Ao se descontar os efeitos sazonais de reajustes de preços administrados e de alimentos in natura em alta, característicos do início do ano, é possível perceber que houve um avanço consistente da inflação no começo de 2010, na avaliação do coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Salomão Quadros.
"Há uma movimentação de alta. De uns dois meses para cá, houve uma confirmação de uma aceleração da inflação, principalmente no varejo", disse, lembrando que o núcleo da inflação em janeiro atingiu o mais elevado patamar em quase cinco anos. "Isso pode nos tirar do centro da meta inflacionária este ano (4,5%)", afirmou. O técnico fez o comentário durante a divulgação do IGP-10 de fevereiro, que mostrou taxa elevada, de 1,08%. Ele comentou que, tirando os efeitos sazonais, o índice mostrou sinais importantes, de reaquecimento da economia elevando preços, principalmente no setor industrial atacadista.
Para ele, com as perspectivas de crescimento econômico em 2010, aliada a um provável crescimento na demanda no mercado doméstico, a possibilidade de taxas de inflação mais pressionadas torna-se cada vez mais visível para este ano. "A tendência da inflação deve ser de aceleração", disse, afirmando ser provável uma taxa acima de 4,5%, próxima a 5% para a inflação varejista este ano. Ele comentou que, tendo em vista este cenário de avanço da inflação tão perceptível já no início do ano, o Banco Central deve mesmo elevar a taxa básica de juros (Selic) na reunião do Copom em março. A medida serviria para conter, em parte, o avanço da demanda e assim a pressão ascendente nos preços. "Está ficando cada vez mais provável um aumento de juros em março deste ano", admitiu.