócios adquiridos e criar empresas mais sustentáveis para o futuro”, acrescenta o executivo. Uma das ideias de Zarlenga e de Valim é aproveitar as diferenças da América do Sul com o resto do mundo. Estimativas indicam que, em 2030, 60% das vendas de veículos nos EUA, China e Europa serão de modelos elétricos. Na América Latina, as previsões apontam para 15% a 25%.

Zarlenga ressalta a vantagem do etanol, que possibilita ao Brasil um patamar mais elevado do que vários outros países em emissões de gases contaminantes, o que deve fazer com que o processo de eletrificação local demore mais. “Precisa de investimentos, ter custo competitivo porque o Brasil pode ser grande fonte de exportação para outros países do mundo que vão estar também num ciclo de eletrificação um pouco mais devagar.”

Investidores locais e internacionais

Os fundos para as operações na região virão de investidores locais e internacionais e dos resultados das ações após as compras. “Há interesse para este tipo de investimento e também de empresas automotivas globais que estão reavaliando seus ativos e querem as operações da região”, informa Zarlenga. “Esse tipo de empresa como a QLP não existia até agora no Brasil.”

Engle reforça que a atual fraqueza macroeconômica na América Latina, exacerbada pela pandemia global, tem criado dificuldades em múltiplas indústrias. Para ele, o setor automotivo é ainda mais desafiado por grandes rupturas impulsionadas pelas tecnologias que estão levando os fabricantes e fornecedores globais a repensar suas atribuições de recursos.

“Na América Latina isto levou, em muitos casos, à redução dos investimentos, menos empregos e menos conteúdo local. Contudo, estamos otimistas quanto às perspectivas econômicas futuras da região, vemos isto como um ponto de entrada interessante para os investidores, e acreditamos que existe oportunidade de reformular e reforçar o setor automotivo local”, afirma Engle, em nota.

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Valim acrescenta que os agentes da cadeia automotiva – fornecedores, montadoras e distribuidores – estão em situação desafiadora na região, “mas a combinação dos ativos certos pode criar a escala e as eficiências necessárias para melhorar a rentabilidade e permitir investimentos.”

O grupo ressalta que, embora inicialmente vai se concentrar no setor automotivo, indústrias de outros setores também podem ser alvo de aquisição ou parcerias. Os três executivos da nova empresa têm histórico de recuperar empresas em dificuldades e formaram uma equipe com profissionais nas áreas de gestão, estratégias, consultoria, advocacia e financeira.

Para gerir as empresas adquiridas, Zarlenga afirma que serão aproveitados os próprios administradores dessas empresas e, se for preciso, serão buscadas alternativas. “Nós vamos estar no conselho dessas empresas e nossa experiência vai ajudar muito o time a fazer as mudanças”, diz. 

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