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Gigante gaúcha Tramontina estreia na internet das coisas aos 110 anos

Primeira novidade no segmento é um cooktop que ajuda o dono a não errar na hora de cozinhar; empresa que fatura R$ 10 bilhões ao ano prepara sucessão em 2022

Foto do author Fernando Scheller
Foto do author Fernanda Guimarães
Por Fernando Scheller e Fernanda Guimarães
Atualização:

Aos 110 anos, a Tramontina é mais conhecida pelos talheres, mas, ao longo do tempo, passou a fabricar os mais variados produtos: panelas, ferramentas, mesas, sofás, coifas e até mesmo pequenos veículos elétricos. Na pandemia, com as pessoas dentro de casa, a gigante gaúcha deu um salto: sua receita aumentou 20% neste ano, para R$ 10 bilhões. E agora a empresa se aventura em uma nova área: a internet das coisas.

Um “inteligente” cooktop (boca de fogão) que pode ser usado com o auxílio de um smartphone será o lançamento da companhia em dezembro. A novidade foi desenvolvida dentro de casa e testada por Clóvis Tramontina, membro de uma das famílias sócias do negócio e presidente da gigante industrial há 30 anos. Tramontina disse ter conseguido terminar um espaguete a carbonara com a novidade.

Clóvis Tramontina vai deixar comando da Tramontina no ano que vem, após mais de 30 anos: preparação de terreno para a 4.ª geração Foto: Débora Zandonai

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O cooktop, apelidado de Guru, ainda não “fala” com o usuário – como fazem caixinhas inteligentes como a Alexa. A comunicação se dá pelo smartphone: ali, o usuário pode encontrar diversas receitas – ao colocar a panela sobre o Guru, o cozinheiro iniciante recebe dicas de peso, tempero e cozimento. Além disso, será possível pedir que o cooktop “elabore” alguma receita a partir de itens disponíveis na geladeira. 

Acostumada a testar pequeno para depois dar escala a novos projeto, a Tramontina espera que o Guru seja só o primeiro passo na internet das coisas. Com o 5G, a expectativa é de que haja espaço para outros aparelhos “inteligentes”. 

A busca de novos mercados não se resume ao Guru. A Tramontina está prestes a colocar os dois pés no segmento de porcelana. Depois de um tempo trabalhando com importados, a companhia decidiu estampar o próprio nome em conjuntos de jantar. E para isso construiu uma fábrica, a ser inaugurada em Pernambuco em 2022.

Sucessão

A companhia também prepara uma sucessão para 2022. Aos 65 anos, Clóvis Tramontina, no cargo desde 1990, dá lugar ao sócio Eduardo Scomazzon, hoje vice-presidente. Será uma forma de intercalar o poder das duas famílias que controlam a empresa gaúcha desde o fim dos anos 1940.

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Scomazzon, contemporâneo de Tramontina, vai preparar o terreno para a quarta geração assumir o poder. E o candidato natural é Marcos Tramontina, de 36 anos, atual diretor financeiro e filho de Clóvis.

A Tramontina faz parte do rol de empresas brasileiras que conseguem crescer sem ter de diluir o poder dos fundadores. Até agora, diz Clóvis Tramontina, a empresa tem conseguido crescer com caixa próprio e empréstimos que refletem seu histórico de boa pagadora. 

Para a presidente da consultoria AGR, Ana Paula Tozzi, a Tramontina mostra que as empresas familiares não ficam, necessariamente, paradas no tempo. “A diversificação faz parte do ponto-chave do crescimento da empresa. Empresas familiares bem administradas são muito poderosas.”

Boa parte das novidades da Tramontina é desenvolvida dentro de casa. O cooktop, por exemplo, foi criado na unidade de Carlos Barbosa (RS). Essa área é liderada por Riccardo Bianchi, que está na Tramontina há 35 anos. O pai de Bianchi também trabalhou na empresa, tendo ajudado a fundar a planta de Farroupilha, nos anos 1970.

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Buscar novidades também resulta em fracassos. Nos anos 1980, por exemplo, a empresa decidiu fabricar artigos para pesca. “Compramos terreno, fizemos fábrica, um projeto maravilhoso”, lembra Clóvis. Pouco depois, com a abertura da economia brasileira pelo governo Collor, o cenário virou. “A partir daí passamos a ter o pior produto do mercado – e também o mais caro”, conta. Resultado: a área foi encerrada. 

De saída

A decisão de deixar o comando da empresa foi tomada durante a quarentena. “A vida é finita”, diz Clovis Tramontina, que em 1986 foi diagnosticado com esclerose múltipla e, mesmo assim, seguiu firme no comando da empresa. “Tenho limitações”, afirma. Mas isso não quer dizer que ele vá parar de vez. Para 2022, ele já conversa com universidades para preparar um curso de liderança. É mais um mercado para o qual ele vê potencial. “O Brasil hoje precisa de líderes, na política e na economia.” 

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Sem parar

  • Diversificação

Inaugurada em 1911, a Tramontina começou fabricando apenas um produto: um canivete; desde então, vem buscando a diversificação de seu portfólio, que hoje inclui 22 mil itens

  • Expansão

A companhia tem hoje dez fábricas – na conta, já entra a nova unidade de porcelanas, a ser inaugurada no ano que vem em Recife (PE)

  • Tradição

A empresa emprega 10 mil funcionários, sendo que 20% deles trabalham há mais de 20 anos no negócio

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  • De olho no exterior

A companhia atua no mercado externo desde 1969. Hoje, seus produtos estão em cerca de 120 países e representam 30% de seu faturamento anual

  • Distribuição própria

Embora a empresa ainda distribua principalmente no mercado multimarcas, também mantém um projeto de varejo – são 14 lojas próprias no Brasil e 11 no exterior, além de duas unidades anexas a fábricas

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