A oferta de ações da Gafisa foi bem recebida por analistas que acompanham o setor de construção, que veem na operação o único meio de a companhia reduzir sua alavancagem e garantir o crescimento em um cenário promissor para o mercado de imóveis.
A empresa espera captar de R$ 900 milhões a R$ 1,1 bilhão com sua oferta primária de ações, que deverá ser concluída ainda no primeiro trimestre, disse o diretor financeiro da companhia, Alceu Duílio Calciolari, em teleconferência com analistas nesta terça-feira, 9.
Trinta e cinco por cento dos recursos serão destinados à compra de terrenos, 25% para capital de giro, 20% para lançamentos e 20% para parcerias e aquisições estratégicas.
"Uma oferta de ações nos proporcionará a oportunidade de financiar de modo confortável nossos objetivos de negócios nos próximos anos, enquanto melhoramos nossa atual estrutura de capital", afirmou o presidente da Gafisa, Wilson Amaral.
No ano passado, a Gafisa manifestou em junho o desejo de emitir novas ações para reforçar seu caixa com até R$ 700 milhões. Em julho, porém, desistiu da oferta devido às condições do mercado na ocasião. Em dezembro, a companhia anunciou a emissão de R$ 600 milhões em debêntures.
Diversas outras construtoras e incorporadoras acabaram por emitir ações em 2009, entre elas Cyrela Brasil Realty, Rossi Residencial e PDG Realty. Isso deixou a Gafisa em um patamar inferior às suas concorrentes, segundo analistas. A Gafisa tinha em dezembro dívida líquida e obrigações com investidores de R$ 2 bilhões.
"A alavancagem da empresa está muito alta, e isso só pode ser equalizado se houver uma captação como essa", afirmou o analista Cristiano Hees, da Brascan Corretora. "É muito grande a necessidade de novos recursos, e as expectativas para o setor são muito boas. Ela (Gafisa) não pode mais ficar para trás", acrescentou Hees.
Para a Brava Investimentos, a Gafisa optou por anunciar a oferta de ações apenas após divulgar o resultado trimestral e já com números consolidados da Construtora Tenda, que acaba de ser incorporada, para que o mercado tivesse acesso a informações atualizadas sobre as condições da construtora.
"O momento (para uma oferta de ações) não é o melhor, mas o Ibovespa em 64 mil pontos é um bom patamar", disse um integrante da equipe de análise da Brava, referindo-se à recente instabilidade nos mercados acionários globais.
Volatilidade para ações
Ofertas primárias normalmente geram perdas para as ações no mercado, visto que investidores tentam reduzir o valor do papel para que sua precificação na operação seja a mais baixa possível.
"O mercado queria a oferta da Gafisa, e a tendência é de que haja uma queda de braço entre os coordenadores da oferta e o mercado", observou Hees, da Brascan.
Às 16h32 (horário de Brasília), as ações da Gafisa subiam 1,98%, a R$ 24,67, enquanto o Ibovespa, no mesmo horário, avançava 2,56%. Os papéis de Cyrela Brazil Realty e Rossi avançavam em ritmo mais forte, com altas de 4,45% e de 3,70%, respectivamente.
O valor efetivo por ação na oferta da Gafisa será fixado de acordo com as condições do mercado durante o período de precificação.
Segundo o diretor financeiro da Gafisa, a meta de lançamentos pela empresa de 4 bilhões a 5 bilhões em 2010 é factível mesmo se a oferta de ações não for bem-sucedida. Para o analista da Brascan, porém, a companhia "já parte da premissa que terá sucesso na oferta de ações".
(Por Carolina Marcondes)