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Governos compram fatia de empresas inovadoras

Estratégia de agências estaduais de fomento à inovação faz parte de pacote de benefícios para motivar companhias a permanecerem nos Estados

Por Marina Gazzoni
Atualização:

Fábrica da empresa deautomação industrial Altus, que recebeu investimento da Finep Foto: Divulgação

As agências estaduais de fomento à inovação também querem ser sócias das empresas de tecnologia. No caso delas, a estratégia faz parte do pacote de benefícios que os Estados oferecem ao setor produtivo para motivá-lo a manter – ou até instalar– a empresa nas suas divisas. 

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A Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP), por exemplo, é cotista de cinco fundos que compram participação em empresas e criou um deles – o Fundo Inovação Paulista, que tem patrimônio de R$ 105 milhões, cerca de 25% aportado pela Desenvolve SP. O restante do capital vem de outros cotistas, como o Sebrae-SP, a Fapesp e a própria Finep. “Os nossos recursos são aplicados integralmente em empresas paulistas. Queremos trazer para o Estado empresas que agreguem pesquisa e desenvolvimento a nossa matriz de produção”, disse o presidente da agência, Milton Santos.

Uma das empresas que recebeu investimento foi a Promip, de controle biológico de pragas, com sede em Engenheiro Coelho, na região de Campinas. A empresa recebeu R$ 4 milhões do fundo Inovação Paulista em troca de 30% de participação. “O que nos atraiu foi um envolvimento além do dinheiro. A empresa mudou depois da capitalização”, disse o CEO da Promip, Marcelo Poletti.

Após a entrada do fundo, a companhia formou um conselho de administração, com nomes de peso, como Leopoldo Saboya, diretor financeiro da Copersucar, e Claudia Goulart, ex-presidente da GE Healthcare na América Latina. “É um conselho consultivo”, explica Poletti. 

Criada em 2006 dentro de uma sala de 30 m² na Escola de Agricultura (Esalq) na USP de Ribeirão Preto, a Promip tem 60 funcionários e receita anual de R$ 5 milhões. A empresa montou uma biofábrica de ácaros e uma estação experimental de controle de pragas em uma área total de 6 hectares em Engenheiro Coelho, na região de Campinas. “Esse mercado vai crescer. Sem recursos, poderíamos perder o timing e ficar para trás”, explicou Poletti. 

Ele espera que parte dos cerca de US$ 11 bilhões gastos por ano no Brasil com produtos químicos para controle de pragas migrem para mercado de produtos biológicos. “Se for 5%, é um volume gigantesco”, avalia.

A Fomento Paraná, que já libera crédito para investimento, também está estruturando um fundo para comprar participações em empresas. O governo paranaense já usou do artifício no passado. Além de conceder incentivo fiscal e crédito, o Paraná bancou parte do investimento da Renault em São José dos Pinhais no fim dos anos 90 para trazer a fábrica ao Estado. 

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Até hoje o governo paranaense tem uma fatia minoritária na Renault e um assento no conselho da empresa. “O aporte de capital na empresa foi uma ação fundamental para assegurar sua instalação no Paraná. Com a Renault, veio toda uma cadeia produtiva do setor automotivo para o Paraná”, disse, em nota, a Fomento Paraná.

Parceria. O estímulo do Estado pode fazer a diferença na largada para empresas de alta tecnologia, ressalta Ozires Silva, primeiro presidente da Embraer. “Eu tentei capital privado para montar a Embraer e não consegui. A saída foi criar uma estatal e depois privatizar.”

Para o presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), Gerson Pinto, a compra de participações de agências estatais, como Finep e Desenvolve SP, em projetos inovadores não representa uma estatização das companhias. “O Brasil precisa olhar com maturidade para parcerias público-privadas de fomento à inovação. Não se trata do setor público a serviço do privado, mas do público e do privado trabalhando juntos a serviço do País.” Para ele, países que avançaram fortemente em inovação, como Estados Unidos e Coreia do Sul, têm esta relação de forma mais amadurecida.

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