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França deve fechar parceria com a GE e comprar 20% da Alstom

Fim do impasse. Após dois meses de negociações, França indica ter rejeitado a proposta da Siemens pela subsidiária de energia da Alstom, abrindo as portas para a GE fechar o negócio; o acordo prevê que o próprio governo se torne sócio da empresa

Por Andrei Netto
Atualização:

PARIS - Dois meses após o início das negociações para a venda da subsidiária de energia da gigante francesa Alstom, o governo francês anunciou nesta sexta-feira, 20, em Paris, que ingressará no capital da empresa, adquirindo 20% de suas ações. A decisão tem como objetivo manter o controle da companhia, considerada estratégica, em poder da França, mas não bloqueará a união com a americana General Electric. Com isso, o consórcio formado por Siemens e Mitsubishi, que oferecia € 8,2 bilhões, deve ser descartado.

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O ingresso do Estado no capital da Alstom se dará pela compra de mais de dois terços das ações hoje em poder da empreiteira Bouygues, que detinha 29,4% do grupo de energia e transportes. A decisão final sobre que empresa assumirá o controle da Alstom, GE ou Siemens-Mitsubishi, deve ser formalizada pelo conselho de administração da empresa, que estava reunido na noite desta sexta. 

Mas em Paris restam poucas dúvidas de que o negócio está pronto para ser selado. No fim da tarde, o primeiro-ministro da França, Manuel Valls, fez um pronunciamento em tom de fim das negociações. “Sem a intervenção do presidente da República, do governo e do (ministro da Economia) Arnaud Montebourg, nós não teríamos essa vitória”, afirmou o premiê. “É uma vitória para a Alstom, para nossa indústria e para a França, já que a produção de energia e o nuclear estão no coração dessa aliança.” Valls, porém, não deu detalhes sobre a transação, prometendo se pronunciar em breve. 

Montebourg conduziu nos últimos dois meses o leilão em torno da Alstom Foto: Benoit Tessier/Reuters

A proposta da GE incluía não uma oferta de compra, mas a criação de três associações paritárias entre os grupos americano e francês, que explorarão juntas os setores de turbinas a vapor, redes e energias renováveis. Os centros de decisão e de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias da parceria GE-Alstom também serão instalados na França. Além disso, a gigante americana se compromete a ceder à Alstom sua subsidiária de sinalização ferroviária, reforçando o braço de transportes da multinacional francesa, conhecida no mundo inteiro pela fabricação de trens de alta velocidade (TGV, em francês).

Segundo Montebourg, ministro que conduziu o verdadeiro leilão em torno da subsidiária de energia nos últimos 60 dias, a “Alstom merecia uma aliança, mais do que uma compra ou uma absorção”. 

Direitos. O governo francês terá direito de veto sobre decisões estratégicas, aprovará 50% do conselho de administração, inclusive o diretor-presidente, e preservará a propriedade intelectual sobre inovações nucleares, que serão propriedade de uma estatal à parte. Por fim, a GE assinará um termo no qual se comprometerá a cumprir a proposta de contratar mil funcionários na França. 

Teria pesado contra a proposta da Siemens e da Mitsubishi Heavy Industries, que havia sido elevada a € 8,2 bilhões nesta sexta em comparação a € 7 bilhões da primeira proposta -, a resistência de Bruxelas. “Ela bateu nas regras de concorrência que são supervisionadas pela Comissão Europeia”, disse Montebourg. 

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A solução encontrada pelo Palácio do Eliseu e pela GE conseguiu arrancar elogios dos maiores sindicatos de trabalhadores da Alstom, que até esta sexta pediram a estatização da empresa. A Confederação Francesa de Executivos (CFE-CGC) classificou as linhas gerais do acordo como “tranquilizadoras”. 

Nos moldes em que o negócio foi desenhado, a soberania nuclear do país - um dos pilares da política de Estado para energia - será preservada. Esse foi um dos critérios impostos desde o início das negociações pelo presidente da França, François Hollande. Essa preocupação levou o Palácio do Eliseu a publicar um decreto dando ao Estado a prerrogativa de impedir negócios em áreas consideradas vitais para a economia do país.

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