PUBLICIDADE

Grupo Caoa compra 50% da chinesa Chery no Brasil por US$ 60 milhões

Empresa brasileira, que fabrica parte do portfólio da Hyundai no País e é dona de concessionárias de três marcas, vai atuar tanto na produção quanto na distribuição da companhia chinesa; hoje, fábrica da Chery, em Jacareí (SP), opera com alta ociosidade

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller e Tião Oliveira
Atualização:

O grupo Caoa, que é dono de concessionárias de três marcas e produz automóveis da Hyundai em Anápolis (GO), decidiu apostar no crescimento da chinesa Chery no Brasil. A empresa brasileira adquiriu 50% da operação local da montadora chinesa, conforme acordo anunciado neste sábado, 11. A companhia pagará cerca de US$ 60 milhões pelo negócio, que inclui uma fábrica na cidade paulista de Jacareí e a rede de revendas.

PUBLICIDADE

++Caoa realiza leilão de dez unidades do Tucson

Inaugurada em junho de 2014, pouco antes da eclosão da crise econômica que fez o Produto Interno Bruto (PIB) recuar nos três anos seguintes, a fábrica da Chery consumiu US$ 400 milhões em investimentos e tem capacidade para produzir até 50 mil carros por ano. A companhia, no entanto, nunca chegou a montar mais de 10 mil unidades ao ano. A Chery buscava um sócio para a operação brasileira desde o início do ano passado.

Correia, da Caoa: marca chinesa poderá ser opção de acesso a categorias de valor agregado a custo competitivo. Foto: PATRICIA CRUZ/ESTADÃO

A Caoa começou a negociar a parceria com os chineses ainda em 2016, conta o presidente do grupo, Mauro Correia. Depois de um período em que as conversas foram interrompidas, as partes voltaram a se falar neste ano. Entre idas e vindas, o executivo diz que as conversas levaram menos de 18 meses, o que ele considera um período curto para um acordo desse porte. A nova empresa passará a se chamar Caoa Chery.

Correia espera que o conhecimento que a Caoa tem do mercado local possa ajudá-la a concretizar projetos que a Chery, sozinha, não conseguiu levar adiante. Além de produzir carros da Hyundai, a companhia nacional tem concessionárias da marca coreana, da japonesa Subaru e da americana Ford.

Planos. De acordo com Correia, os planos para os próximos anos são ambiciosos: o objetivo da Caoa é lançar novos produtos a partir de 2018 para chegar, depois de um período de cinco anos, a uma participação de 5% no mercado brasileiro de automóveis. “Vamos complementar o portfólio e também reforçar a rede de distribuição, além de usar a nossa capacidade de marketing”, diz o executivo. “Acredito que essa meta é até conservadora.”

Atualmente, a Chery tem apenas dois modelos produzidos no Brasil: o QQ, carro mais barato do País, e o Celer. A companhia tem na manga outros produtos que teriam boa aceitação no Brasil, de acordo com Correia. Os automóveis da chinesa poderiam ser opção de bom custo-benefício para que consumidores que hoje usam carros mais básicos possam ter acesso a opções de veículos de maior valor agregado.

Publicidade

“Vamos oferecer produtos com tecnologia de ponta e design moderno para que o consumidor possa acessar uma nova categoria, a preços bem competitivos”, diz o presidente da Caoa. O executivo não revelou quais modelos pretende trazer ao Brasil, mas a própria Chery chegou a anunciar investimentos ambiciosos em projetos como o SUV Tiggo, que acabaram sendo adiados por causa da forte retração do mercado no País (leia mais no texto abaixo).

Atingir a meta de 5% de mercado faria a Chery ter uma fatia superior à exibida hoje por concorrentes como a Nissan e a Jeep – que detêm, respectivamente, 2,98% e 3,87% do total de emplacamentos de veículos, segundo o relatório da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) referente a outubro. Hoje, a liderança do setor de veículos é da americana General Motors, com 19,33%, seguida pela Ford (11,07%), Volkswagen (10,71%), Hyundai (10,31%) e Fiat (8,93%).

Produção. Além de reduzir a capacidade ociosa da unidade da Chery em Jacareí, a companhia também deverá usar parte de sua unidade em Anápolis (GO) para a produção de veículos da montadora chinesa. Correia, da Caoa, afirma que a unidade da Chery foi planejada em formato modular, o que amplia a versatilidade da produção, que permite a troca mais constante do portfólio produzido. Ou seja: é fabricado um menor número de unidades, com variedade maior de modelos.

