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Grande importador de trigo, Brasil sente alta no preço do pão

Por ROBERTO SAMORA
Atualização:

O preço do pãozinho no Brasil já subiu em média cerca de 10 por cento no acumulado de 2008, e essa alta não dá sinais de se arrefecer nos próximos meses, com as padarias e moinhos repassando ao consumidor as cotações recordes da commodity no mercado internacional, disseram presidentes de associações do setor. O Brasil, que frequentemente figura como o maior importador mundial de trigo, enfrenta ainda uma dificuldade adicional, com seu tradicional fornecedor, a Argentina, adotando política de restrições de exportações. "Tem vários problemas: o preço internacional das commodities, devido a condições climáticas e ao aumento de consumo no mundo... O segundo problema é a nossa dependência absoluta da Argentina...", disse à Reuters o presidente da Associação Brasileira da Indústria da Panificação (Abip), Alexandre Pereira. O país importa aproximadamente 60 por cento de seu consumo anual, de 10 milhões de toneladas, sendo a maior parte da Argentina. "Esses fatores estão levando aos aumentos, e não há perspectiva de melhora no ano. As padarias estão repassando, já houve o repasse no Brasil em torno de 10 por cento no pãozinho (no acumulado do ano)", acrescentou Pereira. De acordo com o dirigente da Abip, a média do preço do pão oscilava em torno de 5,5 reais por quilo e hoje está em torno de 6 reais o quilo. Mas em algumas regiões do país o produto já vale até 8 reais por quilo. Pereira justificou a alta dizendo que, só este ano, as padarias no Brasil notaram uma elevação de preço de 30 por cento na farinha de trigo. Enquanto o pão sobe no Brasil, na Argentina os negócios para o mercado externo estão parados, porque o governo mantém suspensas as emissões de licenças para exportação, ainda avaliando questões relacionadas à oferta interna, com o objetivo de controlar a inflação. Na bolsa de Chicago, referência internacional, os preços futuros bateram recorde histórico recentemente. Pereira, dono do grupo Pão de Forno, com oito padarias em Fortaleza (CE), disse que seguiu a tendência do mercado de repassar os preços. Segundo ele, o consumidor, embora não esteja satisfeito, está entendendo os motivos do aumento. "Para nós é muito ruim, porque quando aumentamos, automaticamente cai o consumo", observou. PROMESSA QUEBRADA Já o presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Luiz Martins, lametou o fato de os argentinos não terem cumprido a promessa de reabrir as exportações para pelo menos 2 milhões de toneladas, o que leva as indústrias nacionais a já avaliarem compras em regiões onde o preço é ainda mais elevado, como Estados Unidos e Canadá. Na própria Argentina, lembrou Martins, alguns negócios feitos em fevereiro indicaram o preço do trigo a 400 dólares por tonelada, mais que o dobro dos valores registrados no mesmo mês do ano passado. "O trigo representa aos moinhos brasileiros cerca de 75 por cento do custo da farinha. Se o trigo subir, não tem condição de não subir o preço final da farinha." Em fevereiro do ano passado, os moinhos de São Paulo vendiam a tonelada de farinha, em média, a 1.032 reais por tonelada, contra 1.273 reais no mês passado. "O repasse não é total porque o mercado não permite, estamos com medo de diminuição de consumo, tenho concorrência de arroz, de mandioca...", disse Martins. Com preços internacionais elevados, a expectativa da indústria é de um aumento de 25 por cento na área plantada do Brasil este ano, o que permitiria ao país colher 5 milhões de toneladas de trigo, contra 3,8 milhões em 2007.

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