PUBLICIDADE

Publicidade

Indústria de ração também disputa trigo do RS, reduzindo oferta

Por ROBERTO SAMORA
Atualização:

Uma parte considerável do trigo do Rio Grande do Sul, onde a colheita está próxima de ser finalizada, deverá ser destinada para a produção de ração, diante de uma queda na qualidade do cereal e de uma baixa oferta de milho, em meio à forte demanda por grãos pela indústria de carnes, disseram fontes do setor. "Vamos ter problemas de abastecimento de milho. Como ninguém quer esperar chegar o problema, o pessoal está comprando trigo agora para empurrar para frente o estoque de milho", disse o corretor Marcelo de Baco, da gaúcha Agromercado, em entrevista por telefone. Baco afirmou que não é possível estimar, por ora, o volume de trigo que poderia ser destinado para ração, observando ainda que esse grão tem um mercado importante neste momento porque o Brasil está na entressafra de milho. O Rio Grande do Sul, o segundo produtor brasileiro de trigo, estima uma safra em torno de 1,4 milhão de toneladas, mas chuvas na colheita, geadas e doenças fúngicas como a giberela afetaram parte da produção, especialmente qualidades do grão valorizadas pela indústria de farinha. Os moinhos brasileiros, especialmente os gaúchos, que até poderiam utilizar algum trigo de pior qualidade do Rio Grande do Sul para misturar com um produto melhor, enfrentam ainda a concorrência de exportadores, que já contrataram vendas externas de cerca de 300 mil toneladas do produto gaúcho. O volume de trigo a ser utilizado para ração depende ainda dos preços comparativos com o milho. O trigo com qualidade para moagem ainda é cotado a 2 reais (por saca de 60 kg) acima do milho. Mas o grão de trigo é depreciado quando afetado por problemas climáticos, o que viabilizaria negócios. Segundo o técnico de trigo da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) Alex M. Chaves, a próxima estimativa do governo para o Brasil deve apresentar uma redução de no máximo 200 mil toneladas, em relação a 3,8 milhões de toneladas atualmente estimadas, devido aos problemas na safra do Rio Grande do Sul. A questão principal sobre o trigo gaúcho, disse ele, está mesmo ligada à qualidade. "A produção do Brasil deve cair para 3,7 milhões, 3,6 milhões de toneladas, mas grande parte da produção do Rio Grande do Sul vai para ração", completou. OFERTA ESCASSA Já o corretor acrescenta que, mesmo a indústria de ração, não está em situação tão confortável, considerando que a oferta de trigo de qualidade está escassa no mundo, ainda mais após notícias de problemas da safra de trigo da Argentina, tradicional fornecedor do Brasil. "Diante disso, pode até acontecer uma retomada das exportações do Rio Grande do Sul, isso depende de uma flexibilização dos padrões de qualidade do importador", observou Baco, lembrando que para alguns países que produzem o pão ázimo o trigo gaúcho, mesmo com problemas, poderia servir. O diretor-geral da Emater, o órgão de assistência técnica do Rio Grande do Sul, Paulo Edgar da Silva, acrescentou: "Tivemos bastante chuva (na colheita) e isso prejudicou a qualidade do grão. Pouco trigo passou de 78 (o PH, peso hectolitro), a maior parte foi abaixo de 78." "Como o que tem de trigo de qualidade os exportadores estão pegando, vai faltar trigo de qualidade. O trigo de baixa qualidade vai para ração", disse o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih, em recente entrevista.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.