Em relação ao desempenho geral do mercado, Correia diz preferir um crescimento moderado e constante do que um novo “pico” de produção, como o vivido pelo Brasil no início da década. Ele acredita que o setor de veículos deve fechar o ano com volume de 2,1 milhões a 2,2 milhões de unidades, com nova expansão moderada em 2018. Para que os projetos de montadoras sejam economicamente viáveis no Brasil, o executivo diz que será preciso pensar o País como plataforma de exportação.

PUBLICIDADE

Utilitário esportivo Tiggo deverá ser uma das primeiras apostas

O presidente do grupo Caoa, Mauro Correia, desconversa quando o assunto são os novos carros que a Caoa Chery produzirá no Brasil, mas afirma que a empresa oferecerá novos produtos já a partir do ano que vem. “Os novos produtos terão preços competitivos, mas não agressivos”, diz o executivo. O mais cotado para ser o primeiro a chegar é o Tiggo 2

A produção da pré-série do utilitário-esportivo teve início em julho, na fábrica de Jacareí (SP). Por ora, os carros que estão saindo da planta servem para alinhar a montagem e os processos de fabricação. Segundo as informações divulgadas pela Chery durante o Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro do ano passado, o Tiggo 2 será rival de SUVs compactos como Ford EcoSport, que parte de R$ 76.990, e Renault Duster, cuja tabela começa em R$ 69.490.

Publicidade

O Tiggo 2 será vendido no Brasil com motor 1.5 e, inicialmente, câmbio manual. A opção de transmissão automática CVT (com relações continuamente variáveis) será oferecida após alguns meses do lançamento. De série, o utilitário trará itens como airbags laterais e controle de estabilidade, entre outros.

Outra aposta da empresa sino-brasileira pode ser o sedã médio Arrizo 5, cuja estreia no País estava prevista inicialmente para o segundo semestre deste ano. O modelo, lançado no mercado chinês em março do ano passado, destaca-se pela ampla lista de equipamentos de série.

Em altaEconomia
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

Entre os destaques do veículo há sistemas como partida do motor sem uso de chave (por meio de botão), teto solar e câmbio automático CVT, que simula sete marchas no modo manual. Há ainda controle de estabilidade e um sistema multimídia que pode ser conectado à internet e funciona com informações armazenadas na nuvem.

Tanto o Tiggo 2 como o Arrizo 5 que foram expostos no Salão de São Paulo mostraram sensível evolução em termos de acabamento em comparação com os modelos anteriores da Chery. Em ambos, a cabine, além de bem montada, apresenta boa percepção de qualidade.

Segundo fontes ouvidas pelo Jornal do Carro, o subcompacto QQ também receberá atenção especial da Caoa Chery. Carro mais barato do Brasil, é vendido a partir de R$ 25.990. É bem menos que o preço de rivais como o Fiat Mobi (R$ 34.210) e o Renault Kwid (R$ 29.990). 

Qualidade. Correia diz que uma das metas é mostrar que os produtos da marca têm qualidade e nível tecnológico altos. Esse deverá ser o maior desafio da Caoa Chery, uma vez que o executivo admite que os carros chineses são, em geral, vistos pelo consumidor brasileiro como de baixa qualidade.

As experiências recentes de montadoras chinesas aqui não são das mais animadoras. A Geely, atual dona da sueca Volvo, chegou a estudar a construção de uma fábrica no Brasil. No entanto, acabou deixando o País em 2016, após pouco mais de dois anos de operação. Segundo um porta-voz da empresa, a alta do dólar nos últimos anos inviabilizou as operações, comandadas pelo grupo Gandini, o mesmo da coreana Kia.

Publicidade

A JAC Motors, por sua vez, teve cancelada a habilitação no Inovar-Auto pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), em junho de 2016. O programa, que buscava aumentar o número de fábricas de automóveis no País e fomentar o desenvolvimento de novas tecnologias, será substituído pelo Rota 2030 no ano que vem.

A JAC informa que protocolou no governo uma alteração no projeto original, mas não recebeu resposta. A alteração seria na fábrica, que ficaria menor e faria apenas a montagem em CKD (com peças importadas) do utilitário-esportivo T5. 

A Great Wall chegou a divulgar, em 2012, que teria uma fábrica no País, mas até agora o projeto não avançou. No ano passado, a Zotye anunciou que teria uma planta em Goianésia (GO) em 2018. Um projeto de intenções foi assinado com o governo do Estado em abril do ano passado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.