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FGC deve dar aval para BTG Pactual comprar operação do Banif no Brasil

Maioria dos conselheiros do fundo se mostrou favorável à operação; condição é que o BTG pague os R$ 2 bilhões que ainda deve ao FGC, recebendo, em contrapartida, extensão de prazo para quitar outros débitos

Por Josette Goulart
Atualização:

O conselho de administração do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) deve dar o aval ao banco BTG Pactual para a compra do banco Banif no Brasil. Em teleconferência realizada no início da noite desta segunda-feira, 18, a maioria dos conselheiros do fundo concordou com a operação. A decisão final será tomada hoje pelo conselho. A condição é de que o BTG pague imediatamente os R$ 2 bilhões que ainda deve ao fundo pela operação de "socorro" feita em dezembro. Em contrapartida, o banco terá prazo estendido para pagar outras operações que tem com o FGC, especialmente as relativas ao banco Pan, com taxas que devem ser renegociadas.

O BTG não quis comentar, e o FGC disse oficialmente, por meio de sua assessoria de imprensa, que “não confirma” a negociação. Mas fontes que participaram da reunião, que foi feita por teleconferência, dizem que o negócio está praticamente certo. A negociação depende do aval do FGC em função do empréstimo tomado pelo banco criado por André Esteves no ano passado.

Estratégia do BTG seria recuperar parte dos créditos podres do Banif no País Foto: Rafael Marchante|Reuters

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Quando o banqueiro foi preso no âmbito da Operação Lava Jato, houve uma corrida de saques de ativos da instituição, e o FGC teve de emprestar cerca de R$ 6 bilhões para dar liquidez ao BTG. Uma série de exigências foi imposta, entre elas a venda de ativos e a suspensão de pagamento de bônus a executivos. Cerca de dois terços do empréstimo já foram pagos, mas a diferença ainda impede que o banco possa sair às compras sem consentimento do fundo.

Foco. O interesse do BTG no Banif é na carteira de crédito podre. A estimativa é de que cerca de R$ 500 milhões estejam hoje na carteira de contingências do banco. A ideia é replicar a operação do Bamerindus, segundo fontes próximas ao BTG.

O banco de Esteves comprou os direitos e bens da instituição, com exceção da marca Bamerindus, para poder usar os créditos tributários e também tentar recuperar parte dos créditos podres. A aquisição, na época, custou R$ 418 milhões à instituição.

Para a compra do Banif, o desembolso deverá ser de apenas R$ 1, segundo fontes a par das negociações. A instituição no Brasil tem uma série de problemas, incluindo dezenas de ações judiciais, com créditos sendo questionados por fundos de pensão e clientes em geral, que acusam o banco de ter desviado patrimônio ou feito operações irregulares no mercado imobiliário. Além disso, a instituição tem discussões tributárias em andamento na Justiça.

De acordo com dados do Banif em Portugal, a franquia no Brasil teria gerado perdas de € 267 milhões entre os anos de 2012 e 2015. Executivos do banco chegaram a declarar em comissões de inquérito em Portugal que o “Banif Brasil é um filme de terror” – tamanhos os indícios de atos criminosos.

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O Banif chegou a ser citado em algumas investigações da Operação Lava Jato. Um dos pagamentos feitos a Renato Duque, ex-executivo da Petrobrás, por exemplo, teria saído de uma conta da instituição.

Há dois anos, toda a administração do Banif foi alterada na tentativa de melhorar a operação no Brasil. Dados do Banco Central brasileiro apontam que a instituição teve prejuízo de cerca de R$ 4 milhões no primeiro trimestre. Em 2015, porém, gerou lucro de R$ 75 milhões. O total de ativos era de R$ 891 milhões no ano passado, enquanto os depósitos somavam R$ 400 milhões.

Bônus. Ao fechar acordo com o fundo garantidor e pagar os R$ 2 bilhões que ainda deve ao FGC, os executivos e sócios do banco terão finalmente liberado o pagamento dos bônus referentes a 2015. Uma das condições impostas pelo FGC era o bloqueio desses pagamentos até a quitação da dívida.

O negócio com o Banif também é visto por boa parte dos conselheiros do FGC como vantajoso para o próprio fundo. Se o Banif quebrar, o FGC teria de desembolsar cerca de R$ 200 milhões para fazer frente aos depósitos garantidos pelo fundo. Além disso, a negociação prevê que taxas mais vantajosas e extensão de pagamentos para outros débitos que o BTG tem com o FGC.

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