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Indefinição da UE mostra que crise fiscal não tem solução breve

Para analistas, incertezas e percepção de risco dos mercados devem continuar presentes por mais tempo

Por Daniela Milanese e da Agência Estado
Atualização:

A falta de definições concretas da União Europeia nesta quinta-feira, 11, sobre a Grécia mostra que a crise fiscal no bloco é um problema sem soluções de curto prazo. Analistas acreditam que os países do grupo ainda percorrerão um longo caminho até conseguirem colocar as contas em ordem. Como resultado, as incertezas e a percepção de risco dos mercados devem continuar presentes por mais tempo.

 

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Após reunião em Bruxelas, os líderes da UE lançaram palavras de apoio à Grécia e assumiram o compromisso de ajudar o país a resolver seus problemas fiscais. No entanto, passaram a mensagem de que o socorro financeiro não é para já. O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, disse que a solidariedade da União Europeia com a Grécia "não é necessária hoje".

 

Os investidores, como sempre, esperavam mais do que isso: queriam um plano pronto de socorro, de preferência com o valor do suporte financeiro já definido, para estancar rapidamente qualquer incerteza. O clima de decepção se abateu sobre o euro, que recua cerca de 0,80% nesta tarde, por volta de US$ 1,36.

 

Os analistas, no entanto, não contavam com decisões mais precisas, em razão da complexidade dos problemas e dos acertos necessários dentro do bloco para estruturar a ajuda. "Um problema dessa profundidade não é resolvido em duas ou três horas", disse Ana Esteves, chefe de pesquisas do Itaú Europa.

 

"Não dá para esperar muita coisa nessa fase", concorda a diretora de renda fixa do Espírito Santo Investment em Lisboa, Sandra Utsumi. "As declarações sugerem um longo processo de negociação."

 

Para Ana, o principal temor dos investidores - a possibilidade de default da Grécia - foi solucionado nesta quinta, a partir da declaração de apoio. Ou seja, a UE não deixará o país sozinho e entrará com recursos, caso e quando necessário.

 

Se a postura não será suficiente para fazer os spreads dos títulos gregos voltarem ao patamar visto há meses, ao menos não provocará nova elevação dos prêmios de risco, avalia Ana. "Há questões políticas que os mercados não consideram quando compram e vendem ativos, mas os políticos consideram quando tomam decisões."

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O economista Marco Valli, do Unicredit, acredita que os mercados agora estão mais confiantes de que a Grécia receberá suporte, se necessário. "A principal mensagem retida pelos investidores é a de que a perspectiva para os países periféricos está melhorando."

 

Sandra, do Espírito Santo Investment, avalia que não é possível ter uma acomodação rápida da situação porque os indicadores analisados em eventos envolvendo risco soberano não evoluem com agilidade. Daqui para frente, tanto a UE como os investidores acompanharão mais de perto o desempenho fiscal da Grécia.

 

Ela lembra que o socorro direto do Fundo Monetário Internacional (FMI) foi descartado, mas a entidade atuará como uma espécie de consultor técnico do processo. Como os acordos bilaterais não estão previstos na União Europeia, a Alemanha não pode simplesmente transferir recursos para a Grécia.

 

Uma das opções seria a criação de um fundo, onde todos os países do bloco fariam aportes e os recursos seriam destinados aos membros com necessidade. Uma vez que a Europa optou por não usar ajuda externa, terá de chegar a um modelo que não crie restrições legais no futuro, avalia Sandra.

 

Analistas afirmam que a crise fiscal não é só da Grécia, e nem só da Europa. Além de outros países da zona do euro, os Estados Unidos também enfrentam problemas fiscais que seguirão incomodando. Ana, do Itaú Europa, acredita que Portugal e Espanha terão de tomar medidas para domar a dívida pública, caso contrário "serão os próximos alvos". "Há um cenário global de pressão sobre os Estados", afirmou Sandra, do Espírito Santo Investment.

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