Depois de mais de seis meses de negociações, a gestora americana de investimentos Advent fechou a compra da quantiQ, maior empresa distribuidora de produtos químicos do País, que pertence à Braskem. A aquisição, avaliada em R$ 550 milhões, foi feita por meio da GTM Holdings, companhia que também atua nesse segmento e é controlada pelo fundo americano de private equity (que compra participação em empresas).
“Com a aquisição no Brasil, a GTM quase dobra de tamanho e se torna a maior companhia independente do segmento na América Latina”, afirmou o sócio-diretor da Advent no Brasil, Patrice Etlin, em entrevista ao Estado. De acordo com o executivo, o setor químico e, em particular, a divisão de distribuição, tem apresentado um bom crescimento e é resiliente em tempos de crise.
“A distribuição química é ainda um segmento que reage com muita velocidade a uma retomada. Por isso, entramos no Brasil em um momento interessante, em que a gente espera se beneficiar da saída dessa recessão tão dolorosa, o que acredito que aconteça nos próximos 12 meses”, afirmou o executivo. No ano passado, a GTM já havia adquirido a mexicana High Chem e a Peruquímicos.
Essa foi a segunda tentativa do Advent para comprar a quantiQ. Em 2012, a Braskem chegou a contratar o Santander para buscar compradores para a distribuidora química. Além da gestora americana e de outros fundos de investimento, foram apontadas como potenciais interessadas a americana Nexeo Solutions e a alemã Brenntag, empresas da área de distribuição. Mas a operação não teve sucesso, segundo fontes, porque o valor pretendido pela petroquímica, cerca de R$ 600 milhões à época, não teria sido atingido.
Dessa vez, dez grupos - em sua maioria, fundos de private equity - chegaram a se interessar pela distribuidora, em um processo liderado pelo Bradesco BBI. Na reta final, de acordo com fontes próximas às negociações, além da Advent, ficaram o fundo inglês Apax, o americano Acon Investments (focado em empresas médias), além da companhia mexicana química Pochteca.
Desde outubro, a Advent mantinha negociações exclusivas. Dos R$ 550 milhões totais a serem desembolsados pela gestora, R$ 450 milhões serão pagos na conclusão da venda e o restante em até 12 meses. A transação está sujeita à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Caixa. Antiga Ipiranga Química, a quantiQ passou a ser controlada pela Braskem em 2007, quando a companhia comprou os ativos de petroquímica da Ipiranga. Em 2009, foi feita a mudança de nome. Com um faturamento estimado em R$ 1 bilhão, a distribuidora nunca foi considerada um ativo estratégico para a Braskem. Com seus dois controladores - Odebrecht e Petrobrás - no centro da operação Lava Jato, a petroquímica voltou a considerar a venda da quantiQ.
Em meio ao acordo de leniência fechado no mês passado pela Odebrecht e pela Braskem, que envolve o pagamento de R$ 7 bilhões em multas, a venda da quantiQ ajuda a reforçar o caixa da petroquímica que, sozinha, terá de pagar R$ 3,1 bilhões, sendo R$ 1,6 bilhão neste mês e o restante em seis parcelas anuais a partir de janeiro de 2018. A petroquímica fechou o terceiro trimestre do ano passado com um R$ 7 bilhões em caixa.
“A alienação da quantiQ está em linha com a estratégia de reforçar nossa atuação no setor petroquímico, otimizando o portfólio de ativos da Braskem dentro do nosso compromisso com a disciplina financeira”, afirmou em comunicado Fernando Musa, presidente da Braskem.
Atuação. Com centros de distribuição em Duque de Caxias (RJ), Canoas (RS), Mauá e Guarulhos (SP), além de seis bases logísticas, a quantiQ lidera o fragmentado mercado de distribuição de químicos no Brasil, em que os 10 maiores empresas detém somente 30% de market share.
Juntas, GTM e quantiQ terão 62 centros de distribuição em 12 países da América Latina, atendendo 15 mil clientes em cerca de 50 diferentes segmentos de mercado, como cosméticos, farmacêutico e nutrição.