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Governo estuda capitalizar Petrobras com ativos do pré-sal

Por Denise Luna (Broadcast)
Atualização:

O aumento da participação do governo no capital da Petrobras para garantir a posse do pré-sal ganha cada vez mais corpo junto a interlocutores do presidente Lula, mas o aporte seria feito com ativos da União e não com recursos, como vem sendo especulado. "Isso é uma idéia que está sendo pensada para o pré-sal, um aporte não de dinheiro, mas de ativos da União", disse uma fonte próxima às negociações que pediu para não ser identificada. A opção evitaria o desembolso do governo e um eventual atraso na exploração das reservas, o que aconteceria se a discussão sobre o pré-sal tivesse que passar por mudanças regulatórias e, consequentemente, pelo Congresso Nacional. A idéia seria manter o atual modelo de concessões, mas com o governo mais poderoso dentro da estatal e a cobrança de taxas maiores pela produção no pré-sal, uma área que se estende do Espírito Santo a Santa Catarina e que pode conter bilhões de barris da commodity. A moeda de troca do governo pelas ações da companhia seria o petróleo contido nos campos ainda não licitados do pré-sal, e que podem estar unidos aos já descobertos. "A parte que extrapola o limite do bloco (da bacia de Santos) entra em áreas não licitadas e pertence à União. A União pode usar como ativo para aportar na Petrobras", explicou a fonte. Segundo a fonte, a idéia foi apresentada pelo presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, na reunião de terça-feira da comissão interministerial. "Lá no futuro, quando estiver confirmado (óleo nos campos não licitados), isso teria um valor, então isso pode ser entregue à Petrobras como aporte de capital, uma troca onde o governo receberia ações da Petrobras em vez de ficar com as reservas de petróleo", explicou a fonte, que descartou que a empresa esteja pensando em emitir ações no momento. Na semana passada, Gabrielli afirmou a jornalistas que a estatal estava estudando, mas não planejando, emitir ações. [ID:nN22513101] O plano de negócios da estatal para o período 2009-2013, que terá investimentos na área do pré-sal, antes previsto para setembro, foi transferido para outubro, segundo a fonte. AÇÕES AFETADAS Apesar de resolver um problema de caixa do governo, que teria que desembolsar uma soma elevada para capitalizar a empresa para aumentar sua participação, a estratégia não seria bem recebida pelo mercado acionário, já que iria se configurar em um tratamento desigual entre os acionistas. "Aportando barris de petróleo na empresa fica aparentemente um indício de favorecimento ao acionista majoritário em detrimento do acionista minoritário, que só pode aportar dinheiro", avaliou Felipe Cunha, do Banco Brascan. "Isso cria uma diferenciação muito grande entre o acionista minoritário e majoritário, não vejo com bons olhos essa alternativa", avaliou. As ações da Petrobras operavam em alta nesta quarta-feira, impulsionadas pela disparada do preço do petróleo em função da possibilidade de a tempestade Gustav se transformar em furacão e prejudicar a exploração petrolífera no Golfo do México. Por volta das 12h40 (horário de Brasília), os papéis preferenciais da companhia subiam 1,81 por cento, enquanto o Ibovespa tinha alta de 0,65 por cento. O comportamento das ações das empresas de petróleo normalmente segue o desempenho do preço da commodity. No caso da Petrobras, no entanto, já está sendo percebida influência negativa também das expeculações em torno do destino das reservas do pré-sal e as mudanças que serão feitas para a sua exploração. Segundo um analista de um grande banco, enquanto o preço do barril do petróleo caiu 20 por cento desde o pico de 147 dólares, em 3 de julho, as ações da Petrobras desvalorizaram 35 por cento. "Isso mostra que a desvalorização da empresa não é só a queda da commodity, é reflexo dessa discussão toda, desse disse me disse, que só atrapalha a Petrobras", afirmou o analista que pediu para não ser identificado. Pelas contas do analista, a queda de 35 por cento das ações preferenciais da Petrobras significam uma perda de valor de mercado da ordem de 190 bilhões de reais. Desse total, 20 por cento seriam em função da queda do petróleo e 15 por cento das especulações. "O que o governo conseguiu até agora foi desvalorizar a Petrobras em 80 bilhões de reais, toda essa discussão está sendo muito prejudicial à Petrobras", afirmou o analista. (Edição de Roberto Samora)

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