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França sela fusão gigante no setor energético

Por MARIE MAITRE E SWAHA PATTANAIK
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A França aparentou neste domingo estar prestes a salvar um dos maiores acordos energéticos da Europa, quando os conselhos das empresas Suez e Gaz de France se reuniram para aprovar uma fusão politicamente explosiva, que foi adiada por diversas disputas. A fusão das companhias, cujo valor combinado chega a 90 bilhões de euros, foi adiada em 18 meses pelo governo francês anterior, para impedir que a Suez --empresa que construiu o Canal de mesmo nome-- fosse parar nas mãos de estrangeiros. Mas um coquetel de problemas causados por dúvidas públicas em relação à privatização da GDF, condições regulatórias, a paralisia gerada pelas eleições francesas recentes e, finalmente, um quebra-cabeças complicado provocado por avaliações financeiras, quase levaram o negócio a cair por terra. A conclusão do acordo resultará na criação de uma gigante energética que figurará entre as três maiores da Europa, atrás da estatal de eletricidade francesa EDF e da alemã E.ON. A ministra das Finanças francesa, Christine Lagardere, confirmou que o acordo foi discutido, mas negou dar maiores detalhes. "Os conselhos das duas empresas estão reunidos neste momento, e cabe a eles aprovarem ou não o projeto", disse a ministra à rádio Europe 1. Um dos principais assessores do presidente francês Nicolas Sarkozy, o chefe do Estado-maior Claude Gueant, disse que se os dois conselhos aprovarem o negócio, as duas empresas farão o anúncio na segunda-feira. Uma fonte próxima das negociações disse que o acordo foi possível porque foi encontrada uma solução de meio-termo relativa aos ativos hídricos e de detritos pertencentes historicamente à Suez. O governo queria que a Suez vendesse esses ativos, com valor entre 18 e 20 bilhões de euros, para reduzir as dimensões da empresa, possibilitando uma "fusão de iguais" com a GDF, que é menor. Depois de fazer uma resistência acirrada à venda dos ativos, o presidente da Suez, Gerard Mestrallet, concordou em vender de 65 a 66 por cento deles para que pudesse ser fechado o acordo principal, disse a fonte. Isso ajudaria os negociadores a satisfazer as condições do Estado, pelas quais este, que é dono de 80 por cento da GDF, precisa manter uma participação minoritária de 34 por cento na empresa resultante da fusão. INTERVENÇÃO DE SARKOZY O acordo acontece após uma semana tensa durante a qual o presidente francês interveio diretamente nas negociações, desafiando publicamente a Suez a aceitar termos conciliatórios. A Suez negou que tivesse lançado um ultimato ao presidente francês recém-eleito. Os sindicados e o Partido Socialista, de oposição, se opõem à privatização da GDF e prevêem que ela possa levar ao aumento das tarifas do gás. Por outro lado, alguns investidores temem a ingerência do Estado no novo grupo. "O Estado realmente terá poder para imprimir o rumo à nova empresa", disse Gueant à rádio francesa RTL. Ele disse que o novo grupo será chamado Gaz de France-Suez. O líder socialista François Hollande acusou Sarkozy de "dar ordens, como um príncipe" para que o acordo fosse fechado, desrespeitando promessa que fez, quando era ministro das Finanças, de que a GDF seria mantida como estatal.

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