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Há risco crescente à concretização do IPCA convergindo à meta, diz BC

Ata da reunião de janeiro do Copom atribui o comportamento dos preços aos alimentos, que influenciaram negativamente a inflação

Por Fernando Nakagawa , Fabio Graner e da Agência Estado
Atualização:

A ata da primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sob a presidência de Alexandre Tombini admite que o cenário de inflação tem, atualmente, incertezas maiores que o ideal, o que coloca em xeque a trajetória da inflação. "O Copom reconhece um ambiente econômico em que prevalece nível de incerteza acima do usual, e identifica riscos crescentes à concretização de um cenário em que a inflação convirja tempestivamente para o valor central da meta", cita o documento no parágrafo 27.

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No front externo, os diretores do BC avaliam que, desde a última reunião do comitê em dezembro, "os níveis extraordinários de liquidez, a introdução de novos estímulos fiscais nos Estados Unidos e seus reflexos sobre preços de ativos apontam menor probabilidade de reversão do processo de recuperação em que se encontram as economias do G3". "Em outra perspectiva, revelam influência ainda ambígua do cenário internacional sobre o comportamento da inflação doméstica", conclui o texto.

No quadro interno, "teve seguimento a materialização de riscos de curto prazo com os quais o Copom trabalhava naquela oportunidade". Para realizar essa avaliação, os diretores do BC observam que, desde dezembro, foram anunciadas ações macroprudencias, "um instrumento rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda" e que "ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços".

"Embora as incertezas que cercam o cenário global e, em menor escala, o doméstico, não permitam identificar com clareza o grau de perenidade de pressões recentes, o Comitê avalia que o cenário prospectivo para a inflação evoluiu desfavoravelmente", completa o documento divulgado há pouco.

Alimentos

A ata da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom) reconhece que o cenário para a inflação "evoluiu desfavoravelmente" desde a reunião de dezembro. A afirmação consta no parágrafo 24 do primeiro documento produzido sob a presidência de Alexandre Tombini no Banco Central, quando a taxa básica de juros subiu de 10,75% para 11,25%. "De fato, no último trimestre do ano passado, a inflação foi forte e negativamente influenciada pela dinâmica dos preços de alimentos", cita o documento, ao lembrar que esses preços sofreram com choques de oferta no Brasil e no exterior.

O BC reconhece que esses aumentos dos preços de alimentos "tendem a ser transmitidos ao cenário prospectivo" da inflação de várias maneiras, como a inércia inflacionária e as projeções do mercado.

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Ainda no trecho 24 da ata, os diretores do BC avaliam como "relevantes" os riscos gerados pela persistência do descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda. "Note-se, também, a estreita margem de ociosidade dos fatores de produção, especialmente, de mão de obra." O documento cita que nessas circunstâncias há um risco importante na "possibilidade de concessão de aumentos nominais de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade".

Apesar do alerta, a ata do Copom lembra que há sazonalidade da inflação característica no primeiro trimestre, bem como a concentração atípica de reajustes de preços administrados também nesse período. "Embora, para o ano como um todo, o comportamento desses itens tenda a ser relativamente benigno."

O parágrafo 24 termina com a citação de que o cenário para a inflação "também contempla o potencial impacto negativo decorrente das condições climáticas extremamente adversas verificadas neste início de ano em algumas regiões do Brasil", cita o texto ao comentar que há probabilidade significativa de que pelo menos parte desse processo seja revertido durante o ano.

Cenário de referência

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A projeção oficial de inflação em 2011 feita pelo Banco Central no chamado cenário de referência subiu em relação à estimativa feita no início de dezembro e "se encontra acima do valor central de 4,5% para a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)", conforme consta na ata da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom). Em dezembro, o número já estava acima do valor central da meta. No cenário de referência, o BC leva em conta as hipóteses de manutenção da taxa de câmbio em R$ 1,70 e da taxa Selic em 10,75% ao ano em todo o horizonte relevante.

No cenário de mercado, que leva em conta as previsões de câmbio e juros coletadas pelo BC junto aos analistas, a estimativa para o IPCA em 2011 "também se elevou e se encontra acima do valor central da meta para a inflação". Para 2012, a projeção para a inflação "se encontra acima do valor central da meta" no cenário de referência e "ao redor da meta" no cenário de mercado.

Economias relevantes

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O Comitê de Política Monetária (Copom) reconhece que os preços de "importantes commodities" se elevaram desde a última reunião em dezembro. Diante dessa avaliação, os diretores do Banco Central avaliam que "a trajetória dos índices de preços mostra elevação de pressões inflacionárias em algumas economias relevantes, enquanto tendem a se exaurir preocupações com a perspectiva de deflação em outras".

No parágrafo 22, a ata trata do quadro internacional e cita que, para o Copom, "a volatilidade e a aversão ao risco permaneceram elevadas desde sua última reunião, em parte, alimentadas pelos extraordinários níveis de liquidez global e pelas perspectivas de que esse processo possa eventualmente se acentuar".

Para o BC, continuam "altas as preocupações com dívidas soberanas de países e de bancos europeus e com a possibilidade de desaceleração na China". Mas, ao mesmo tempo, cresceu a confiança "na sustentabilidade da recuperação da economia norte-americana".

(Texto atualizado às 9h56)

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