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Governo garante direção da Petrobras por ora; troca está decidida, dizem fontes

A substituição da diretoria da Petrobras, apesar de decidida pelo governo, não deve ser imediata, enquanto se desenvolvem as investigações da operação Lava Jato, da Polícia Federal, que indicam que a estatal poderá ter importantes perdas financeiras, dando mais munição para a oposição atacar a presidente Dilma Rousseff. A substituição da cúpula da empresa, que incluiria a saída da presidente-executiva, Maria das Graças Foster, dificilmente ocorrerá até o final deste ano, na avaliação de duas fontes do Palácio do Planalto ouvidas pela Reuters nesta segunda-feira. Uma delas disse, sob condição de anonimato, que a tendência é aguardar a investigação avançar um pouco mais para que o quadro fique mais claro. "Não acredito que a investigação vai acelerar esse processo (de troca no comando da estatal)", disse essa fonte à Reuters. Uma segunda fonte do Planalto avaliou que ainda é muito cedo para promover mudanças, até porque ainda haverá um longo processo de delação premiada nas investigações, que poderiam apontar novos envolvidos na estatal. Essa fonte admitiu que a preocupação do governo com a companhia é grande, mas que há pouco que o Executivo possa fazer no momento para reverter o quadro atual. As duas fontes trataram do tema como se a mudança no comando da empresa já estivesse definida. Mas indicaram que o melhor momento para a substituição não é agora. Graça Foster, como gosta de ser chamada a presidente da Petrobras, deixaria o cargo apesar de ter ampla confiança da presidente Dilma. As duas ainda são consideradas amigas. A proximidade delas é tamanha que Graça Foster já pernoitou no Palácio do Alvorada, convite raríssimo no círculo de amizades da presidente. Questionada sobre o assunto nesta segunda-feira por jornalistas, a presidente da Petrobras disse que não ter nenhuma informação sobre mudanças na diretoria. Graça Foster assumiu a presidência da Petrobras no início de 2012. Meses depois, deixaram a companhia Paulo Roberto Costa, que comandou por anos a diretoria de Abastecimento, e Renato Duque, que esteve à frente da divisão de Engenharia, Tecnologia e Materiais da estatal. Ambos estão no centro das investigações da Polícia Federal. Duque foi preso na última sexta-feira, no mesmo dia em que executivos de empreiteiras acabaram detidos pela Lava Jato. Costa, que após ser preso denunciou o esquema de corrupção, no âmbito da delação premiada, disse à Justiça que Duque estava envolvido nas irregularidades. Costa afirmou também que grandes empreiteiras teriam fechado contratos com a estatal por anos com sobrepreço médio de 3 por cento, e que a maior parte do dinheiro foi repassada para PT, PP e PMDB. Também está em processo de delação premiada o doleiro Alberto Yousseff, acusado de lavar dinheiro dos desvios. As ações da Petrobras ampliaram perdas nesta tarde e fecharam em queda de 4,55 por cento, no caso das preferenciais, e de 5 por cento, para as ordinárias, com o mercado preocupado sobre o impacto de denúncias de corrupção nas contas da empresa. Em teleconferência para explicar o adiamento da divulgação do balanço financeiro da estatal do terceiro trimestre, executivos informaram que a Petrobras poderá realizar eventuais baixas contábeis em seus ativos de acordo com o tamanho das propinas pagas na contratação das obras, tomando como base provas entregues à Justiça no âmbito da operação Lava Jato.

Por JEFERSON RIBEIRO
Atualização:

MAIS EXPERIÊNCIA PARA CRISES

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A primeira fonte disse à Reuters que para o lugar de Graça o governo gostaria de ter uma pessoa com vasta experiência técnica, mas que também tenha um perfil mais completo, com qualidade para gerir crises e outras frentes da estatal.

Questionado sobre a mudança no comando da estatal nesta segunda-feira, o presidente em exercício, Michel Temer, disse que Dilma deve se debruçar sobre o tema em breve.

"Isso (a mudança na diretoria) é uma coisa para o futuro", disse. "A presidenta certamente tomará deliberações agora no final do ano em relação a essa matéria", afirmou a jornalistas.

Temer ressaltou ainda que as investigações não comprometem a gestão de Graça Foster à frente da estatal.

MUDANÇA MAIS RÁPIDA

Uma terceira fonte do governo, porém, discorda da estratégia de fazer as mudanças somente depois do avanço das investigações.

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Para essa fonte, que também falou sob condição de anonimato, assim como é preciso resgatar a confiança da equipe econômica com novos nomes, na estatal uma mudança ampla poderia dar mais credibilidade ao discurso de transparência e tolerância zero com a impunidade.

"Talvez, além da carta de demissão voluntária dos ministros, faria bem ao governo ter cartas de demissão voluntária da diretoria da estatal", disse a fonte.

A substituição da diretoria, na avaliação dessa fonte, iria dar força ao discurso do governo de que não encobrirá fatos revelados pela investigação da operação Lava Jato.

Desde o início das investigações, a presidente Dilma tem dito que não interromperá as investigações, não importa quem elas atinjam.

Segundo ela, a operação da Polícia Federal será um marco para o combate à corrupção no país.

(Com reportagem adicional de Marta Nogueira)

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