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Gripe aviária - a quem pode interessar?

Por Agencia Estado
Atualização:

Destaque nos principais meios de comunicação, tem alimentado preocupações nos mais distintos segmentos da população mundial com relação ao seu potencial de transmissão entre as pessoas. Devemos lembrar que o vírus se transmite de uma ave para outra da mesma espécie. Não existem, até agora, casos de humanos transmitindo entre si. A contaminação acontece pela convivência direta com as aves. Esta situação é comum nos países Europeus onde o inverno costuma ser muito rigoroso e também em países asiáticos e africanos, onde as questões de higiene e saúde pública encontram-se defasadas em relação ao resto do mundo. Recentemente o noticiário deu destaque para uma descoberta na Alemanha de que um gato - sim isto mesmo um "gatinho" - estaria infectado por este vírus, mas a notícia morreu no seu absurdo. A chegada da gripe na Europa levou a uma redução do consumo da carne de frango e peru, em particular na França e Itália, de 20%. Esta situação não afeta apenas os produtores das aves. Como as aves alimentam-se de rações compostas de soja, farelo e milho, observa-se no mercado internacional queda na comercialização destas commodities, afetando, ainda, um espectro maior de nossa pauta exportadora. O Brasil tem um plantel de 4,4 bilhões de aves. Cerca de 97% vivem em granjas industriais. Em todo o mundo, até o momento, não ocorreram casos de transmissão por aves vivendo nestas condições. Nossas granjas atendem a todos os quesitos da OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal). Existem casos em que adicionalmente elas são monitoradas diariamente por agentes destacados pelos grandes importadores, sobretudo do Oriente Médio. Entram aqui, também, questões de fundo religioso, como a forma do abate. O Brasil é o maior exportador de carne de frango, com 2,762 milhões de toneladas em 2005. Este esforço resultou numa receita de US$ 3,5 bilhões no último ano. Para manter este ritmo de aceitação - desde novembro de 2005 - os produtores de frango estão segregando a produção e o abate das aves em um mesmo estado. Desta forma suspendeu-se o trânsito das aves criadas pelas granjas. Anteriormente elas eram criadas em um estado e abatidas em outro. Existem mais 6.500 granjas dentro deste processo, que contribuem com cerca de 370 milhões de cabeças para o abate mensal. Para tornar-se menos vulnerável no mercado internacional precisamos evoluir para o mercado de carne processada, que hoje representa apenas 1% do mercado total de exportação. Nossos produtores estão também articulando um fundo de R$ 20 milhões de reais para indenização no caso de eliminação de plantel sob suspeita. Complementando estas medidas, a Coordenadoria Sanitária Avícola pretende atualizar o cadastro de todas as granjas, monitorá-las via satélite e realizar levantamento soroepidemiológico dos frangos no país. Deverão ser investidos ainda R$ 100 milhões do Ministério da Agricultura no reaparelhamento da rede laboratorial, na criação de barreiras sanitárias, na capacitação de técnicos, adoção de medidas de caráter educativo e produção de vacinas. Muito se tem alarmado o consumidor com relação ao consumo da carne, porém devemos entender que o vírus não resiste a fase de congelamento, etapa indispensável nos casos de processamento para o consumo nas cidades. Este processo inclui 97% da carne produzida no Brasil e que chega ao mercado. Nos restantes 3% que compõe as chamadas criações domesticas, o vírus morre no preparo do alimento no fogo. Portanto com absoluta certeza podemos dizer que a transmissão pelo consumo da carne é impossível, a menos que se coma a carne crua, mas este não é um hábito alimentar em todo o mundo, ao contrário do peixe. Infelizmente é o velho chavão: criar dificuldades para obter facilidades. Lendo-se muitas das notícias, somos levados a crer que com a chegada do inverno teremos uma explosão de gripe na América do Sul. Outros preferem falar que com o início da Copa do Mundo, muita gente vai viajar para a Europa, e em conseqüência disto a gripe vai se espalhar mundo afora, podendo atingir cerca de 40 milhões de pessoas. Embora as estatísticas não sejam muito precisas, o que temos hoje, é que cerca de 18.000 pessoas tiveram contato com este vírus e que os falecimentos por esse motivo giram em torno de 150, o que prova até aqui a eficácia dos medicamentos existentes. O alerta e a prevenção são sempre necessários e oportunos, mas o alarmismo junto a população não é uma atitude eticamente recomendável. Por isto é que nos vemos no direito de perguntar a quem interessa o contexto em que o assunto vem se desenvolvendo, na medida que não informa corretamente a população, estimula a insegurança, causa prejuízos aos produtores, não promove a profilaxia, coloca governos em situações embaraçosas, não impede a propagação do vírus, excita a imaginação em direção a uma pandemia generalizada, ou seja, nos guia a cada dia para uma zona de insegurança, carecendo de bases e conceitos objetivos. Um eterno desenrolar do "achismo", técnica praticada por aqui com desenvoltura e agora com uma versão em nível internacional.

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