O mercado publicitário no Brasil ainda é formado majoritariamente por pessoas brancas. Para tentar abrir as portas do setor criativo para a diversidade racial, o Google Brasil e o projeto Potências Negras decidiram criar a primeira feira de talentos com vagas exclusivas para publicitários pretos e publicitárias pretas. Em sua edição inicial, a BlackChain terá 120 vagas de trabalho em 13 das maiores agências do País.
Essas 120 vagas serão disputadas por cerca de mil profissionais que o Google ajudou a formar nos últimos dois anos. Mas o engajamento da gigante de tecnologia com a causa é mais longo: desde 2015, a companhia mantém os programas de formação Black Ads Academy e Black Data Academy.
No evento virtual de seleção, na quarta-feira, os participantes poderão conhecer as agências e se candidatar para as oportunidades oferecidas por nomes como Africa, AlmapBBDO, Artplan, Convert, Blinks Essence, Cadastra, DPZ&T, i-Cherry, Mirum, Publicis, Raccoon & Media. Monks, Suno e W/McCann.
Segundo a diretora de agências do Google Brasil, Aline Moda, a iniciativa de promover um evento de contratações dos talentos negros nasceu da escassez de mão de obra qualificada, problema que teria se agravado durante a pandemia. “Nós criamos essa ponte entre as pessoas que estão buscando oportunidade e as agências que precisam desses profissionais”, conta Aline. “Queremos gerar proporcionalidade racial.”
E o abismo racial na propaganda ainda é grande. Dados do Observatório de Sustentabilidade Racial mostram que o número de profissionais negros em cargos de estratégia e diretoria não passa de 15% no Brasil – apesar de, hoje, 56% dos brasileiros se declararem pretos ou pardos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Desequilíbrio
Vice-presidente do Clube de Criação, Gabriela Moura destaca que, além de promover oportunidades para jovens criativos, as companhias precisam olhar internamente para seus colaboradores negros que ainda não são contemplados com oportunidades de ascensão a cargos executivos. “Esse tipo de iniciativa é urgente”, afirma. “Temos um contingente de pessoas mais velhas que poderiam crescer dentro das agências, que hoje são formadas apenas por homens brancos.”
Para participar da feira BlackChain, as agências tiveram de assumir o compromisso com a ascensão profissional dos candidatos. A ideia, segundo Aline, é aumentar a diversidade racial dos times e criar caminhos para esses profissionais chegarem a cargos mais altos.
As agências escolhidas passaram por um treinamento do AfroGooglers (núcleo de diversidade racial da companhia), com o time de agências do Google e com o Potências Negras. Ainda sem data da próxima edição da feira, o Google Brasil lançará a nova turma do programa Black Ads Academy a partir do segundo semestre.